A Igreja de São Lourenço dos Índios é o mais significativo marco da fundação da aldeia de São Lourenço, primeira ocupação da colonização portuguesa no território que, mais tarde, se constituiria na cidade de Niterói. A igreja foi tombada pelo governo federal em 1938 e pelo governo municipal em 1992.

Considerada um símbolo para a construção da identidade dos niteroienses, a origem da Igreja de São Lourenço dos Índios está relacionada ao assentamento indígena que ali se deu, no fim do século XVI. Essas terras foram povoadas a partir da doação de uma sesmaria ao chefe temiminó Arariboia, em 16 de março de 1568, pela ajuda prestada aos portugueses na expulsão dos franceses.

A aldeia de São Lourenço foi a mais antiga povoação jesuística dependente do Colégio Jesuíta do Rio. Nos tempos em que ainda havia a Enseada de São Lourenço, o morro de São Lourenço era o mais elevado dentre os próximos do mar e por isso foi preferido para edificar sua aldeia, pois da elevação podia ver o mar e os possíveis atacantes que por ela chegassem.

Os registros históricos mostram que, desde o início da ocupação desta área, a presença religiosa se fazia marcante. A carta do Padre Gonçalo de Oliveira, datada de 1570, já anunciava uma primeira capela, em taipa, que se localizava no alto de um morro da Aldeia de São Lourenço dos Índios. Esta edificação primitiva cedeu lugar a uma outra, inaugurada em 10 de agosto de 1586, com a representação do Auto de São Lourenço.

Nesta época, a ermida era, ainda, uma capela tosca e pequena, e já antes de 1627, os jesuítas trataram de substituí-la por um templo mais apropriado, provavelmente de pedra e cal, com nave única, coro sobre a entrada e frontão triangular. No interior do mesmo foi instalada uma pia batismal de pedra de lioz, além de um púlpito para a pregação. O piso original era de tijoleiras de barro cozido, sendo o arco-cruzeiro revestido de madeira. A igreja apresentava ainda sacristia com lavabo de pedra de lioz, além de campanário-arcada com 2 sinos laterais.

Neste mesmo ano de 1627, a Capela registrou seu primeiro batismo, autorizado pelo Prelado Administrador do Rio de Janeiro, Mateus da Costa Aboim. O pequeno largo em frente à igreja, na atual Praça General Rondon, foi outrora o adro dos jesuítas, o cemitério dos índios, "cemitério dos caboclos", como era chamado sendo a mesma denominação dada à bica, hoje desaparecida, que ao tempo de aldeamento era alimentada por uma fonte.

No adro de São Lourenço dos Índios deve ter sido representada, segundo padre Serafim Leite, em 10 de agosto de 1686 (10 de agosto é o dia de São Lourenço) o "Auto de São Lourenço", preparado pelo estudante de filosofia, depois padre, Manuel do Couto. Era, ao tempo, superior o mesmo padre que fundou a primeira Igreja de São Lourenço (simples choça, anterior tomada de posse da sesmaria), o padre Gonçalo de Oliveira, capelão do exército da conquista portuguesa e da fundação do Rio de Janeiro. Ainda de acordo com Serafim Leite (História da Companhia de Jesus no Brasil) há todos os indícios de que o auto se apresentou na inauguração da Igreja, maior, mais ampla que substituiu a primeira.

Em 1758, a igreja foi incorporada ao patrimônio do Estado Português, através do alvará de 8 de maio de 1758, em decorrência da contenda entre a Coroa Portuguesa e a Ordem dos Jesuítas. Em 1769, a capela foi reconstruída, tomando a fisionomia que ainda hoje conserva, porém mantendo uma composição de traço jesuítico. A torre do sino é de 1769.

Malgrado a sua humildade, a Igreja de São Lourenço dos Índios teve a categoria de paróquia, ainda, antes de sua última reconstrução (por alvará de 1756).

Com a independência do Brasil, a Constituição Brasileira confirma, em 1824, a incorporação da propriedade ao Estado Brasileiro. Nos primeiros anos republicanos, um acordo transferia a propriedade para a Mitra de Niterói. A igreja recebeu visitas ilustres como o Príncipe Maximillian Wid-New Wid, em 1815 e o imperador Pedro II em 1841 e 1854. Em 1904 o prefeito de Niterói Paulo Alves mandou restaurar o templo e instituiu a data 22 de novembro como o dia oficial de fundação da cidade.

Tempos mais recentes

Em 1915, o prefeito Manoel Otávio de Souza Carneiro ordena a desapropriação da igreja, então em péssimo estado de conservação, por considerá-la "monumento histórico de Niterói". O processo de desapropriação foi muito lento, estendendo-se por dezenove anos. Em 1934, a igreja foi cedida à Prefeitura da cidade após entendimentos com a Mitra, passando a edificação por obras de restauração, com a substituição do madeiramento do telhado, caiação e pintura dos altares. Nesse período, o prefeito Gustavo Lyra das Silva adquire terrenos adjacentes para incorporá-los à igreja.

