O Centro Cultural Paschoal Carlos Magno recebe nesta quinta-feira, 9 de setembro de 1982, às 21h, uma exposição em homenagem aos 80 anos do artista plástico Quirino Campofiorito.
Quirino Campofiorito nasceu num dia 7 de setembro, em frente a um quartel de polícia do Pará e ao som do Hino Nacional. Não obstante essa quase que premonição nacionalista, ele teve que literalmente fugir da Itália fascista, em meados da década de 30, para evitar que a polícia do "Duce" chauvinisticamente impingisse a ele e ao filho que crescia no ventre de Hilda, sua mulher, a cidadania italiana.
Essa passagem, que marcaria o início da politização do até então simplesmente pintor rebelde, terminaria no Brasil de uma forma irônica: fugindo do totalitarismo de Mussolini - Campofiorito tinha ido para a Itália em 1930 completar os estudos de Belas Artes - não conseguindo escapar dos amigos arquitetos e engenheiros que haviam, nesse meio tempo, aderido ao Integralismo. Meio confuso com o clima político do país, chegou a fazer uma conferência para eles, que o haviam dado como um dos seguidores de Plínio Salgado, porque retornara no navio vestindo uma camisa verde - a cor da moda em Londres, por onde passou antes de voltar ao Brasil.
Filho de imigrantes italianos, Quirino Campofiorito nasceu no Pará em 1902. Aos 14 anos, desceu para o Sul com a família que, após uma breve estada no Rio, acabou se fixando em Niterói. Começou nas artes plásticas à revelia do pai, o pintor e arquiteto Pedro (Pietro) Campofiorito, que preferia tê-lo como um advogado.
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O pintor e architecto Quirino Campofiorito, premio de Viagem da Escola Nacional de Bellas Artes em 1929, e sua esposa, Hilda Eisenlohr, tambem pintora, que seguiram hontem para a Europa, a bordo do "Almirante Alexandrino". Revista Fon-Fon, 31/05/1930. |
"Meu pai chegou a me dar o dinheiro para me matricular em Direito. Saí para a matrícula, mas no meio do caminho, entrei na Escola Nacional de Belas Artes, e fiz minha inscrição. Ele só soube depois que eu estava estudando, mas acabou me dando uma força", conta com sorriso no rosto.
Além da Enba, cursou a Academie Julien de Paris (1930), a Academie de la Grand Chaumière, também de Paris (1931) e, no ano seguinte, a Ecole di Belle Arti di Roma, o Circulo Artístico de Roma e a Academia Inglesa de Roma. Aposentado em fim da década de 60 pelo Al-5, quando lecionava na Enba, guarda desse episódio um sentimento de orgulho:
"Se eu não tivesse sido cassado pelo Ato 5, acho que teria morrido, não estaria hoje comemorando meus 80 anos. Pois, para mim, isso é como um reconhecimento de que não fui conivente com tudo isso que o Brasil passou desde 64", afirma.
O orgulho é consequência de toda uma vida ligada, primeiro, à vontade ainda que de uma forma ingênua transformar a arte, e, depois, já temperado pelas incríveis mudanças políticas dos anos 1930, aos movimentos sociais que clamam por uma sociedade mais justa. Como homem de esquerda, teve dissabor de enfrentar a prepotência do Estado Novo e a repressão política e cultural que se seguiu ao golpe de 1964.
Campofiorito completa 80 anos na próxima terça-feira. No dia 9, inaugura uma exposição no Centro Cultural Paschoal Carlos Magno. Na mesma ocasião, receberá, com sua Hilda, o título de Cidadão Niteroiense, e será condecorado com a "Medalha Araribóia", em solenidade presidida pelo Prefeito Armando Barcellos.
Para a exposição, Campofiorito no reservou nenhuma obra inédita. A mostra, no entanto, para não deixar de apresentar uma unidade, será feita com telas onde homenageia personalidades que adimira, como Brecht, Leonardo da Vinci, Kate Kollowitz, Charles Chaplin, Joseph Albert, Mallewitz e Pablo Picasso. A esposa Hilda Campofiorito também participará da mini-retrospectiva, com um retrato do marido, pintado há 50 anos, quando os dois estudavam na Itália.
Profundamente crítico em sua pintura, também militou na imprensa. Em sua obra, contam-se ainda contribuições nos campos de desenho, caricatura, ensino, gravação e crítica de arte. Durante as comemorações do IV Centenário de Niterói, escreveu num opúsculo relativo à exposição comemorativa que fez, na Galeria do Campo:
"Acompanhei o meu tempo. Não com a velocidade que este impunha para segui-lo lado a lado. Procurei, porém, não ficar muito atrás, o que pode ser constatado na totalidade da obra que realizei (...)
Não ficou.
Baseado em uma matéria de O Fluminense
SERVIÇO
Exposição "80 anos de Quirino Campofiorito"
Data: de 9 de setembro a 10 de outubro de 1982
Entrada Franca
Centro Cultural Paschoal Carlos Magno
Rua Lopes Trovão, s/n - Icaraí