Inaugurado em 2 de setembro de 1996, o Museu de Arte Contemporânea de Niterói chega aos cinco anos de atividades consagrado como uma das sete maravilhas do mundo moderno. Nos últimos 60 meses o museu projetado por Oscar Niemeyer recebeu mais de dois milhões de visitantes de todas as partes do mundo e consolidou-se como importante espaço para a discussão da arte contemporânea no Brasil.
No alto do mirante da Boa Viagem, ele é soberano. Em cinco anos de existência, o MAC Niterói se impôs diante da bela paisagem à sua volta e tornou-se um símbolo da ousadia humana de intervir na natureza de forma harmônica. O MAC é uma combinação perfeita da genialidade do arquiteto Oscar Niemeyer com os contornos da Baía de Guanabara e a magnitude das obras de arte da Coleção João Sattamini.
A enorme estrutura tem linhas suaves. Uma escultura, erguida aos poucos por cerca de 300 funcionários que trabalharam durante cinco anos nas obras. Com 16 metros de altura e 50 de diâmetro, o Museu conta com três pavimentos elevados e um subterrâneo. Uma grande rampa externa em concreto vermelho conduz o visitante às duas entradas distintas dos pavimentos superiores.
No primeiro, está a recepção e toda a área administrativa. O salão principal - com 1.000 m2 de área - fica no piso logo acima, por onde se tem acesso à varanda panorâmica e aos seus 360 graus de céu e mar, emoldurados pelas montanhas da Baía de Guanabara. O mezanino, sobre o salão principal, circunda todo o interior do museu e é compartimentado em seis salas menores. Tanto a varanda panorâmica quanto o mezanino também são reservados a exposições.
No subsolo há um auditório com capacidade para 60 pessoas, onde são realizadas palestras e conferências.
Fotos de Leo Zulluh
Projeto do MAC nasceu há 10 anos
Em maio de 1991,
Anna Maria Niemeyer, filha de Oscar, fez uma visita ao amigo Italo Campofiorito, então Secretário de Cultura de Niterói. Juntamente com a marchand, veio o colecionador de arte João Sattamini, que procurava um espaço para abrigar seu acervo. Campofiorito levou a proposta ao Prefeito Jorge Roberto Silveira, que ficou entusiasmado com a possibilidade de Niterói abrigar tal coleção.
Mas Jorge Roberto queria um prédio novo, algo que contribuísse para o espírito vanguardista da cidade, principalmente no que diz respeito às artes. Para o prefeito, um projeto de Oscar Niemeyer viria totalmente ao encontro de seus anseios. Anna Maria e Italo conversaram com o arquiteto, que aceitou prontamente o desafio. Niemeyer justifica: "A coleção que João Sattamini oferecia era da maior importância, e o prefeito Jorge Roberto Silveira, interessado no assunto, é inteligente e criativo como todos os prefeitos deveriam ser". Começava a se concretizar a ideia do Museu de Arte Contemporânea de Niterói.
O projeto arquitetônico foi concebido por Oscar Niemeyer em croquis preliminares desenhados no mesmo dia em que o arquiteto e o Prefeito Jorge Roberto Silveira visitaram, pela primeira vez, o Mirante da Boa Viagem, local escolhido para o museu.
Como que solta no ar, a edificação foi concebida plasticamente para integrar o panorama histórico da Baía da Guanabara, tendo de um lado o Pão de Açúcar e o Corcovado e, do outro, a Igreja de Nossa Senhora da Boa Viagem. Da varanda do MAC Niterói, os visitantes têm uma visão de 360 graus de uma das mais belas paisagens do mundo. O prédio e a praça pública que o circunda completam a geometria existente no patamar, resultado de um corte realizado há mais de 50 anos.
O museu, com seus 3.900 m de área construída, emerge do solo como um cálice, ou ali pousa como um pássaro palavras de seu autor.
Modernização também na praça
O MAC Niterói está plantado em uma praça aberta de 2.500 m2, toda em placas de concreto. Fiel às características modernistas, Oscar Niemeyer não deixou que pequenos elementos interferissem na unidade de sua obra. As únicas intervenções são o espelho d'água, na base do museu, e um gramado separando a praça das escarpas do Mirante da Boa Viagem.
