Nos anos 50. participei da construção de Brasília, revela o secretário de Cultura de Niterói, Ítalo Campofiorito. Sou uma pessoa influenciada pelo otimismo daqueles anos. Vivi e sonhei a de um grande Brasil que foi traído pelo golpe militar de 1964. Acho que, por essa razão, jamais imaginei que a chama de alegria e de fé poderia ser reacesa justamente em Niterói.
As linhas do museu nos remetem a um Juscelino Kubitschek da época da Pampulha. Está impresso aqui o desejo de um novo salto brasileiro, o impulso de uma força transformadora que está somente nascendo. Estamos demonstrando que o artista brasileiro tem como resistir a qualquer crise! O marco desta nova imagem é a construção do Museu de Arte Contemporânea (MAC) no topo da Praia da Boa Viagem.
Projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer, este museu vai abrigar a coleção do empresário João Sattamini. A cidade de Niterói se transforma assim numa importante referência dentro do Estado do Rio de Janeiro. Centenas de quadros, de mais de 120 artistas brasileiros, finalmente poderão ser vistos, comparados e analisados pelo público.
O Museu de Arte Contemporânea é a primeira obra de Oscar Niemeyer dando para a Baía da Guanabara. Mas a construção não interfere sobre a mesma, muito pelo contrário: parece que sempre fez parte da paisagem. Suas formas sobrevoam o Pão de Açúcar e a Fortaleza de Santa Cruz. Os "passageiros" nestes momentos podem observar vistas panorâmicas que espelham as velhas aquarelas de Debret.
Não desejei um museu envidraçado - explica Niemeyer -, queria um espaço com grande salão de exposições cercado por paredes retas, circundado por uma galeria que, protegendo-o, permitisse aos visitantes, nos momentos de pausa, apreciar a vista.
A vocação cultural fluminense
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Para João Sattamini (o quadro é de Aloisio Carvão), valeu plenamente colecionar durante um quarto de século. No projeto do Museu de Arte Contemporânea - que abrigará a coleção Sattamini - pela primeira vez o traço do arquiteto se relacionou às montanhas e às praias. |
O arquiteto confirmou seu talento ao resolver o problema do espaço interno, diz o colecionador João Sattamini: "É uma construção pequena por fora mas enorme por dentro. Esta casa será motivo de grandes reflexões. Finalmente o contemporâneo poderá dialogar com os outros séculos; particularmente, com o Museu de Arte Moderna e o Museu Nacional de Belas Artes. De certa forma o Estado do Rio de Janeiro está numa situação privilegiada e o MAC comprova a nossa vocação cultural".
Para o escultor Maurício Bentes, um dos curadores da coleção Sattamini, esse movimento foi estimulado pela criação de oficinas de gravura e escultura no Museu do Ingá, há quase 20 anos, e pelo hábito de atravessar regularmente a Baía da Guanabara, passando pelas barcas ou pela ponte Rio-Niterói, de quem vai aprender os ofícios das artes: "Os alunos desta cidade respiram um clima diferente. Niterói proporciona calma dentro de nossas almas, pede voos como o que Niemeyer esboçou para a arte contemporânea".
Clima de entusiasmo e dedicação
Maurício Bentes comenta que a liberdade proporcionada pelo colecionador ajuda a ampliar os horizontes da coleção: "Existem certos artistas de quem Sattamini tem muitos quadros. Sem nenhuma dificuldade, ele permite ao conselho curador trocá-los por obras de outros artistas ausentes da coleção".
Enquanto Ítalo Campofiorito acompanha os trabalhos de pintura da carcaça e os técnicos se preparam para iniciar a implantação do projeto de iluminação noturna do museu, o governo busca parceiros para terminar a obra. Ainda resta levantar recursos para comprar o elevador hidráulico e o ar-condicionado central.
O artista José Maria Dias da Cruz, com apoio dos seus alunos da Escola de Arte do Parque Lage, está embalando a parte da coleção Sattamini que ficará guardada na reserva técnica do Museu do Ingá. Seu esforço também reflete o clima de entusiasmo e dedicação que envolve o projeto: "Sou o voluntário de um Aloisio Carvão, de um Ivan Serpa, de um Dionísio del Santo... O sonho de pessoas como João Sattamini, Oscar e Ana Maria Niemeyer, Jorge Roberto da Silveira e Victor Arruda passa pelas minhas mãos. É uma honra participar desta empreitada".
"Quando comecei a desenhar este museu, já tinha uma ideia a seguir. Uma forma circular, abstrata, sobre a paisagem. E o terreno livre de outras construções para realçá-la. Não queria repetir a solução usual de um cilindro sobre o outro, mas caminhar no sentido do museu de Caracas, criando uma linha com curvas e retas do chão à cobertura. Seria um museu com um salão de exposições, cercado de paredes (retas) - não o desejava envidraçado mas com saídas para a galeria externa que o circundaria, integrando-o no panorama magnífico.
Como muitas vezes acontece, essa solução teria um apoio central sustentando apenas o salão de exposições. Foi modificada com acréscimo de mais de um metro de altura das vigas radiais dimensionadas com um metro e cinquenta, adicionaríamos um novo pavimento no conjunto, nele incluindo o foyer, a recepção, o auditório, as salas de trabalho, a biblioteca e os sanitários. É o projeto mais completo e econômico."
Oscar Niemeyer