Até que ponto o individualismo, tão presente nos dias atuais, afeta a experiência humana? Partindo desta questão, o artista niteroiense Rodrigo Pedrosa apresenta "Abismo", exposição individual que reúne a sua produção mais recente de esculturas. Ocupando os salões do segundo piso do MAC Niterói, a mostra, que será inaugurada no sábado, 09 de setembro, traz esculturas que buscam refletir sobre as contradições do mundo contemporâneo, além de apontar a solidão e a melancolia da vida moderna. "Abismo" fica aberta à visitação até 26 de novembro.
Com curadoria de Rafael Fortes Peixoto, a mostra, que apresenta cerca de 20 peças em diferentes escalas e materiais, além de 3 conjuntos escultóricos compostos por placas de cerâmica e de gesso, revela a perda do que é comum a todos em detrimento de uma individualidade e competição exacerbadas. Com figuras humanas distorcidas e desconstruídas, Rodrigo reflete sobre o precipício em que a coletividade se insere.
Abismo
A proposta da exposição é trazer ao público uma reflexão sobre os caminhos da sociedade contemporânea, que sob o olhar poético do artista, está à iminência do caos. Em suas figuras humanas Rodrigo chama a atenção para a excessiva individualização como marca do abandono das características que nos integram como humanidade.
Além das obras que irão ocupar os salões internos, explorando o espaço a partir da sensação da solidão, a mostra também traz uma provocação pensada por Rodrigo para a paisagem turística do museu. Em pontos estratégicos da parte exterior, serão fixadas esculturas de figuras humanas a beira dos abismos que circundam o icônico prédio de Oscar Niemeyer, instigando tanto seus visitantes como as pessoas que transitam pelas cidades do Rio de Janeiro e de Niterói, por terra, céu ou mar.
Apesar de seu caráter denunciativo, a mostra "Abismo" traz uma mensagem de renovação a partir de uma tomada de consciência coletiva. Nas palavras do curador: "É como se nós, diante do abismo, da iminência do fim, tivéssemos duas opções: cair ou voar".
Sobre o artista
Nasceu em Niterói onde vive e trabalha. Formado em Design pela Univercidade, MBA em Marketing pela FGV. Escultor e pintor autodidata, trabalha e ministra aulas de escultura em Niterói. Professor voluntário da ONG Remanso Fraterno (remansofraterno.org.br). Fundador do Projeto Palácio dos Livros (distribuição de livros nas comunidades) @palacio.dos.livros
Rodrigo Pedrosa por Osvaldo Carvalho
Rodrigo Pedrosa é um engenhoso (re)fazedor de si mesmo. Suas esculturas, as quais em geral constrói a partir de sua compleição, dão a medida de como o artista está voltado para uma introspecção que expõe e perturba as expectativas de um mundo convencional em que se espera a perfeita complacência diante das perversidades que circulam nossas existências em dias sombrios que vivemos. Muitos são os que esperam pela ordem, poucos os que a erguem dos escombros.
A vitalidade de suas peças, em doses brutas de matéria, apresenta o Homem carente de aparas, de refinamentos, e predisposto ao abismo. A incerteza de quem se é, de seguir um rumo, que caminho tomar, vem de longa análise na vida do artista que se descobriu liberto de seu bloco de argila quando deu azo às suas criações e partiu em busca de um repertório que reforça sua intensidade marcadamente corporal, movimentos firmes e precisos que impõem ao espectador um olhar pretérito ao longo da História da Arte a vislumbrar os corpos que Michelangelo retirava dos blocos de mármore no conjunto grandioso de Os Escravos, sem, contudo, libertá-los por completo, ou na anatomia barroca de Aleijadinho aliando dramaticidade e eloquência a gestos que transbordam angústia, assim como vemos em grupos escultóricos de George Segal feitos em gesso, notadamente sobre o Holocausto.
Pedrosa nos compraz com as múltiplas facetas de suas habilidades, seja no campo escultórico, seja na pintura. Desenvolvendo uma brincadeira com a teoria Junguiana sobre a persona nos apresenta uma realidade que verificamos ser não mais que uma variante daquela, e que para todos os lados que olhamos vemos o rebatimento de um torso, ombros e braços oblíquos, inclinações premeditadas do indivíduo que se recolhe como que a buscar o silêncio e a proteção em seu primórdio fetal.
Do mesmo modo que um epigrama de Wilde, os trabalhos de Pedrosa contemplam uma crítica mordaz, curta e grossa, às humanidades cujas teorias, metodologias e práticas parecem não mais lhe fundamentar os processos de produção artística, em que seu lado satírico ganha então o vigor de uma pedra carregada morro acima que insistentemente rola de volta. Seria razoável insistir? Como pontuaria Wilde mais uma vez, "sempre que algo desagradável tem que ser dito, deve-se ser muito sincero".
Encontramos no conjunto das obras uma busca do artista pela melhor maneira de dizer ao mundo aquilo que lhe desagrada, aquilo que com talento inestimável torna claro a todos: precisamos resgatar nossas humanidades, o quanto antes, antes que seja cada um por si em definitivo, nossas perspectivas estão se fechando cada vez mais próximas no horizonte. A inércia será nosso último passo para o precipício.
Serviço
Exposição - "Abismo", de Rodrigo Pedrosa
Aberta ao público de 09 de setembro a 26 de novembro de 2023
Horário: terça a domingo, das 10h às 18h (entrada permitida até 17h30)
Classificação indicativa: livre
Valor de ingresso: R$16 reais inteira / R$8 reais meia
Gratuidades: Crianças menores de 7 anos; Estudantes da rede pública (fundamental e médio); Moradores e naturais de Niterói; Servidoras/es públicos municipais de Niterói; Pessoas com deficiência; Visitante que chegar ao museu de bicicleta. Às quartas-feiras a visitação é gratuita para todo mundo!
Meia-entrada: Pessoas com mais de 60 anos; Estudantes de escolas particulares e universidades; ID Jovem: Pessoas de baixa renda com idade entre 15 e 29 anos que estejam inscritas no CadÚnico; Professoras/es.
Local da venda de ingresso: diretamente na bilheteria do museu (somente pagamento em dinheiro) ou online pelo site Sympla (pagamento via cartão de crédito, PIX ou boleto - este disponível apenas para compras com pelo menos 7 dias de antecedência).
Lembramos que não é permitido circular dentro do museu com bolsas e mochilas de porte médio ou malas, mas há no local guarda-volumes gratuitos para itens de porte médio, sujeito à lotação.
Local: Salão Principal MAC Niterói
Endereço: Mirante da Boa Viagem, s/nº - Boa Viagem - Niterói
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