Tombamento municipal em 04/06/2001
Lei n° 1.835/01
Rua Benjamim Constant, s/n° - Bairro Santana
A Igreja de São Lourenço da Várzea foi criada para ser a nova sede da antiga freguesia de São Lourenço, já que a Igreja de São Lourenço dos Índios, além de estar, no fim do século XIX, em péssimo estado de conservação, era considerada de difícil acesso para uma região em franco desenvolvimento. O terreno escolhido pertencia ao Tenente Coronel João Nepomuceno Castrioto e a construção foi iniciada em 1873. Embora houvesse celebração de cultos normalmente, as obras da igreja só foram concluídas em 1892. Como marco de sua inauguração, foi, em 1893, realizada a bênção da "Cruz Nova".
A ideia de sua construção tem como argumento, sem dúvida, a decadência do aldeamento dos índios de São Lourenço, principalmente após 1850, quando cessaram as missões, a ponto de, em 1866, ser considerado extinto, passando o minguado patrimônio dos gentios para o Estado.
Em 1855, foi cogitada a transferência da Matriz para a Capelinha de Santana, então existente na fazenda de Castrioto. Pensou-se em fazer obras no referido imóvel, ideia logo abandonada pela de construção de uma nova igreja, pois, além de ser pequena para o crescente número de devotos, não oferecia segurança alguma, já que começava mesmo a se fazer sentir o início das suas ruinas.
Depois de vários estudos preliminares e da visita a diversos logradouros da jurisdição paroquial, a escolha recaiu sobre um terreno elevado, também de propriedade de Castrioto, no trecho denominado pelo povo de "Encruzilhada do Fonseca", às margens da então Enseada de São Lourenço. Daí o nome de Igreja de São Lourenço da Várzea.
A Igreja às margens da Enseada de São Lourenço. Revista Fon-Fon, 1924
Submetida a escolha do terreno à Presidência da Província, esta não se opôs, e foi feita a avaliação, que montou em "seis contos de réis", tendo o mencionado proprietário entrado com a terça parte, sendo o restante coberto com os donativos angariados.
Para a obtenção de recursos para a a construção da nova matriz, conseguiram obter da Assembleia Legislativa Provincial, o Decreto n.º 1.548, de 14/12/1870, que concedia a quantia de "50 contos" por conta da verba "de matrizes", do exercício de 1870 a 1871.
Projeto
O projeto figura no livro de tombo da igreja, em anotações da autoria do pároco, padre José Rangel de São Paio, como de autoria do Sr. Joaquim Moreira da Silva, arquiteto da Secretaria de Obras Públicas. Todavia, no volume 3.º da Revista Renascença, número de janeiro a junho de 1905, o Prof. Araújo Vianna, no seu artigo intitulado "Heitor de Cordoville", fez referências a esse arquiteto, que falecera subitamente, dando-o como autor do projeto, pois, declarou textualmente, "riscou a igreja de São Lourenço, em Niterói; e colaborou nos desenhos para ornamentação de mármore do interior da igreja da Candelária, iniciada e concluída sob a direção do Dr. Antônio de Paula Freitas".
|
Heitor de Cordoville |
O que é possível conjeturar é que o referido mestre fora convidado para aquele encargo pela comissão, tendo esta a fim de satisfazer formalidades inerentes, apresentado o respectivo projeto ao arquiteto da Secretaria de Obras Públicas, que o visou ou aprovou; daí a confusão criada pela afirmação do autor das notas escritas no livro de tombo.
Heitor de Cordoville era um cultor apaixonado dos estilos clássicos, especialmente os pertinentes ao Renascimento italiano, daí não restar dúvida quanto à autoria do projeto.
Tem a assinatura de Cordoville, por exemplo, a mudança do formato da torre, que primeiramente seria construído na forma de uma flecha aguda, e foi substituído por um zimbório encimando os dois corpos decorados de colunas jônicas. Sua fachada principal é dominada pela torre central que avança em relação ao resto da construção e divide-se em três níveis de ordens (dórica, jônica e coríntia). Todo o embasamento da igreja é de pedra.
O templo é em suas linhas clássicas, imponente, e é sui-generis, pela majestade da torre única, de rara beleza arquitetônica, tudo a retratar Cordoville, o estilista apaixonado pelo Renascimento italiano. Mede a igreja em toda a sua extensão 55 metros de comprimento, variando a largura, que tem 8 metros e meio na sacristia e 20 metros e meio na linha do batistério. Do seu ponto mais alto ao rés do chão, mede 44 metros e 80 centímetros.
Obras
O projeto, em estilo eclético, de tendência neoclássica, foi submetido à aprovação do Dr. Alfredo de Barros Vasconcelos, Diretor da Secretaria de Obras, este fez ver à Comissão que, o custo da imponente obra, seria muito superior à dotação orçamentária concedida pelo governo do Estado. Por portaria de 21 de junho de 1873, foi incumbido de executar as obras, o Engenheiro Inspetor Luís Antônio de Miranda Freitas.
