04 de setembro de 1996
Vinte e quatro horas depois de aberto oficialmente ao público, o Museu de Arte Contemporânea transformou-se no alvo de visitantes não só da cidade como de outras localidades.
À primeira vista, não se tem ideia do tamanho que o MAC oferece aos visitantes, em seus 1.100 metros de exposição do acervo de João Sattamini.
A expectativa de conhecer o mais rápido possível o MAC atraiu para seus portões várias pessoas. O horário de visitação começa às 13 horas, só que estes primeiros curiosos tiveram que esperar mais vinte minutos. Afinal, o dia anterior foi muito concorrido e a limpeza do Museu demorou a ser completada.
Integrado plenamente à paisagem da Boa Viagem, é quase impossível percorrer todo o espaço do MAC num curto período de tempo. Em seu pátio pode-se encontrar algumas esculturas e quando todas as obras estiverem concluídas, dentro de 15 a 20 dias, um auditório com 60 lugares e restaurante estarão à disposição de todos.
Os primeiros visitantes ficaram impressionados com o gigantismo das obras, e o impacto que causa. "É fantástico. Não pensei que fosse ficar desse jeito", disse o estudante de artes Fernando César. Além das surpresas normais era fácil encontrar famílias inteiras carregando máquina fotográfica ou filmadora para registrar a visita.
Subindo a rampa, atinge-se finalmente a galeria. Do lado de fora pode-se ter uma pequena ideia de todo o espaço e mais surpresas aos curiosos. Madalena Santos e o marido, Álvaro, confessam que estão surpresos. "É diferente de tudo o que já tinha visto na vida. Visitamos alguns museus no mundo, e este pode ser considerado tão bom quanto os do Exterior", diz Alvaro.
A forma circular permite a quem visita escolher qual parte prefere olhar primeiro. Ao todo são 118 obras das mais várias técnicas, seja esculturas, óleo sobre tela, a mistura de tecido, gesso, pano e outros produtos, plenamente harmónicos, integrados. É possível observar o trabalho de Lygia Clarck com Volpi, Aluisio Carvão, Hélio Oiticica, Carlos Vergara, Tomie Ohtake ou Iberê Camargo.
A animadora italiana
A animadora italiana Lorenza Rippolli achou perfeito tanto a forma como o local escolhido. "A estrutura é muito legal e funde-se com a paisagem, além de ter janelas amplas que permitem às pessoas não só apreciar os quadros, como tudo que acontece lá fora. Confesso que não sou conhecedora da arte brasileira e não sei como classificar estes expositores. Creio que deveria ser dividido por períodos para atender principalmente aos estrangeiros. Creio que o lugar deverá ficar cheio por seu formato. Venho de um país que é um museu e lá, como parece ser aqui, os pais não levam seus filhos aos museus, o que não concordo"
Até para os consumistas o local é ideal, podem ser adquiridos camisas (R$ 10,00), catálogos (R$ 10,00) e folders (R$ 2,00). Como até novembro não será cobrado ingresso, o MAC deve virar programa obrigatório de muita gente até por funcionar de terça a domingo a partir das 13 horas, fechando às 21 horas.
Um novo espaço cultural
O acervo do colecionador João Sattamini engloba mais de mil obras que estão à disposição do Museu de Arte Contemporânea. Esta mostra atual deve ficar aberta à visitação até o ano que vem, embora paralelamente outra parte da coleção venha a ser exibida. O visitante do MAC poderá conhecer trabalhos da década de 50 em diante e reúne as mais variadas tendências, desde o geométrico à propostas de vanguarda.
Entre os trabalhos expostos estão de dois artistas da cidade. Marcos Cardoso nasceu em Paraty, mas radicou-se em Niterói e divide ateliê com o artista Edmilson Nunes. "Acho que o MAC é a obra mais importante destes anos 90, por abrigar as atuais tendências fugindo do classicismo e marinhas, e permite aos artistas plásticos expor suas ideias sem o medo de ficar sem um lugar para o público ver sua obra. Na coleção de Sattamini está uma bandeira do Brasil feita de 80 mil pontas de cigarro recolhidas na cidade. Acho isso o máximo".
