Um utiliza pontas de cigarros. O outro, cartões postais e flores. Marcos Cardoso se considera o artista do acaso, enquanto Edmilson Nunes combina propositalmente diversos elementos. Apesar da aparente diferença, a dupla tem algo em comum: são os únicos artistas plásticos radicados em Niterói que terão trabalhos expostos no Museu de Arte Contemporânea (MAC), que será inaugurado em setembro, no bairro da Boa Viagem. Quem quiser conhecer um pouco da técnica dos dois, poderá ir ao Centro Cultural Carlos Magno, que abre a Sala Raul Seixas para os artistas, na próxima quarta-feira.
Ha cerca de dois anos, o colecionador João Satamini comprou dois trabalhos de Edmilson e um de Marcos. Os dois não imaginavam, no entanto, que um dia essas obras seriam doadas ao MAC. Um dos trabalhos de Edmilson Nunes que será exposto foi o primeiro premiado no Salão Carioca de 1992, no Parque Lage: 'Anais Anais', em que pintou de vermelho o rótulo do perfume. A outra obra, 'Paternidade', passa um toque de religiosidade.
A obra de Marcos Cardoso que ficará em exposição no MAC não tem título. É um meticuloso trabalho feito a partir de 80 mil pontas de cigarro. O artista utilizou uma rede de pesca e transformou-a numa bandeira do Brasil estilizada.
Duplas - Lançada há um ano, a nova programação do Centro Cultural Paschoal Carlos Magno exibe mensalmente uma dupla de artistas numa pequena mostra acompanhada de exibição de vídeos e slides. Edmilson Nunes (instalação) e Marcos Cardoso (gravuras) apresentarão dois trabalhos cada um.
Edmilson Nunes nasceu em Campos, formou-se em Arquitetura e Urbanismo pela UFRJ e fez cursos de pintura na Escola de Belas Artes da faculdade e no Parque Lage. Edmilson diz que procura demonstrar, nos seus trabalhos, a preocupação em reconstituir o universo artístico dos anos 80 através do uso de elementos da comunicação de massa, mergulhando na temática popular, chegando até o universo kitsch e misturando mitos religiosos e os prazeres do sexo.
"A arte deve funcionar como a reconstituição do real. Esta é a razão pela qual os trabalhos aparecem de forma impulsiva, aos trapos e farrapos, em nacos e pedaços", explica.
Amor e morte - Segundo ele, "a exuberância pode ser analisada como a expressão de uma apreciável dimensão trágica, no amor, no desregramento dos sentidos. O barulhento Dioniso é ao mesmo tempo o deus do amor e da morte".
Marcos Cardoso, nascido em Parati, mudou-se para Niterói em 86, quando veio cursar Educação Artística na Faculdade de Belas Artes da UFRJ. Frequentou também o Atelier de Gravura do Parque Lage e o da própria UFRJ. Marcos lembra que começou a fazer arte com 28 anos. "Sempre gostei de fazer trabalhos manuais. Quando morava em Parati vinha ao Rio mostrar e vender trabalhos feitos com papel machê", lembra.
Hoje, Marcos Cardoso não utiliza mais esta técnica. Em sua nova fase, prefere guimbas e restos de fumo. Lygia Pape, uma das maiores artistas contemporâneas do Brasil, acredita que Marcos "metamorforizou-se pelo mito do carnaval, reciclando pó e pano em palácios e castelos, faz-de-conta sem fim".
Para quem quiser conferir, o Centro Cultural Paschoal Carlos Magno fica no Campo de São Bento, na Avenida Roberto Silveira, em Icaraí.