Realizada em fins de 1873, a solenidade do lançamento da pedra fundamental contou com a presença do Presidente da Província, Manoel José de Freitas Travassos, elevado número de convidados, o clero e a população. Todavia, as obras só tiveram início em princípios do ano seguinte. A primeira casilha do madeiramento foi batida pelo Conselheiro Francisco Xavier Pinto Lima". Em 10 de agosto de 1883 houve solene bênção da "Cruz Nova", e, no templozinho do outeiro de São Lourenço, celebrou-se solene "Te-Deum".
Revolta da Armada e Sinos
Além dos problemas mais ou menos comuns em uma obra de tão grande porte, como a falta de verbas, o andamento da construção também foi prejudicado pela Revolta da Armada, que conflagrou a baía de Guanabara de 6 de setembro de 1893 a 13 de março de 1894, pois ela foi ocupada como quartel pelo 34º Batalhão de Infantaria da Guarda Nacional de Niterói. A torre serviu de posto de observação militar, pois dela se descortinava ampla vista panorâmica de grande parte da cidade e da baía. Apesar de atingida por balaços dos navios em "pé de guerra” na baía, não sofreu danos de monta.
Em 1891, foram instalados na imponente torre dois sinos tendo os nomes dos doadores gravados no bronze. As inscrições têm, no sino maior, o seguinte teor: "Glória in Excelsis Deo, oferta de José Pereira de Sousa - 1887". No menor, "João Lopes Bastos seus filhos e genros - 1887". Há ainda gravada, também em bronze, a imagem de N. S. da Conceição.
O interior do templo é igualmente belo e acolhedor, possuindo seis altares laterais em arco romano, e, sobre os mesmos, compondo-os com elevado gosto artístico, vêm-se figuras de anjos, bem proporcionados e em diversas atitudes de grande espontaneidade. Na pintura predominam as cores branca e dourada. Lustres de cristal pendem de seu teto e merece destaque o órgão, localizado no coro, no qual, durante muitos anos, tocou o maestro José Botelho.
A capela principal é muito bela, bem como o altar-mor que é uma ampliação do estilo dos altares laterais. Ornam o teto da alta nave, caprichosos ornatos, e alguns painéis que surgiram quando das obras realizadas no período de 1934 a 1935. A inauguração da luz elétrica data de 1º de maio de 1913, ficando as despesas em "3:581$680", devendo-se esse progresso aos Srs. Coronéis Pedro de Sousa Ribeiro e Júlio de Meneses Fróis, D. Francisca Madeira Moreira e à família Saramago.
Confusão com o nome
Fato curioso é sem dúvida, a denominação errada que muitos dão ao templo, chamando-o de "Igreja de Santana". Deve-se incontestavelmente, essa falsa conclusão, vinda dos tempos do Império, à via pública fronteira ao mesmo, que outrora era denominada Caminho de Santana - hoje rua Benjamim Constant.
Com a construção ali do templo, a primeira "Companhia de Bondes de Niterói (Companhia Ferro Carril Niteroiense) criou um ponto de seção dos bondes de linha Barreto e o povo logo denominou o lugar de "Ponto de Cem Réis de Santana": daí a confusão que até hoje perdura entre muitos, acerca do no medo templo.
Com efeito, a região compreendida entre o antigo Largo da Ponte de Pedra e as proximidades do Largo do Barradas forma hoje o já conflagrado Bairro de Santana.
No ano de 1915 iniciou -se a primeira reforma da igreja, também contando com diversas doações. Como obras complementares, construiu-se, em torno da igreja, vistoso jardim, embelezado na gestão do prefeito Ribeiro de Almeida.
Posteriormente, a Prefeitura iluminou parte da rampa de acesso, que outrora se prolongava até ao alinhamento da Benjamim Constant, tomando o aspecto atual, sem prejuízo algum para o logradouro, que à partir de 17 de julho de 1928, passou a denominar-se praça D. Agostinho Benassi, em virtude da inauguração, naquela data, do busto do bispo, de autoria do escultor Laurindo Ramos, que soube, com mestria, imortalizar, no bronze, as feições do piedoso pastor de almas.
Em 1933 novamente decidiu-se por mais uma reforma na igreja, formando uma comissão tendo entre os integrantes João Brasil, José Rodrigues Coelho e os comerciantes Eduardo Correia de Figueiredo Lima, Manuel Crista e José Ferreira Moreira; as obras foram concluídas em julho de 1935. No dia 8 de dezembro de 1956 comemorando quarenta e três anos da primeira missa foi inaugurado o novo altar do padroeiro.
Em 4 de junho de 2001, a Igreja foi tombada pela lei municipal nº 1835.
Com informações de Divaldo de Aguiar Lopes