Deve inaugurar-se hoje, 8 de agosto de 1884, à noite, o Theatro Santa Thereza, construído por iniciativa de uma companhia especialmente organizada para esse fim e que teve a fortuna de conter em seu grêmio, um obreiro do progresso e da força do Sr. Felício Tati.
São indescritíveis as contingências em que se viu a companhia várias vezes, tendo sempre no Sr. Tati um espírito forte e perseverante, um ente a que a máxima contrariedade não fazia nem sequer estremecer.
Quando os mais decididos se mostravam irresolutos; quando os mais possantes sentiam faltar-lhes a força, aquele que se tinha possuído da ideia de levar por diante a obra não recuava e com uma abnegação de todos os momentos, sabia dar remédio aos males, conjurar as calamidades.
É justo que entre os beneméritos cidadãos que formam a diretoria, que entre todos enfim que direta ou indiretamente concorreram para ser levada à efeito a obra, se distinga o nome simpático de Felício Tati. É o que ora fazemos, certos de que isso é exigido pela justiça.
Sem dúvida alguma, a inauguração do teatro é um caso que deve alegrar esta capital, que não possuía um dos atestados mais significativos do adiantamento de sua civilização. Existia apenas um teatro provisório, que prestou incontestavelmente muitos serviços, mas que não tinha sido convenientemente preparado.
O que se acaba de construir, tem todos os melhoramentos modernos e capacidade necessária para a nossa população que frequenta divertimentos teatrais. Serão nele representadas as principais peças que se exibirem na Corte, tendo assim o público, sem grande incômodo, ocasião de andar em dia com o movimento da arte dramática.
Certamente no presente nada temos que invejar neste ponto a respeito da Corte, pois que possuímos um teatro magnífico, igual aos melhores que lá existem construídos pelo sistema moderno. Os preços ordinários para a entrada são razoáveis, o que é mais um penhor para que haja boa frequência.
Não podemos deixar de dirigir as nossas saudações aos distintos cidadãos que formam a diretoria da companhia, bem como os nossos parabéns ao povo niteroiense pelo benefício de que vão gozar.
Em todo o tempo, quando se tirarem as vantagens reais do estabelecimento do teatro, o Sr. Felício Tati, quando não tenha outra remuneração, pelo menos gozará a de ter sido um estrangeiro útil, que teve a perseverança de levar à efeito uma obra que parecia impossível ultimar.
O levantamento do teatro de que temos tratado é mais uma manifestação pujante do poder da vontade, tão endeusado por Samuel Smiles*.
Samuel Smiles (1812-1904) foi um escritor e um reformador britânico, conhecido sobretudo por ter escrito livros que exaltam as virtudes da autoajuda e biografias enaltecendo os feitos de engenheiros heróicos. Ele selecionou os tópicos das suas biografias como modo de enfatizar as suas teses da autoajuda. Estas obras são um vivo exemplo dos valores da sociedade Vitoriana para o leitor de hoje.
Pesquisa e edição: Alexandre Porto
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