Domingo, 28 de julho de 1991

Dentro de 30 dias serão iniciadas as obras do Museu de Arte Contemporánea (MAC) no Mirante da Boa Viagem. A informação foi fornecida ontem pelo Prefeito Jorge Roberto Silveira. Segundo ele, a construção, estrutura de concreto em forma de cálice, receberá o acompanhamento do arquiteto Oscar Niemeyer autor do projeto - e custará USS 3 milhões. O Prefeito, informou ainda que parte dos recursos para a construção deverá sair dos cofres municipais. O restante das verbas, o lider do Executivo espera conseguir através de licitações de três áreas da cidade. Ele pretende inaugurar o MAC até o início da Rio-92.

As áreas escolhidas para a transação ficam nos terminais Norte e Sul e no Largo da Batalha. Jorge Roberto Silveira explicou que elas sofrerão processo de licitação e os proprietários de postos de gasolina - pagarão 20 anos de aluguel adiantado. "Dentro desse plano, tudo que for arrecadado, será destinado à construção do Museu", disse o Prefeito, referindo-se ao complexo cultural, que depois de pronto abrigará 600 quadros da coleção do empresário João Satamini.

Para Jorge Roberto Silveira, essa será uma das formas para captar recursos para a construção, cujos estudos estão sendo feitos pela Procuradoria Geral do Município e a Empresa Municipal de Urbanismo e Saneamento (Emusa). "No prazo de um mês os trabalhos de construção vão ser iniciados por equipes de operários da Prefeitura", estimou o Prefeito. Ele revelou que se no decorrer do trabalho houver necessidade de um serviço especializado em algum setor do Museu, haverá licitação que apontará a empresa encarregada da execução.

O Mirante da Boa Viagem sofrerá mudanças para abrigar o MAC e segundo Jorge Roberto, as pessoas que mantêm seus pontos de comércio no local deverão ser transferidas. "Toda área terá de ser aproveitada em função do Museu", argumentou.

Ele lembrou que a escolha de Niemeyer se justifica pelo fato de o autor do projeto ser um dos maiores arquitetos do mundo.

Para resumir o que Niemeyer representa para ele, como profissional, o Prefeito usou uma frase do antropólogo Darcy Ribeiro: "Daqui a 300 anos, ninguém vai se lembrar de nós, mas certamente a obra e o nome dele estarão presentes."

Museu vai expor obras de Camargo e Jorge Guinle

As obras do artista plástico Sérgio Camargo e do falecido pintor Jorginho Guinle estão entre os cerca de 600 trabalhos que poderão ser vistos no Museu de Arte Contemporânea. O acervo, que tem quadros de importantes artistas brasileiros das décadas de 60, 70 e 80, foram cedidos em regime de comodato e pertencem ao empresário João Sattamini. Neste esquema, ficou estabelecido que todas as obras permanecerão em exposição no Museu no período de três a quatro anos, sendo posteriormente substituídos por outros trabalhos.

O Secretário Municipal de Cultura, Ítalo Campofiorito, afirmou que o MAC terá um sistema de organização administrativa semelhante ao Museu Lasar Segall, em São Paulo. "Tudo será organizado e gerenciado por um conselho deliberativo, cujos membros permanecerão no cargo em caráter permanente, independente do tempo de mandato dos dirigentes municipais", afirmou o Secretário. Ele explicou que o conselho será composto de autoridades culturais de Niterói e do Brasil, indicadas pelo Prefeito Jorge Roberto Silveira e Sattamini. Italo Campofiorito explicou que o MAC ficará vinculado à Fundação Niteroiense de Arte (Funiarte), tendo total autonomia técnico-administrativa. "Esperamos obter incentivos da iniciativa privada, tal como acontece hoje com outros museus", disse o Secretário Municipal de Cultura, referindo ao sistema de concessão de verbas utilizado pelo Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM). O Secretário garantiu que a maquete do Museu deverá ficar pronta dentro de 15 dias.

