Capítulo 24 da Série "A Niterói que eu vi e a que viram meus avós", de Romeu de Seixas Mattos

A Avenida Ernani do Amaral Peixoto, inaugurada em novembro de 1942, fez desaparecer mais tarde a Travessa Mauriti.

Essa travessa era o remanescente que chegou aos nossos dias da antiga estrada para Santa Maria de Maricá, a qual também passava pela Travessa da Pedreira (atualmente com o nome de Cadete Xavier Leal), cujo alinhamento coincidia mais ou menos com o prolongamento da Travessa Mauriti.

A antiga e desaparecida Estrada para Santa Maria de Marica cruzava logo adiante com a Estrada para São João de Carahy, seguindo desse cruzamento em diante por um só caminho, mais ou menos em reta, em direção do Theatro Santa Thereza atual Theatro Municipal João Caetano, em frente ao qual se pretendia fazer uma praça naquela época (1842).

O cruzamento dessas duas estradas, que não mais existem hoje, correspondia ao cruzamento da Rua da Conceição com o lado da Praça Santo Alexandre, também chamada Largo do Capim, onde existe o edifício da Prefeitura Municipal de Niterói e que tem nome de Rua Acadêmico Walter Goncalves, atualmente.

Esse cruzamento foi citado pelo Desembargador Joaquim José de Queirós, executor do Alvará Régio de 10 de maio de 1819 como justificativa para escolha do local para a instalação de Pelourinho em 11 de agosto seguinte, na criação da Vila Real da Praia Grande.

O cruzamento citado pelo Desembargador Joaquim José de Queirós ficava, como todos sabem, no desaparecido Campo de Dona Helena Francisca Casimira, de onde foram desmembradas as duas praças (do Capim e da Memória) onde hoje existem o Edifício da PMN, na primeira, e o Monumento Comemorativo do Beija-Mão de D. João VI em 1816, na atual Praça General Gomes Carneiro, também conhecida como a do Rink.

A desaparecida Travessa Mauriti teve, anteriormente, o nome de Travessa Angular, como se pode ver por um anúncio publicado no nº 112 do jornal "A Pátria" de quarta-feira, 11 de março de 1863: "Na Travessa Angular nº 17A, portão, necessita-se de um homem que entenda de horta".

O jornal 'A Pátria' era uma folha noticiosa, política, literária diária, que naquela data estava no seu oitavo ano de publicação e cuja redação ficava na Rua do Príncipe (atual Barão do Amazonas) esquina da Rua de São Pedro, no mesmo prédio onde, mais tarde, funcionou por muito tempo a redação de 'O Fluminense' posteriormente, o 'Diário Fluminense', local onde se constrói agora moderno edifício.

Em 1903, quando voltei a residir em Niterói, encontrei ainda, nessa Travessa Mauriti, uma chácara de plantação de flores com entrada por uma porta larga sob o nº 17A, que acredito fosse a mesma de que trata o anúncio publicado no jornal 'A Pátria' de 1863.

Essa chácara de flores era contígua ao terreno do prédio nº 65 da Travessa Mauriti, na esquina da rua Barão do Amazonas, antiga Rua do Príncipe.

No começo deste século XX, morava nesse prédio de nº 65 a família do Dr. Souza Soares; mais tarde residiu nele o Coronel Cantidiano Gomes da Rosa, Oficial do Registro Civil da 1º Circunscrição e Prefeito Municipal de Niterói de junho de 1922 a julho de 1923, conforme legenda sob sua fotografia publicada no Álbum de Nictheroy, editado pelo Bacharel em Direito Júlio Pompeu de Castro Albuquerque, em 1925. Finalmente, depois que foi desapropriado pelo Estado para a faixa de abertura da Avenida Amaral Peixoto, esteve ocupado por um escritório de propaganda eleitoral de um partido político de que não guardei o nome.

No início desta travessa do lado da Conceição, havia uma entrada particular com o nº 7 onde existiam seis casas e terreno. Na primeira casa dessa entrada particular faleceu uma jovem e, no velório ocorreu um fato interessante que foi noticiado pelo jornal 'A Noite' do qual retirei um recorte.

Infelizmente, porém, não encontrei o recorte que guardei há bastante tempo, por isso vou relatar o fato com os elementos ao alcance da memória.

Certa noite, cerca das vinte e duas horas, estava um indivíduo parado na esquina da Rua Barão do Amazonas com Saldanha Marinho, quando por ali passou uma jovem elegante e atraente. Pretendendo realizar uma "paquera" o homem acompanhou-a e com ela puxou conversa, seguindo os dois palestrando até a esquina da Travessa Mauriti, quando a moça entrou pela travessa, parando em frente à entrada particular nº 7. Ali despediu-se delicadamente dizendo que ia para um velório e que talvez voltasse.

Após uma longa espera, o indivíduo resolveu ir até a casa do velório e teve grande surpresa verificando que a pessoa morta era a moça com quem estivera conversando.

A construção do edifício Gold Star, na Rua da Conceição, e a construção de três edifícios na Avenida Amaral Peixoto acabaram de vez com o trecho remanescente da antiga estrada para Santa Maria de Maricá, que foi posteriormente a Travessa Angular e finalmente Travessa Mauriti.

Agora, dessa antiga estrada para Maricá resta apenas, como remanescente, a Travessa da Pedreira, atual Rua Cadete Xavier Leal, porque outros trechos dela, que passavam pelo Largo do Chafariz, por São Lourenço e Caminho do Fonseca estão hoje transformados em ruas, alamedas e estradas asfaltadas.

Através do edifício Gold Star existe uma passagem para a Avenida Amaral Peixoto, porém essa passagem é perpendicular, ao passo que a Travessa Mauriti era diagonal.

O terreno da antiga estrada para Santa Maria de Maricá, no trecho que passava pela Travessa Mauriti e Travessa da Pedreira (atual Cadete Xavier Leal) estava fora dos limites da sesmaria concedida ao índio Arariboia, porque ficava no acrescido de Marinhas que, evoluindo, formou a Ponta d'Areia e, continuando nessa evolução, ligou-se à ilha da Armação passando de cabo a istmo, de istmo a península, daí resultando as duas enseadas das quais uma já desapareceu e outra está se transformando com o advento do Projeto Praia Grande, conforme já demonstrei em outros trabalhos publicados.


Publicado originalmente em O Fluminense, em 05 de julho de 1974
Pesquisa e Edição: Alexandre Porto


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Publicado em 18/10/2024

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