"Não é o ângulo reto que me atrai. Nem a linha reta..., o que me atrai é a curva livre e sensual que encontro nas montanhas do meu país, no curso sinuoso de seus rios..."

As palavras e os traços que consagraram o arquiteto do Brasil, Oscar Niemeyer, marcam a exposição 'A arquitetura e a vida', no Museu de Arte Contemporânea (MAC) a partir de terça-feira, 09 de dezembro de 1997, até o dia 18 de janeiro. No ano em que comemora 90 anos de idade, Niemeyer ganha um presente e tanto de uma de suas mais inovadoras e festejadas criações. A mostra foi concebida pelo próprio arquiteto, como uma "síntese poética e filosófica de sua obra e de seu pensamento".

Oscar Niemeyer dispensa qualquer tipo de apresentação. Nem seria preciso dizer que ele é um dos maiores arquitetos do século XX e que é dono de um estilo copiado e admirado no mundo inteiro. Até o arquiteto francês Le Cobusier se inspirou nas formas e estruturas de concreto armado de Niemeyer para idealizar algumas de suas obras, como por exemplo, a capela de Rochamps, na França.

No salão principal serão montados cinco grandes painéis, medindo, 12m x 3m, ocupando toda a extensão de cada uma das paredes, que reproduzem 26 desenhos dos principais projetos do arquiteto, desde Brasília e a Universidade de Constantine na Argélia, até monumento aos Sem-Terra.

O primeiro painel, inclusive, é todo dedicado ao mais novo projeto do arquiteto, encomendado pela Prefeitura de Niterói, o "Caminho de Niemeyer", um trecho de três quilômetros entre o MAC e a estação das barcas. Na via, serão construídos um teatro, restaurante, capela, a Fundação Oscar Niemeyer, a Catedral Metropolitana e o Templo da Igreja Batista.

Croqui original do Caminho Niemeyer


"Acho que Niemeyer adotou Niterói como sua cidade. Ele costuma dizer que as suas três obras favoritas são o Congresso, a Catedral de Brasília e o MAC. Nada mais natural que a exposição viesse a ser realizada aqui", afirma com indisfarçável orgulho o prefeito da cidade, Jorge Roberto da Silveira.

"O tempo passou. Desses longos anos de trabalho só me tranquiliza saber que guardei folga para defender os mais pobres, minhas convicções políticas, satisfeito comigo mesmo", declama o arquiteto.

Nos outros painéis, a trajetória de Niemeyer é contada através de textos de sua autoria e ilustrada por fotografias e desenhos, com destaque para seus projetos mais importantes no Brasil e no exterior. Um deles, o próprio MAC que inaugurado em setembro de 1996 já recebeu mais de 400 mil visitantes e é considerado uma das mais criativas e originais criações do arquiteto.

"Foi o próprio Niemeyer que decidiu como seriam expostas as obras. Ele disse que queria fazer os painéis e escreveu um texto poético sobre a sua carreira", conta Dôra Silveira, diretora do MAC. Segundo Dôra, a exposição contará a história através dos croquis de Niemeyer.

As formas do Museu - que para muitos lembra um disco voador - foi projetada especialmente para o privilegiado local que ocupa. O museu é rodeado pelas águas da Baía de Guanabara e tem ao fundo paisagens de praias e montanhas de Niterói. Criado originalmente para abrigar a Coleção João Sattamini - um conjunto da arte brasileira desde os anos 1950 - o museu até já foi indicado pelo jornal "New York Times" como uma referência turística mundial.

Seus projetos estão espalhados pelos quatro cantos do mundo. No Rio, vários bairros da cidade possuem obras suas. Foi um dos responsáveis pelo projeto definitivo do Ministério da Educação (Palácio Capanema, 1936-45), desenvolvido a partir dos croquis de Le Cobusier. O Hospital da Lagoa, o Hotel Nacional, a Obra do Berço, a Casa das Canoas, entre outros são alguns dos prédios criados por Niemeyer.

Em 1942, projetou o conjunto da Pampulha, em Belo Horizonte. Brasília é uma de suas criações que mais alcançaram fama no exterior e a cidade foi considerada Patrimônio Cultural e Histórico da Humanidade pela Unesco Em São Paulo o Memorial da América Latina, o Conjunto do Parque do Ibirapuera também são projetos de sua autoria.

