Lêda Watson e Keiko Mayama são duas atuantes artistas plásticas que vivem momentos importantes de suas carreiras e vão expor simultaneamente no Centro Paschoal Carlos Magno, em Icaraí. As semelhanças entre elas começam e terminam aqui. Leda é niteroiense e com sua segunda individual na cidade, depois de 18 anos, faz um reencontro emocionado com a terra natal. Keiko é japonesa, mas adotou Niterói e com a mostra celebra 10 anos do seu atelier em Itaipu.

Na Galeria Quirino Campofiorito, no primeiro andar do CCPCM, Lêda vai reunir 17 gravuras recentes e 13 minigravura que fazem uma retrospectiva de seu trabalho, todas em metal. Já a Sala Hilda Campofiorito, no segundo andar, será ocupado por Keiko, quarto artistas convidados e 33 alunos e ex-alunos que mostram peças em cerâmica, de utilitários a esculturas contemporâneas. As duas exposições serão inauguradas amanhã e ficam em cartaz durante todo este mês.

Sobrinha do pintor Quirino Campofiorito, a niteroiense Lêda, então recém-casada, preferiu adotar o sobrenome do marido, Watson, sem qualquer tradição nas artes plásticas. A iniciativa fazia parte da tentativa de abrir seu próprio caminho. Hoje, como gravadora reconhecida e com muitos prêmios, volta a expor em sua cidade natal ao mesmo tempo que reencontra as raízes familiares. "Meu tio sempre apreciou meu trabalho, achava a técnica de gravura em metal muito difícil e tinha orgulho por eu ter me dedicado a ela. É uma emoção expor na galeria que leva o nome dele e em Niterói", afirma.

Na individual Sonhos, que entra em cartaz amanhã, Leda vai mostrar produções recentes nas quais usa duas técnicas novas: a mistura da textura de madeira com gravura em metal e a utilização de um verniz que dispensa o vidro para proteger a obra. "Cada linha exige um trabalho demorado, mas vale a pena saber que essa arte múltipla, com edições numeradas, chega a um maior número de pessoas", afirma Lêda, revelando um dos motivos pelos quais é fascinada pela gravura. Sua escolha rompeu, com coragem e talento, a tradição de duas gerações Campofiorito - seu avô Pedro também era artista plástico - de dedicar-se a pintura.

Depois de cursar a Escola Nacional de Belas Artes no Rio de Janeiro, Lêda acompanhou o ex-marido, que era diplomata, em algumas missões ao exterior. De volta ao Rio, incentivada pela amiga e hoje escritora Marina Colassanti, resolveu aperfeiçoar-se na gravura. Para isso frequentou, de 1968 a 1969, o atelier do artista Orlando Dasilva. No ano seguinte, uma nova transferência, desta vez para a França, onde Lêda deu o grande salto de sua carreira. Dividida entre o atelier do famoso gravador Friedlander e a Ecole Nationale de Beaux Arts, em Paris, foi conquistando reconhecimento.

Em 1973, seu último ano na França, teve muitas vitórias. Para começar, recebeu menção honrosa no Salão de Artistas Franceses. Vendeu também várias edições fechadas de suas gravuras, representadas hoje na Biblioteca Nacional de Paris, e foi escolhida pela Societé Femmes Bibliophile para ilustrar o novo livro que iriam publicar. O anterior havia sido ilustrado por Salvador Dali. "Neste mesmo período, meu ex-marido foi transferido para Brasília e como para fazer esse trabalho eu precisaria permanecer em Paris, optei pela família", conta Lêda que na época tinha três filhos pequenos.

A decisão rendeu muitos frutos para a vida artística do Distrito Federal, onde ela mora até hoje. No seu atelier foram formados novos gravadores durante 12 anos e, convidada a trabalhar na Secretaria de Cultura do Distrito Federal, criou o primeiro Museu de Arte de Brasília e o Clube da Gravura, entre muitas outras iniciativas. Atualmente, afastada dos cargos públicos e aposentada como professora, dedica-se integralmente a sua arte. Em Sonhos, sua nova série, Lêda faz uma viagem mística. "Sempre fui muito cética mas, depois que tive um problema no joelho, passei a buscar um entendimento daquela situação e foi quando descobri a espiritualidade", conclui ela.

Atelier de cerâmica festeja aniversário

A artista plástica Keiko Mayama tem várias razões para festejar. Seu atelier em Itaipu, que já formou muitos ceramistas, está completando este ano uma década de atividade ininterrupta. Ao mesmo tempo, as peças que aparecem na novela Torre de Babel como criações do personagem Bruno, vivido por Stênio Garcia, são todas assinadas por ela. Para completar. Niterói, cidade que escolheu para viver, vai realizar o evento Japão Ciência e Cultura e Keiko uma das artistas nipônicas convidadas a expor. Integrada a essa última iniciativa, uma mostra com obras produzidas por Keiko e pelos seus alunos ocupa a partir de amanhã a Sala Hilda Campofiorito, em Icaraí.

Na exposição 10 Anos do Atelier Keiko Mayama vão estar reunidas também peças dos artistas plásticos Icléa Eccard, João Wesley, Liliane Porto e Silvia Branco, além das criações de mais 33 alunos e ex-alunos. "Meu atelier é frequentado por pessoas muito diferentes e por isso cada obra tem um estilo próprio. Mexer com o barro faz com que a gente se volte para a raiz, para a terra, descarregando e recarregando as energias", explica Keiko que dá aulas para alunos de todas as faixas etárias, dos 6 aos 80 anos, e profissões. Alguns planejam seguir carreira, outros buscam apenas uma forma de terapia, mas nenhum deles quer deixar de produzir cerâmicas.

Quando começou a participar do atelier, em 1997, a paisagista Fátima Portugal pensava simplesmente em aprender a confeccionar jarros e vasos para fazer seus jardins. Hoje, a paixão pelo trabalho em barro é tão grande que ela pretende se profissionalizar. "Gosto das duas atividades, mas, se tiver que optar por uma, será pela cerâmica", afirma. Enquanto Fátima já usava a composição artística antes de ter aulas com Keiko, a doutora em física Mônica Bahiana tinha um cotidiano bem diferente. "Sou professora e pesquisadora da UFRJ e a cerâmica é minha terapia há dois anos", revela.

Depois de aposentar-se como dentista, Sônia Corrêa buscava uma forma de continuar exercitando sua habilidade manual. "Há três anos eu planejava estudar com Keiko mas apenas agora consegui realizar este sonho", diz ela, revelando que sua grande alegria é poder presentear os amigos com suas criações. Para o jovem fotógrafo Wilson Costa, a entrada no atelier representou a possibilidade de uma mudança profissional. "Estou ainda na fase de pesquisa de linguagem e material e não quero parar mais, afirma.

Formada em Filosofia, Lourdes Dias dedicava-se apenas a família quando decidiu entrar no atelier. "Ali eu vivo momentos muito bons, de encontro comigo mesma", resume. São de zenas de histórias diferentes, traduzidas nas peças que vão permanecer expostas na Sala Hilda Campofiorito até o dia 30 deste mês. Keiko Mayama, ceramista há duas décadas, quer democratizar ainda mais a técnica e realiza um workshop gratuito no Museu do Ingá entre os dias 18 e 23 de agosto de 1998. As pessoas e escolas interessadas em participar e também em fazer uma visita orientada a mostra devem ligar para o telefone 609-9456.


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Publicado em 12/05/2014

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