Tombamento federal em 08/01/1955
Processo 365-T-46 - inscrição nº 425, Livro das Belas Artes Vol.1, fl.80
Praia de Itaipu, s/nº - Itaipu
Passados mais de um século da inscrição dos Remanescentes do Recolhimento de Santa Teresa no Livro de Tombo de Belas Artes, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), ainda é pouco o que se ouve falar do Museu de Arqueologia de Itaipu (MAI).
Abandonado por quase todo o século XX, existem poucos dados sobre o prédio, mas sabe-se que em 1716 havia apenas uma capela no local. O conjunto arquitetônico histórico foi por muito tempo utilizado como espaço de recolhimento de mulheres, fundado em 17 de junho de 1764 por Manoel da Rocha, a quem intitularam Protetor do Bem Comum, com a cooperação do Vigário Manoel Francisco da Costa e do Provisor do Bispado Antônio José dos Reis Pereira e Castro
Embora da maior parte dos cômodos só reste pedaços das paredes, permanecem intactos a capela (usada para exposições temporárias) e um amplo cômodo. Construída em alvenaria de pedra, com argamassa composta de conchas trituradas, areia, argila e óleo de baleia, a edificação possui janelas e portas com cercadura de cantaria. No portal simples de entrada pode ser observada uma inscrição quase ilegível, a qual data o prédio em 1785. Por ele se chega a um pátio interno, de onde se avista a pequena capela restaurada.
Sua planta é um retângulo, medindo 46 metros de comprimento por 26 metros de largura. Há predominância das linhas horizontais, devido a pouca altura do pé direito e a grande largura dos vãos, características que criam um aspecto de calma e solidez. Não existe simetria no conjunto, mas há elementos dispostos simetricamente em relação à entrada principal, que parece ser o centro de uma composição que não chegou a seu fim.
Fotos de Leo Zulluh
O Recolhimento
O Recolhimento de Santa Teresa foi tombado em janeiro de 1955 pelo Instituto Brasileiro do Patrimônio Cultural (IBPC), quase 200 anos após sua construção. Segundo o historiador João de Souza Azevedo Pizarro e Araújo, o local servia para abrigar órfãs, prostitutas arrependidas, viúvas, mulheres que desejavam viver no retiro, além das que eram obrigadas a habitá-lo por castigo de "culpas" ou para preservar a castidade durante as longas ausências dos pais ou maridos.
Posteriormente, começaram a ingressar para o Recolhimento as primeiras freiras. Já na última década do século XVIII, foi o bispo D. José Joaquim Justiano (1731-1805) quem pediu a intervenção do vice-rei D. Luiz de Vasconcelos e Souza junto à rainha de Portugal, D. Maria I (1734-1816) para confirmar a nova instituição.
Ao longo do tempo, o Recolhimento foi abandonado, tornando-se moradia de pescadores. A capela, desativada chegou a servir de cadeia. O trabalho inicial de proteção das ruínas contra a erosão pelos ventos e ações predatórias foi iniciado em 1968 e consolidado em 1974, pelo IPHAN.
A restauração manteve as linhas antigas e as ruínas, a fim de que não fosse perdida a beleza da construção. Dos seus oito cômodos, dois foram cobertos e totalmente reparados; os demais foram ajardinados com grama e outras plantas nativas da região. O corpo principal da construção passou a abrigar, desde 22 de março de 1977, o Museu de Arqueologia, devido à sua proximidade ao sítio arqueológico da Duna Grande.
O Museu
O projeto de criação foi empreendido pelo arquiteto Edgard Jacintho da Silva, com o apoio de Renato Soeiro, diretor do IPHAN à época. Foi pensado de forma a dotar o bem tombado de uma função didático-científica compromissada com a salvaguarda e a difusão do patrimônio cultural de natureza arqueológica, intensificando o turismo na região e alinhando-se às diretrizes do MEC naquele período.
Em 1982, o conjunto histórico recebeu um trabalho de consolidação de suas estruturas e restauração da capela, realizados pela Fundação Pró-Memória, sob a responsabilidade do próprio Edgard Jacintho. A pintura de sua capela recebeu motivos indígenas, tais como os Deuses da pesca e caça.
Em 1991, o local passou a ser considerado também um sítio arqueológico.
Acervo
Entre as décadas de 1950 e 60, o agente federal de fiscalização de pesca e arqueólogo amador Hildo de Mello Ribeiro, que viveu 20 anos em Itaipu, recolheu objetos da Duna Grande, reunindo 966 peças, entre machados de pedra, pontas de ossos, lascas de quartzo, polidores, batedores, moedores e machados, peças cerâmicas e conchas, utilizadas pelos povos que viveram há mais de 1.500 anos. Esse acervo foi doado ao Museu no fim da década de 1990.
Além das peças doadas por Ribeiro, o museu tem raridades, como uma urna funerária infantil, datada de 6.000 a.C, dos povos originários da região. Do mesmo período, o visitante pode conhecer blocos-testemunho, entre eles, o do sambaqui de Camboinhas, além de peças originárias do Sambaqui do Forte, da cidade de Cabo Frio. Por fim, o museu conta, ainda, com uma Canoa de jequitibá, doada em 1979 pela colônia de pescadores local, cuja construção remonta ao século XIX.
O Museu Arqueológico de Itaipu é hoje responsabilidade do Ibram, Instituto Brasileiro de Museus.
Sítio arqueológico de Duna Grande
Duna Grande é um dos mais importantes espaços onde o passado e o presente se misturam e encantam aqueles cujo trabalho é desvendar os mistérios de civilizações antigas. Na região, foram localizadas pelo menos seis áreas que compreendem sítios arqueológicos. Estudos realizados na área comprovaram a presença de tribos originárias que há mais de oito mil anos povoaram-na. Ossos e utensílios primitivos encontrados pelo sítio podem ser observados no Museu Arqueológico de Itaipu.