Série Antonio Parreiras, capítulo 3
Maior artista niteroiense da virada dos séculos XIX e XX, o paisagista Antonio Parreiras buscava, além da força incontrolável da natureza em seus quadros, mostrar detalhes pouco conhecidos de sua cidade natal. De fato, Parreiras era uma artista identificado e apaixonado por sua cidade, sua história e paisagem.
Já um pintor reconhecido, aceitava criar simples estandartes para instituições locais, como o Clube Carnavalesco Mephistopheles, o Gremio Litterario Guanabarense e o Lyceu de Hummanidade, entre outros. Parreiras também era reconhecido por ser um pintor incansável, produzia sem parar quadros que preenchiam, muitas vezes, uma parede inteira.
O poeta Alfredo Azamor, já citado no capítulo anterior, acompanhou muito de perto o início da carreira de Parreiras, em sua coluna 'Kaleidoscopio', no Jornal O Fluminense. Em uma delas, nos trouxe a presença desses marcantes traços no desenvolvimento artístico do pintor:
"É tão raro que um brazileiro arrisque-se á vida escabrosa das bellas-artes, aos sacrificios de um estudo quasi sem proveitos que merece todos os applausos aquelle que se apresenta atrevido e cheio de força, na arena do trabalho artístico. Em menos de um anno de estudo e pratica, tem Antonio Parreiras aproveitado tanto que já pode fazer uma exposição de seus quadros que orçam por uns quarenta. Esse jovem pintor, de quem Nictheroy se deve orgulhar de ter sido berço, é paysagista e tem uma decidida vocação para a arte. É patriota, e mais do que patriota, é bairrista. O habitante de Nictheroy, acostumado a observar suas bellezas naturaes, ao entrar na officina de Antonio Parreiras, não precisa perguntar pelo titulo dos quadros; vae vendo-os e nomeando-os: 'A ilha do Cajú'; o 'Rio Santo Antonio'; 'A Ponta do Gragoatá'; o 'Maruy-pequeno'; a 'restinga de Icarahy'; a 'Rua Diamantina'; o 'Rochedo da Boa-Viagem'; a 'Rua do Pau Ferro', etc, etc. (O Fluminense, 25 de janeiro de 1885).
Em março, o mesmo Azamor discorria sobre o trabalho incansável do pintor e sua paixão pela natureza bruta:
"Dois novos quadros acaba de produzir o esperançoso artista Antonio Parreiras: duas copias da natureza brazileira, da luxuriosa vegetação brazileira e o explendido verde desse excepcional paiz. Nasceu hontem o artista e absorveu já o homem. Antonio Parreiras só trabalha, só conversa, só pensa, em quadros e paysagens novas. Honra ao trabalho e gloria ao artista." (O Fluminense, 15 de março de 1885).
Em 28 de junho, anotou: "Antonio Parreiras acaba de dar a ultima pincelada á "Restinga de Icarahy", excellente paysagem onde revella o seu progresso artistico e seu amor ao trabalho. Parabens ao infatigavel operario. (O Fluminense, 28 de junho de 1885).
Após uma temporada de dois anos de estudos na Europa, em sua volta Parreiras recebeu do Governo do Estado do Rio de Janeiro uma encomenda glamourosa, que teve o pendão de carimbar definitivamente seu nome no panteão dos grandes artistas do país. Um quadro para representar a então capital do Estado na famosa Exposição Universal Colombiana de Chicago. Sobre essa obra, que ilustra esse capítulo da série, escreveu o jornal carioca "Gazeta de Notícias", em editorial recheado de elogios ao nosso homenageado.
"É um quadro com quatro metros de largo, que o Governo do Estado do Rio de Janeiro encommendou ao distincto paizagista Antonio Parreiras, para figurar a futura Exposição Columbiana. O quadro tem, portanto, preoccupações de mostrar a fazenda aos estrangeiros com todos os requintes, com toda as seduções de uma natureza bella, luxuriante, variada, realçada por uma atmosphera de circumstancias, por uma vegetação limpa e luzidia, como apparece nos dias de sol, que se seguem immediatamente aos de chuva teimosa e impertinente. [] Portanto, o Sr. Parreiras pintou um panorama, que se contempla com prazer, sentado n'uma cadeira, e que, na América do Norte, com o prestigio que todas as pinturas e todas as photographias dão ao natural, fará figura de uma cidade notavel sob todos os aspectos, batida sob as virações do mar, assombreada por uma vegetação densa e fechada, com ruas calçadas magnificamente e admiravelmente policiadas, linhas de bonds cortando-a em todos os sentidos; enfim, tudo quanto a imaginação exaltada do espectador suggerir; porque, diante de um quadro panoramico, vê-se tudo quanto fez o pintor e tudo o mais em que o completa a nossa imaginação. Resumindo: em Chicago, a capital do Estado do Rio de Janeiro fica admiravel e pomposamente representada com o quadro do paizagista Antonio Parreiras; no Rio de Janeiro, a paizagem nacional fica com mais um bom exemplar. " (Gazeta de Notícias, 27 de junho de 1892)
Acho que não precisamos dizer mais nada por hoje. Apenas que, sim, Niterói tem muito o que se orgulhar de Antônio Parreiras.
"Panorama de Niterói", 1892, óleo sobre tela, pertence ao acervo do Museu Antônio Parreiras, em Niterói. Tem 2m42 de altura por 3m42 de comprimento. O Museu, no entanto, encontra-se fechado, em obras.
A Exposição Universal Colombiana de Chicago, como o próprio nome diz, fez parte das comemorações dos 400 anos de descoberta da América por Cristóvão Colombo. Era para ter sido realizada em 1892, mas seus organizadores não conseguiram viabilizá-la em tempo.
Série Histórica Antonio Parreiras
Capítulo 1 - O Panno de Bocca do Santa Thereza
Capítulo 2 - A Foz do Rio Icarahy
Capítulo 3 - O Barrista
Capítulo 4 - Os preparativos para a imersão na Europa
"Panorama de Niterói", 1892 - Óleo sobre tela de Antonio Parreiras - A 242,5 cm x L 342 cm - Acervo do Museu Antonio Parreira - Fotografia Flávio Ribeiro
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