Outro que integra a exposição é Edival Ramosa, nascido em Niterói, passou 15 anos no Exterior, expôs além de ter trabalhado no museu de Camberra, Austrália, em Los Angeles, Veneza e Milão. Sem material definido, Edival esculpe peças geométricas, abstratas com materiais variados, desde couro e metais. "Achei que o MAC foi muito bom para nós, niteroienses, é um local que muitas cidades do mundo gostariam de ter. As manifestações contrárias são inaceitáveis. No Exterior já se fala do MAC, o que irá atrair muita gente que gosta de artes. Só não é possível que o museu fique parado, tem de haver continuidade a esse trabalho", finaliza.
Dôra: A paixão por um museu de todas as artes
Ela pode não ser a "primeira-dama" do MAC, mas cada parte daquele monumento tem um nome: Maria Auxiliadora Silveira, ou Dôra Silveira, coordenadora do museu. "Apesar da intensa visitação do primeiro dia após a inauguração, ainda é cedo para falar em planos. Estamos esperando os primeiros 15 dias para ver a reação das pessoas, tanto que iremos colocar um questionário na entrada para sabermos mais sobre nossos visitantes. Eles opinarão, dirão de onde vêm, será traçado um perfil real deles", revela Dôra.
Longe de ser transformado num cabide de emprego, a ideia da coordenadora é ter uma equipe enxuta que possa atender todas as necessidades do local. "Temos uma museóloga que irá atender as pessoas, dando informações sobre as obras e detalhes que as pessoas queiram saber. Claro que num futuro não muito distante teremos outras programações, não ficando restrito unicamente à visitação pública. Temos um auditório que poderá abrigar palestras, workshops, debates, cursos e outras atividades."
Falar do MAC para Dôra Silveira é como apresentar um filho que foi gerado com todo o cuidado até seu nascimento. "Teve gente que criticou sem saber a proposta do museu. Não pretendemos que ele seja apenas isso, queremos que as escolas façam visitas orientadas, de uma forma diferente. Os alunos teriam a oportunidade de conhecer o que os artistas pretendiam, o conceito estético, queremos que olhem para os trabalhos com outros olhos", afirma.
Dôra faz questão de frisar que o MAC não é um museu de artistas niteroienses. "Acho horrível esta classificação. Faremos exposições de artistas plásticos brasileiros, estrangeiros, gente de talento. Segregar não a melhor forma de trazer público", finaliza.
Primeiros visitantes
Os primeiros visitantes do Museu de Arte Contemporânea, como se supunha, não eram velhinhos ou aposentados que resolveram subir até o alto da Boa Viagem para conhecer suas instalações. A vendedora Marlene Gomes disse que "estava curiosa para ver e saber o que tinha lá dentro. Ele é muito bonito e impressiona a todo mundo que passa".
A artista plástica Maria José afirmou que no início achava a obra horrível". Quando vi a construção pensei que seria um monstro e não teria utilidade, agora tenho que confessar que é maravilhoso". Aliás não é só visitante que fica curioso, o local virou parada obrigatória de quem passa de carro por ali.
O cientista social Luiz Cicero classificou o MAC de fantástico. "E de primeiro mundo, visito quando é possível museus e achei este maravilhoso, as obras expostas também são expressivas e mostram ao público trabalhos variados". Outro que mostrava-se curioso com cada peça era o estudante Fábio Lima. "O lugar é lindo impressiona".
Tereza Cristina Maia, secretária, disse que preferiu esperar um dia mais calmo para conhecer o lugar. "Na inauguração não pude nem passar por aqui para fazer minha caminhada. Moro no Ingá e diariamente faço isso. Aproveitei que trabalhei para visitar o museu. Achei incrível por tudo que tem. O mezanino é muito lindo, a iluminação dá um toque diferente ao ambiente".
Fascinadas estavam Angela Xavier, Sonia e Eunice Xavier. Elas percorriam com toda a calma o espaço. "Foi um presente que Niterói merecia há muito", disse Angela.