Hoje apagado por conta do racionamento de energia que atinge todo o país, o MAC tem projeto de iluminação assinado por Peter Gasper. Externamente, o monumento é iluminado por 36 faróis de avião, instalados sob o espelho d'água. A luz tangencial, de baixo para cima, causa ao observador a ilusão de que o prédio está suspenso, flutuando sobre o Mirante. Já na praça, foram instalados modernos postes de baixa altura, de fabricação canadense, para a iluminação de segurança. A simplicidade e a elegância do desenho parecem ter sido projetadas para uma obra de Niemeyer.
Fotos de Thiago Cortes
Presentes para o público
"Para comemorar o aniversário de um museu, nada melhor do que ele estar funcionando, apresentando sempre coisas novas", diz o diretor Italo Campofiorito. As exposições em cartaz refletem esse pensamento.
Exposição Paisagem Uma Visão Contemporânea (Landscape): instalada no mezanino, até o dia 7 de outubro.
Exposição Tempo, de Rubens Gerchman: instalada no Salão Central, permanecendo em cartaz até o dia 24 de novembro.
Exposição Carlos Miéle: inauguração prevista para o dia 13 de outubro.
Exposição O Artista Pesquisador: inauguração prevista para o dia 24 de novembro.
Exposição Raimundo Colares: inauguração prevista para o dia 1º de dezembro.
Oficinas: Oficinas de Animação Digital com Massinha, Vídeo Digital e Web Design, Oficina de Criação do Espetáculo e Arte em Ação Ambiental.
Curiosidades técnicas do projeto
- O projeto estrutural ficou a cargo do engenheiro
Bruno Contarini, que já trabalhou com Oscar Niemeyer em obras como a da Universidade de Constantini, na Argélia.
- As escavações feitas no Mirante da Boa Viagem, para a construção da sapata e de todo o seu subsolo, retiraram 5,5 mil toneladas de material, ajudando a aliviar o peso do concreto ali colocado.
- Foram consumidos na obra 32 mil metros cúbicos de concreto, suficientes para levantar um prédio de 10 andares. Para erguê-lo, trabalharam 300 operários em três turnos durante cinco anos. O Museu tem 16 metros de altura, sua cúpula tem um diâmetro de 50 metros com três pavimentos. A base cilíndrica única, onde está apoiado todo o prédio, tem 9 metros de diâmetro. Para a construção dessa base cilíndrica foi feita uma única sapata, que mede dois metros de altura. Nos prédios convencionais, as sapatas medem aproximadamente 50 centímetros e são, no mínimo, quatro.
- A estrutura do MAC Niterói é completamente segura e tem capacidade para suportar um peso equivalente a 400 quilos por metro quadrado, além de suportar ventos com velocidade de até 200 quilômetros horários.
- A praça tem 2.400 metros de área livre. Já o espelho d'água, localizado próximo à base cilíndrica, mede mil metros quadrados. O salão de exposições tem 1.100 m2 e o auditório, localizado no subsolo, tem capacidade para 60 pessoas.
- Os vidros foram fabricados exclusivamente para o projeto. São 70 lâminas, com 18 milímetros de espessura na cor bronze e em modelo triplex. Cada uma das lâminas mede 4,80 metros de altura por 1,85 metro de largura e suporta o peso equivalente a 20 pessoas.
- A subestação de energia do MAC Niterói tem 800 KWA de força. Existem três transformadores, sendo um exclusivo para o sistema de ar refrigerado, outro para a iluminação e um terceiro para os demais equipamentos.
- Para iluminar todo o salão de exposições são necessárias 400 lâmpadas fluorescentes e 200 dicróicas, estas últimas usadas apenas para as obras de arte. No mezanino, são utilizadas 200 lâmpadas fluorescentes e 200 dicróicas.
- A iluminação externa é feita com 36 faróis de avião. Cada farol tem 1.000 watts de potência e é importado dos Estados Unidos. O objetivo é tangenciar o prédio para dar a impressão de que o museu está flutuando 10 metros acima das águas da Baía de Guanabara.
- O piso interno é todo em carpete azul. Já na rampa de acesso, que tem 200 metros de extensão, o piso é todo pintado na cor vermelho rubi.
- A cúpula do MAC Niterói recebeu tratamento térmico e impermeabilizante com material altamente resistente e utilizado para proteção dos foguetes da NASA. Esse material tem capacidade de sofrer uma variação térmica de menos 50 graus centígrados a 250 graus centigrados.
Matéria publicada orginalmente no jornal A Tribuna da Imprensa, em 24 de agosto de 2001