Admirado por nomes como o do presidente Juscelino Kubitscheck de Oliveira, que o seguia aonde fosse, o baixo cantante Zé Tobias, de timbre raro em nossa música, manteve-se sempre fiel ao cancioneiro brasileiro. Respeitado como um dos grandes intérpretes da MPB, em sua carreira, Zé Tobias gravou os principais compositores brasileiros como Dorival Caymmi, Chico Buarque de Hollanda, Ataulfo Alves, Sivuca, Luiz Gonzaga, Tito Madi, e muitos outros.

Nascido em 6 de março de 1928 na periferia de Recife, em Pernambuco, e radicado em Niterói, José Tobias de Santana formou seu cantar na melodia das águas do Capibaribe, no convívio com Capiba, Luís Bandeira e outros renomados amigos.

Começou sua carreira aos 19 anos, logo após abandonar precocemente sua segunda paixão, o futebol. Logo após a vitória de seu time contra o time da Rádio Jornal do Comércio de Recife, ele comemorou no chuveiro ao som de 'Marina', de Dorival Caymmi. Ao ouvi-lo cantar, o programador da rádio, Ubirajara Mendes, que tinha ido ao vestiário com a intenção de contratá-lo para o futebol da emissora, o convidou para ir até a emissora, uma das mais importantes do País naquela época. Nunca mais parou.

Em 1950, Tobias faria suas primeiras gravações (ainda em 78 rotações), com arranjos e acompanhamento de Sivuca, para as músicas – até então inéditas – 'Acauã', de Zé Dantas e Luiz Gonzaga, e 'Chora Baixinho', de Zé Dantas. Na Rádio Jornal do Comércio na capital permaneceu até 1955, quando se mudou para Niterói, sendo levado para a Rádio Tupi por João Calmon. E com ele veio junto o instrumentista Sivuca.


Foto de Leo Zulluh


Da Tupi do Rio de Janeiro foi para a Rádio Record de São Paulo e passou a realizar dois programas semanais nas duas emissoras. Em 1955, explodiu nas rádios com a gravação de "Saudade de Itapoã", de Dorival Caymmi.

Na década de 1960, Tobias foi para São Paulo, contratado pela Rede Record. Além dos programas da TV, participou de diversos shows, concertos e montagens teatrais de grande sucesso, como Tio Samba, do produtor americano Bill Hitchcock.

Em 1960 gravou seu primeiro LP, com arranjos do Maestro Guio de Morais. No ano seguinte lançou "Poema triste", LP no qual interpretou de sua autoria, a "Balada da solidão" e "Só voltou de madrugada"; além de "Negro" (Ronaldo Bôscoli e Roberto Menescal) e "Hoje é Domingo outra vez" (Peterpan).

Em 1965 voltou ao estúdio para gravar o LP 'José Tobias', que continha, entre outras canções, 'Das Rosas', de Dorival Caymmi; 'Jangada', de Hervé Cordovil e Vicente Leporace; 'Acalanto', de José Di e Luiz Vieira; 'Canta Maria', de Geraldo Vandré; Rio Triste de Tito Madi; e Prelúdio Para Ninar Gente Grande, de Luiz Vieira.

José Tobias voltou para o Rio de Janeiro em meados dos anos 1970 para trabalhar na Rádio Nacional, onde teve um programa dominical de sucesso durante muitos anos.



Em 1978 foi o cantor escolhido para interpretar as músicas de Joubert de Carvalho, na série 'Grandes Autores, Grandes Intérpretes', com arranjos e regência de Radamés Gnattali. Em 1982, a convite do selo Marcus Pereira, gravou o LP 'As Mais Belas Canções Brasileiras', trazendo músicas de compositores como Francisco Alves, Chico Buarque, Vinicius de Moraes, Dolores Duran, Ary Barroso, Sílvio Caldas, Ataulfo Alves, Tom Jobim, Geraldo Vandré, Dorival Caymmi, Ary Barroso, Capiba e Antônio Maria.

Ao produzir um dos melhores álbuns de sua carreira, "Rapsódia Brasileira" (1984), acompanhado por Radamés Gnattali, Camerata Carioca e Octeto Brasilis, Hermínio Bello de Carvalho escalou José Tobias como intérprete e o definiu como "um cantor de mil cantorias".

Em 2017, o Selo institucional da Prefeitura de Niterói, Niterói Discos, lançou o CD 'Zé Tobias'. "Loucura". Foi como Tobias definiu a ideia dos amigos Altay Veloso (direção musical) e Paulo Cesar Feital (produção artística), sugerindo que ele gravasse um disco em comemoração às suas nove décadas de vida e fizesse um show de lançamento.

"Tem um momento na vida em que você acha que já fez tudo que tinha para fazer e está na hora de descansar, deixar a vez para os garotos. Mas os dois me convenceram, e fui em frente" — explica o músico. O disco "90 anos de música popular brasileira" tem composições de grandes ícones do gênero, como Vinicius de Moraes, Ary Barroso, Luiz Gonzaga, Orlando Silva e Ary Barroso, "que vivia pedindo que eu a gravasse 'Por causa desta cabocla'". Gravou também a inédita "Nada de morrer", uma música escrita pelo seu filho, Joka Santana.

Zé Tobias não sabe citar ao certo qual seu melhor período entre tantos no mundo da música, mas se lembra com carinho de um festival em São Paulo, realizado em 1960, do qual saiu vitorioso depois de ir para a final competindo com Sílvio Caldas.

Por mais que recebesse convites para viagens ao exterior e gravações ao sabor do mercado, Tobias construiu aquele espírito que também era característica do conterrâneo compositor Capiba: gostava de ficar no seu "ninho", não tinha ganâncias e tão pouco abria mão de alguns princípios que construiu durante sua carreira.

Fotos de Leo Zulluh


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Publicado em 19/08/2022

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