Por Jefferson Ávila Júnior
Extensa é a lista de autógrafos (cartas, cartões de visita, cartões, postais, dedicatórias em livros, quadros, desenhos, etc.), colecionados por Antonio Parreiras. Extensa, rica, variadíssima, atestando bem a projeção do nome do artista em todos os meios culturais do país e até do estrangeiro.
Parreiras foi talvez o único pintor brasileiro a escrever as suas memórias, publicando-as em 1926, em volume impresso em Niterói. Orçava então pelos 66 janeiros e estava longe de ser um estreante, um neófito no mundo das letras, pois era membro da Academia de seu Estado natal. Durante a mocidade fizera o jornalismo ativo, especializado, de crítica de arte, no Rio e em São Paulo. E anteriormente, em Veneza, quando da sua primeira viagem à Europa, entreteve curiosa polêmica, na imprensa daquela cidade, defendendo a imigração italiana para o Brasil.
Mais tarde, nos anos de 1890, 91 e seguintes, bateu-se, ao lado de Carlos de Laet, Oscar Rosas, Ribeiro e outros contra a reforma da Escola de Belas Artes. Em 1895 entrava para o corpo de colaboradores efetivos de "O Estado de São Paulo", e daí para diante, ora assinando o próprio nome, ora o pseudônimo "La Vigne", nunca mais perdeu o contacto com a imprensa.
Conferencista, deleitou muito auditório seleto. Não foi um erudito a Porto Alegre ou a Pedro Américo, mas, talvez por isso mesmo, é que suas palestras encantavam tanto. Constituíam verdadeiro espetáculo, quer pelo conteúdo, quer pela dicção, que era perfeita.
Mas, voltemos aos autógrafos. Quando expôs a paisagem "Sertaneja", em 1896, Parreiras distribuiu à guisa de catálogo da Exposição que compreendia também outros quadros seus e de discípulos da Escola do Ar Livre, uma verdadeira polianteia em prosa e verso.
Arquivou, depois, cuidadosamente, os originais, que eram de Olavo Bilac, Guimarães Passos, Valentin Magalhães, Pereira da Silva, Arthur Azevedo, Alberto Silva, Adelina Amelia Lopes Vieira, Oscar Rosas, Aurélio de Figueiredo, Ibrantina Cardona, B. Lopes e Coelho Neto.
Como que data daí a preciosa coleção de autógrafos deixada pelo artista, que os selecionou em seus últimos anos de vida, anotando do próprio punho, nas sobrecartas em que os ia guardando: de fulano, de beltrano. São, em rápida resenha, autógrafos de historiadores, ensaístas como Rocha Pombo, Oliveira Lima, Max Fleuiss, Escragnole Doria, Conde de Afonso Celso, Ernesto Pena, Miguel Couto; poetas como Alberto de Oliveira, Belmiro Braga, Catulo da Paixão Cearense, além dos já citados: arquitetos como A. Morales de los Rios e Arquimedes Memória; musicistas como Alberto Nepomuceno; atores como Chaby Pinheiro; diplomatas como o embaixador Sousa Dantas, ministro Leão Veloso, Joaquim Eulálio; jornalistas, críticos de arte, romancistas, como João do Rio com aquele irritante cartão de visitas "de l'Academie Brasiliene et de l'Institut de Geographie et d'Histoire", Araripe Junior, Gonzaga Duque, Coelho Neto, Julia Lopes de Almeida, Severiano de Resende, João Luzo, Claudio de Souza, Medeiros e Albuquerque, Carlos Dias Fernandes, José Mariano Filho, Mario Sette, Monteiro Lobato, Elmano Cardim, Gastão Penalva, Carlos Góes, Phocion Serpa, Silvio Júlio, Anibal Matos, Lucilio Varejão, Emilio Kemp, Mário Travassos, Manoel Leirós, Tapajós Gomes, Lacerda Nogueira, Fabio Luz, Perez Junior, Cândido de Campos, Celso Kelly, Horácio Cartier, Nogueira da Silva, Raul Pederneiras, Augusto Rodrigues, etc., além dos franceses Victor Orban, Charles Normandy, Henri Revers e Pierre Scise.
Dentre os autógrafos de homens públicos destacam-se os de Arthur Lemos, venerável mecenas paraense: Serzedelo Corrêa, Nilo Peçanha, Hermes da Fonseca, Feliciano Sodré, Felix Pacheco, Epitácio Pessoa, Afonso de Camargo, Camilo de Holanda, Washington Luiz, Simões Filho, Melo Viana, Raul Fernandes. De Estácio Coimbra, há uma dedicatória (Recife, 7-1-1908), oferecendo ao artista o livro de Oliveira Lima "Pernambuco, seu desenvolvimento histórico".
De artistas plásticos nacionais e estrangeiros a abundância de autógrafos é tal que justifica um estudo à parte e que oportunamente nos propomos a fazer.
'Os Invasores', de Parreiras, acervo do Museu Antonio Parreiras.
Voltando aos autógrafos, não vamos privar os leitores do conhecimento de alguns dos mais preciosos guardados por Parreiras. Veja-se, por exemplo, esta dedicatória de Alberto de Oliveira, no volume da quarta série de "Poesias", edição da livraria Alves, 1927: "A Antonio Parreiras, em sua glória lembrando-o e minha saudade, como companheiro dos melhores dias da minha juventude".
Ou então esta carta, tão íntima, de Rodrigo Otávio, agradecendo a remessa de "História de um pintor) (1.ª edição): "Venho agradecer o amável oferecimento de sua "História de um pintor". Li essas páginas simples e cheias de emoção com viva saudade. Sou dos que o viram nascer para a glória e tenho ainda em minha sala, num pequeno quadrinho, um pequeno desenho a pena, de 1893, feito num convite para uma de suas primeiras exposições na sala do velho Pacheco..." e depois, de uma referência magoada ao "triste fim de Ribeiro, de quem, por vezes, se lembrava, curioso de saber que destino o tinha levado", termina comovido: "Vou recolher seu livro a um canto particularmente estimado de minha estante, onde ficará em boa companhia".
Publicado originalmnte na Revista Guanabara, em Dezembro de 1948, por Jefferson Avila Junior, então diretor do Museu Antonio Parreiras, em Niterói. Na imagem de Capa, a marinha 'Tormenta' (1905), de Parreiras, com paisagem de Cabo Frio.
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