Vista da Baía emociona o construtor de Brasília

O Museu de Arte Contemporânea de Niterói (MAC) será o primeiro monumento da cidade a levar a assinatura do arquiteto Oscar Niemeyer, que elaborou o projeto após conhecer o Mirante da Boa Viagem, em companhia do Prefeito Jorge Roberto Silveira. A planta ficou pronta após 36 horas de trabalho e o resultado satisfez plenamente o arquiteto. "Passei a imaginar o Museu como qualquer coisa solta na paisagem. Um pássaro branco a se lançar sobre o céu e o mar de Niterói", disse Niemeyer que tem 83 anos e projetou Brasília e várias obras em Israel, Líbano, Argélia, Gana, Cuba, Inglaterra, EUA, Portugal e França.

Niemeyer afirmou que logo após Jorge Roberto o levar ao Mirante da Boa Viagem, pressentiu que seria possível realizar uma bela obra de arquitetura. Com essa concepção, ele projetou o MAC, que tem 13 metros de altura, 40 de raio e as laterais envidraçadas, de onde visitantes poderão apreciar a Baia de Guanabara. "Deixei o teto livre de construções, localizando ali as áreas de trabalho, direção e recepção. No primeiro piso e no subsolo, ficarão o restaurante e a reserva técnica. Utilizei ainda o núcleo central como ligação direta entre esta última e o salão de exposição", detalhou Niemeyer, que ainda não sabe as cores das decorações da construção.

O arquiteto contou que dois dias após a primeira visita, levou o trabalho ao Prefeito, em companhia do Secretário Municipal de Cultura, Italo Campofiorito, amigo pessoal de Niemeyer. O projeto foi aceito com entusiasmo. "Ficamos muito tempo a conversar detalhes do Museu, como a melhor maneira de se conduzir a construção", lembrou Niemeyer, que antes de ser convidado pelo Prefeito para elaborar o projeto, conhecia muito pouco a cidade.

Arquitetos questionam a indicação de Niemeyer

Especialistas e estudantes de Arquitetura divergem nas opiniões relacionadas ao projeto de construção do Museu de Arte Contemporânea de Niterói. O ex-presidente da Associação Fluminense de Engenheiros e Arquitetos, (Afea), José Chacon, argumentou que a escolha do autor da obra deveria ter sido feita através de concorrência pública. Na opinião do estudante de Arquitetura, André Barroso, não há sintonia entre o Museu e a paisagem, já o professor Ilino Coelho acha que além de ter beleza e plasticidade, o MAC será um marco na cultura niteroiense.

"Acho que a concorrência pública seria uma forma de permitir o acesso dos especialistas da cidade em um projeto desta importância.

Principalmente em um momento em que passamos por um processo de discussão sobre o Plano Diretor", afirmou José Chacon, lembrando que a elaboração de um plebiscito envolvendo a população também deveria ter feito para se obter um consenso em relação à obra. Chacon ressaltou, no entanto, que a obra em si, é um assunto indiscutível. "Não se pode questionar a competência de Niemeyer", frisou, referindo-se ao arquiteto escolhido pelo Prefeito.

O estudante André Barroso, monitor de cadeira de Arquitetura Brasileira da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), reforça a opinião. Para ele, um concurso público de âmbito nacional certamente democratizaria mais o projeto, revelando outras vertentes. "Também não vejo sintonia da construção com o local", disse frisando que o concreto poderá destoar da vegetação e das águas, características do relevo da Boa Viagem.

O professor-Titular do Departamento de Arquitetura da UFRJ, Olino Coelho, afirmou que a obra representa acima de tudo, um benefício para Niterói. Pela primeira vez, a cidade ganha uma obra de Oscar Niemeyer, disse, apontando o MAC como um "marco da arte contemporânea na cidade." Embora não conheça o projeto com detalhes, o professor acredita que ele é totalmente integrado à região da Boa Viagem.








Publicado em 01/03/2023

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