Debatida por historiadores e difícil de ser demonstrada por falta de documentação, a origem do teatro brasileiro, não obstante, passa por Niterói. A representação de "O Auto da Pregação Universal e o Mistério de Deus", encenada por jesuítas e indígenas, em 1567, по adro da Igreja de São Lourenço, é considerada por muitos a primeira manifestação teatral eminentemente brasileira.
Não se discute que a ritualística dos nativos brasileiros tinha muito de teatro, coisa que a catequese jesuíta soube aproveitar muito bem. Baseado na "História da Companhia de Jesus", do Padre Serafim Leite, o historiador Galante de Souza fez uma cronologia que coloca esta representação como uma das vinte primeiras manifestações teatrais no Brasil. Segundo ele, no entanto, ela teria se dado em 10 de agosto de 1586 com o título "Auto de São Lourenço". No entanto, não há fontes confiáveis para confirmar tais informações.
O período que se segue também não produziu documentação relativa à atividade teatral: período de consolidação da colonização, guerras de conquistas e invasões, nada convidativo à atividade teatral. Na realidade, o que se pode comprovar é que o aparecimento do teatro, nos moldes oficiais nas terras hoje conhecidas como Niterói, se dá em 1827, com a criação da Sociedade do Theatrinho, uma iniciativa de Joaquim Antônio Carreira Bacelar, Alexandre Pinto de Carvalho e André Moura Velho.
Mas, considerando-se que teatro não se dá apenas no interior de prédios específicos para este fim, toda uma história do teatro popular ficou classificada como festejos populares. Sabe-se que todo acontecimento de maior importância era comemorado com manifestações teatrais de rua. Como, por exemplo, na vinda de D. João VI, em 1816, à vila de São Domingos e Praia Grande, onde permaneceu por 30 dias, o povo armou um palco no Campo de Dona Helena (atual Praça do Rink). Mas o que se deu naquele palco não se noticiou. Os jornais respeitaram o luto de D. João VI pela morte de sua mãe D. Maria I.
Coincidentemente ou não é na rua que liga o então Campo de Dona Helena à Rua da Praia que a Sociedade do Theatrinho instalou, em 1827, o prédio que mais tarde se chamou Theatro da Praia Grande, depois Nictheroyense, em 1935. Foi lá que, em dezembro de 1833, o ator João Caetano dos Santos estreou a primeira companhia eminentemente nacional, o que para muitos historiadores, como Lafayette Silva, representa o nascimento do Teatro Nacional.
No prédio adquirido em 1842 por João Caetano e reinaugurado após obras de reconstrução, com o nome Santa Thereza, o teatro em Niterói viveu grandes momentos com o Talma Brasileiro, que ali interpretou peças como "Inês de Castro", "Camila", "Os sete pecados capitais" e até "Hamlet", de Shakespeare, e tantas outras representações que contavam eventualmente com a presença do Imperador.
Após o falecimento de João Caetano e reconstruído em 1884, sob a liderança do maestro italiano, radicado em Niterói, Felício Tati, o Santa Thereza foi municipalizado e, em 1900, rebatizado Theatro Municipal João Caetano. Este mesmo que vemos hoje, restaurado por uma equipe liderada por Cláudio Valério Teixeira, na Rua XV de Novembro, nº 35.
De João Caetano até experiências como o Teatro Mambembe, em 1964, a experiência teatral em Niterói é rica e vitoriosa, se levarmos em conta os problemas "seculares" como o da evasão do público para o Rio de Janeiro e a histórica carência de palcos alternativos para atuar, levando-se em conta os muitos problemas que enfrentou o Theatro Municipal ao longo da segunda metade do século XX.
Dos muitos grêmios amadores de Niterói nasceram nomes como Leopoldo Froes, Jardel Jércolis, Martins Veiga, José Carlos da Costa Velho, Lyad de Almeida, Isaac Bardavid, Carlos Couto, Lyad de Almeida, Cristina Fracho, Eduardo Roessler e muitos outros. Em nossa cidade, ainda no século XIX, funcionaram também teatros como o Eliseu, o Santo Antônio e o Phênix Nictheroyense.
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Movimentos de base como a Atacen (Associação dos Trabalhadores em Artes Cênicas de Niterói) e o MOTIN (Movimento Organizado Independente de Niterói), a municipalização do antigo Teatro Alvorada, rebatizado Leopoldo Fróes, fundamental para a revitalização do teatro infantil nas décadas de 1970 e 80, e a inauguração de alguns teatros particulares, ajudaram a consolidar o renascimento do teatro na cidade, consolidado que foi com as obras de restauro do Municipal, reinaugurado em 1995, além da construção do Teatro Popular Oscar Niemeyer e da Sala Nelson Pereira dos Santos, já nas primeiras décadas do século XXI.
por Alexandre Porto
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