Tipógrafo de formação, Alberto Vítor foi um dos mais atuantes personagens da cena teatral de Niterói na segunda metade do século XIX, tendo atuado como ator e diretor em diversos clubes dramáticos, em especial o Kean e o Nictheroyense. Com consistente atual política, foi vereador na cidade e a campanha abolicionista encontrou nele um dos mais dedicados e respeitados combatentes.
Alberto Vítor Gonçalves da Fonseca era mineiro da cidade de Campanha, onde nasceu em 15 de junho de 1841. Radicado em Niterói por volta de 1860, era filho de Domingos Gonçalves da Fonseca e Maria Carlota de Jesus Fonseca; irmão de Augusto Zacarias da Fonseca e Costa, Previsto Colúmbia da Fonseca e Wisland Gonçalves da Fonseca. Funcionário da Oficina Tipográfica da Imprensa Nacional, foi um atuante líder dos trabalhadores do setor.
Recém chegado a Niterói, em 1860 tornou-se secretário da Sociedade Beneficência dos Artistas Nacionais. Fundou em 1864 a Sociedade Dramática João Caetano e em 1871 o
Clube Dramático Nictheroyense, no qual apresentou, nos Teatros Santo Antônio e Phenix Niteroiense, textos como "A Escrava Andréa", "Amor e Arte" e "Ditoso Fado". Extinto este último, atuou em 1880 nos Clubes Dramáticos São João Batista e Democratas da Cruz de Ouro, que chegou a presidir.
Em 1971 fundou o Clube Carnavalesco Rabeca e em 1872 a Sociedade União Beneficente Nictheroyense. Em 1880 participou da fundação do
Congresso Literário Guarany, onde atuou por mais de uma década como bibliotecário. Em 1881 foi um dos fundadores do
Clube Dramático Kean, no qual ensaiou e representou até às vésperas de morrer. No ano seguinte, as duas instituições se uniram para angariar fundos com o objetivo de erguer um túmulo para o poeta Luiz Nicolau Fagundes Varella, no cemitério Maruí, em Niterói.
Com o Kean, atuou em dezenas de espetáculos nos teatros Phenix Nictheroyense e Santa Thereza, hoje Municipal João Caetano, com grandes nomes da cena niteroiense, como
José Carlos da Costa Velho,
Julio Klier,
Joaquim Lacerda,
Lívia Maggioli,
Gregório Dutra,
Francisco de Oliveira, e em textos como "O Anjo da Meia Noite", "Modelo Vivo", "As Três Calças", "A Túnica de Nessus", "Pedro V" e "A Irmã do Cego".
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Gazeta da Tarde, 13 de novembro de 1882 |
Companheiros da Imprensa Nacional criaram no Rio de Janeiro, em 1882, o Club Abolicionista Alberto Victor, do qual foi presidente de honra. Um dos mais combativos abolicionistas em Niterói e no Rio de Janeiro, participou, no ano seguinte, do Clube Abolicionista Gutenberg e editou seu jornalzinho, 'O Lincoln'. Ao lado de
José do Patrocínio,
André Rebouças e
João Clapp, foi fundador, em 12 de maio de 1883, e secretário da Confederação Abolicionista, instituição que nasceu da união de 20 sociedades abolicionistas do Rio e Niterói.
Na Imprensa Nacional colaborou nos jornais 'O esboço' e 'A Educação Nacional', fundado e dirigido em Niterói pelo advogado Celestino Gomes de Oliveira. Presidiu a Imperial Associação Tipográfica Fluminense.
Homem simples, vivendo unicamente dos modestos vencimentos de tipógrafo, consumiu um vultoso prêmio de loteria recebido em 1881 adquirindo alforrias de escravos.
Pelo Partido Liberal, em 1882 elegeu-se vereador na capital fluminense pelo Partido Liberal, com expressiva votação. Foi autor do projeto que autorizou a construção do mausoléu do escritor francês Charles Ribeyrolles, no Cemitério Maruí e de uma lei para o trabalho escravo e doméstico, regulando os serviços de criado e ama de leite, que a Câmara Municipal chegou a aprovar na legislação seguinte, mas não colocou em execução; e que teria sido a primeira lei trabalhista do Brasil.
Em 1883 propôs que se solicitasse à Assembleia provincial a concessão dos terrenos de marinha existentes em Niterói, para patrimônio da Câmara Municipal, atendendo a que a maior parte dos terrenos acrescidos que tem ali aquela denominação, pertencem de direito à Câmara, que fizera, para saneamento da cidade, grandes aterros em muitos pontos do litoral.
Em 1886 tentou sem sucesso se eleger Juiz de Paz e no ano seguinte publicou o livro "Trabalhos de vereação", uma espécie de 'prestação de contas' de seu trabalho no legislativo.
"No intuito de satisfazer a minha consciência, que impõe-me o dever de dar conta do modo por que procedi durante o último quadriênio, na Câmara Municipal desta cidade, aos amigos que levantaram a minha candidatura, aos chefes liberais das freguesias do município que a aceitaram e recomendaram, e aos eleitores que, com seus votos, me conferiram uma cadeira de vereador. Colecionei e fiz imprimir neste volume todos os pareceres, posturas, propostas, indicações e requerimentos, que tive a honra de apresentar nas sessões efetuadas durante o mesmo quadriênio, a fim de que com mais segurança, possam verificar como correspondi à confiança em mim depositada e como servi à escola liberal em nome da qual fui eleito."
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Proclamada a República, o governador Francisco Portela nomeou-o, em 1890, intendente municipal, mas renunciou ao mandato no mesmo ano, desencantado com o regime. Costumava dizer que o Brasil, em tudo imitador da França, "teve seu 89 e fatalmente teria seu 93". A Revolta da Armada confirmou seu presságio. Atuou também como superintendente municipal de Ensino e já pelo Partido Republicano, tentou sem êxito se eleger para uma cadeira na Assembleia Provincial (1890).
Ainda em 1890, ajudou a criar, com a estrutura do Congresso Literário Guarany, o Lyceu de Arte e Officios, do qual foi 1º vice-diretor.
Alberto Victor faleceu em Niterói a 9 de fevereiro de 1892, vítima de doença cardíaca. Como todo o artista de sua época, viveu sempre pobre, auferindo recursos apenas do seu esforçado trabalho. Colegas de trabalho promoveram uma subscrição e o Circo Internacional um espetáculo em benefício da Família do finado artista.
Em 1893 a antiga Travessa do Pelourinho, que liga os antigos Largos da Memória e do Pelourinho (hoje Praça do Rink e Palácio Arariboia) passou a se chamar Travessa Alberto Vítor, por deliberação proposta pelo vereador José Carlos da Costa Velho.
Em 1906, ficou resolvida a dissolução do Clube Dramático Vinte e Sete de Julho. Alguns sócios, porém, liderados por Costa Velho, resolveram fundar o Club Alberto Victor.
Com informações de 'As Ruas Contam seus Nomes (Emmanuel de Macedo Soares, Niterói Livros, 1993); jornais Gazeta da Tarde; O Paiz; Folha Nova; A Pátria; O Fluminense; Diário do Rio de Janeiro; Jornal do Commercio; e O Tempo.
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