No exterior, Niemeyer participou do projeto da sede da ONU, em Nova York, idealizou a sede do Partido Comunista Francês, em Paris, assim como o prédio do jornal francês "L'Humanité", a Universidade de Ciências, na Argélia, entre outras dezenas de projetos que ainda estão em anda- mento, na África e na França.

A exposição que festeja seus 90 anos mostra parte da sua vasta e riquíssima obra, que mudou os destinos da arquitetura brasileira e mundial. O arquiteto niteroiense Italo Campofiorito escreveu certa vez, no "World Architeture" (uma publicação inglesa) que a obra de Niemeyer, é construída com "uma linguagem pessoal inconfundível, cuja sintaxe foi estruturada pela leveza arquitetônica, pelos grandes vãos e pela forma-estrutura, onde se integram estabilidade e estética". Beleza e funcionalidade juntas e inseparáveis.

Acesse o Catálogo da Exposição


Niterói quer ser palco de novas obras

O Caminho Niemeyer promete ser um projeto ainda mais polêmico que o MAC. Um conjunto de obras - que iria desde o museu, no bairro da Boa Viagem, até a estação das barcas Niterói-Rio, no centro da cidade - mudará a cara de três quilômetros da orla de Niterói. Neste percurso está prevista a construção de um restaurante, um anfiteatro, uma capela, o prédio da Fundação Oscar Niemeyer, a nova Catedral Metropolitana, o Templo da Igreja Batista, Museu do Som e um novo terminal hidroviário para as barcas. As obras, segundo Italo Campofiorito, que é conselheiro executivo da prefeitura de Niterói, devem começar já em 1998, para que o Caminho fique pronto até o ano 2000 e antes que o prefeito Jorge Roberto Silveira deixe o cargo.

O primeiro empecilho para o projeto é justamente o ponto de partida da construção: o terminal hidroviário das barcas no centro de Niterói. A princípio, a prefeitura começaria o embelezamento da cidade pelo terminal, remodelando a estrutura e construindo duas ou três torres de 20 metros de altura, que abrigariam lojas para comércio e serviços em geral. Além disso, embaixo da praça de Arariboia, bem em frente ao terminal, seria construído um estacionamento subterrâneo para es motoristas.

O problema é que como a Conerj está sendo privatizada, o projeto fica dependendo de um acordo entre a prefeitura e o futuro comprador para que o pontapé inicial da obra seja dado.

Segundo Italo Campofiorito, a prefeitura pretende que o custo das obras seja o menor possível. "A exploração das salas comerciais e da garagem subterrânea deve financiar o resto da obra", explica o conselheiro. "A Catedral Metropolitana, assim como o Templo Batista serão financiados com doações dos próprios fiéis feitas às igrejas", contabiliza Campofiorito, reduzindo ainda mais os custos.

Mas sobre contas a conversa para por aí mesmo. A prefeitura ainda não passou grande parte do projeto da maquete para o papel e muito menos fez o orçamento da construção. "Os prédios que ficarão na praça - a Fundação Oscar Niemeyer, o Anfiteatro e um museu do som - devem custar menos de um terço do que o Museu de Arte Contemporânea custou (6 milhões de dólares)", especula o conselheiro.

Apesar dos aspectos não definidos, Campofiorito não tem dúvidas de que o Caminho começará a ser realizado no início do próximo ano, nem que para isso seja necessário mudar e começar por outro ponto, como a Fundação Oscar Niemeyer. O ambicioso projeto também pretende municipalizar o Ciep Geraldo Reis, que fica no meio do trajeto. O Centro Integrado ganharia um novo visual e começaria a funcionar de acordo com o que foi idealizado por Darcy Ribeiro.

O objetivo desse esforço seria, segundo Campofiorito, dar "outro rosto para Niterói e projetar uma cidade mais bonita".


Serviço

Oscar Niemeyer: A Arquitetura e a Vida
Datas: 9 de dezembro de 1997 a 18 de janeiro de 1998
Visitação: De terça a domingo, das 11h às 19h. Sábado, das 13h às 21h
Ingressos: R$ 2,00. Estudantes com carteira pagam a metade

Local: Museu de Arte Contemporânea de Niterói
End: Mirante da Boa Viagem, s/nº - Boa Viagem
Tels: 620-2400 e 620-2481








Publicado em 13/02/2023

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