Em 1939, a igreja de São Lourenço dos Índios foi incorporada ao patrimônio municipal como Monumento Histórico da Fundação de Niterói. Suas reformas maiores foram realizadas nos anos de 1840, 1869 e 1933 e 2000, todas respeitando, o quanto possível, as linhas arquitetônicas originais, entretanto, a última foi além de uma reforma, ela foi totalmente restaurada e a cidade recebeu como presente no seu aniversário de 428 anos (22 de novembro de 2001) esse belo exemplar da arquitetura jesuíta totalmente recuperado. Na restauração da igreja do início do ano 2000, foi adicionada também uma representação da via sacra em pedra e novos bancos de madeira. Dois túneis que existiam sob a igreja foram destruídos na década de 1960.

Tendo em vista a evidente importância deste bem para a identidade cultural da cidade e a pertinência do reconhecimento simbólico da igreja como bem cultural de Niterói, a Prefeitura Municipal de Niterói determinou seu tombamento através da lei 1038, de 1992. Um grande projeto de restauração foi desenvolvido pela Prefeitura e em 1992, a cidade recebeu a igreja totalmente restaurada.

Arquitetura e ornamentação

A igreja localiza-se no alto de uma colina, em frente à praça. Ela tem uma orientação geral quase noroeste-sudeste, com frente para noroeste e maior eixo anteroposterior. A construção, feita de pedra, óleo e cal, tem linhas arquitetônicas simples, muito representativa da sobriedade que foi traço marcante na arquitetura dos padres jesuítas.

Monsenhor Pizarro, cuja obra, impressa em 1820, fora escrita, segundo Matoso Maia Forte, entre 1779 e 1780, fala da Igreja no morro de São Lourenço descrevendo-a "tinha o templo naquela época, paredes de pedra e cal e três altares. Media 90 palmos de comprimento por 30 de largura, desde a porta principal até o arco do cruzeiro, e, daí ao fundo, 30 palmos de comprimento com uma largura proporcionada". (Memórias Históricas do Rio de Janeiro, de Monsenhor Pizarro, pgs. 93, cit. em notas para a História de Niterói, de Matoso Maia Forte, ob. cit.).

A fachada principal é constituída por uma porta única de madeira, em folha dupla, almofadada, verga reta, seiscentista, com molduras de pedra portuguesa, características do período seiscentista português. Na parte superior, na altura do coro, três janelas em folha dupla, encaixilhadas de vidro, verga reta, também com molduras de pedras portuguesas. O seu coroamento se faz com frontão triangular, onde se encontra o óculo circular.

Possui o mesmo partido deixado pelo irmão Francisco Dias para a Igreja de Santo Inácio, no Rio de Janeiro, construída no século XVI e demolida com o arrasamento do morro do Castelo. Por outro lado, podemos encontrar esse partido na Igreja de São Roque, de Lisboa, cuja fachada fora construída, no século XVIII, na mesma época da reforma da Igreja São Lourenço dos Índios.

Na lateral direita, no mesmo nível das janelas, dois campanários. Há uma cimalha que separa o primeiro pavimento do frontão triangular, com óculo central, encimado por uma cruz. A parte inicial da parede esquerda é formada pela torre sineira que se projeta na fachada, tendo uma porta de verga reta na sua face esquerda e outra na posterior.

A planta da igreja é muito característica do espaço arquitetônico criado pela Contrarreforma e, sabiamente aproveitado pela Companhia de Jesus. Possui nave única com paredes despojadas, coro sobre o nártex, púlpito único ao lado do Evangelho, e capela-mor mais estreita contendo um vigoroso retábulo de madeira. A sacristia está disposta lateralmente.

O seu retábulo-mor, datado do final do século XVI ou início do século XVII, provavelmente é a obra de arte mais antiga da cidade. Trata-se de um trabalho de talha em madeira, de primorosa composição maneirista, classificada por inúmeros estudiosos de arquitetura brasileira como das mais representativas da primeira fase dos retábulos jesuíticos.

A parede anterior (entrada) tem em seu lado direito uma pia de água benta e no lado esquerdo a pia batismal, ambas em pedra de Lisboa do século XVII. A parede lateral direita apresenta na sua porção anterior um confessionário de madeira do século XVI e no centro um nicho com a imagem do Sagrado Coração de Jesus; na altura do arco cruzeiro uma imagem de São Lourenço e outra de Nossa Senhora. A parede lateral esquerda possui uma porta em verga reta, uma pia de pedra e um púlpito de madeira com cobertura do século XVII.

A sacristia da igreja fica à direita e nela pode ser vista um lavabo de pedra portuguesa datado do século XVII, embutida na parede, com torneira de bronze, um arcaz de madeira do século XVIII e imagens. Em um cômodo anexo há um pequeno museu com objetos coletados como louças quebradas e materiais religiosos na época da restauração da igreja e gravuras de Carlos Oswald, representando a via sacra. A igreja possui ainda um acervo com telhas da capela e um muro que foi preservado. O piso original ainda preservado é de tijoleiras de barro cozido.

FONTES: "Niterói Patrimônio Cultural", Niterói Livros (2000); Igrejas Barrocas do Brasil (2000), de Percival Tirapeli; Matoso Maia Forte, José de, "Notas para a História de Niterói, INDC, 1973; A Arquitetura Jesuística no Brasil", in Revista do SPHAN, V, 1741; Vistoria pessoal - Padre Serafim Leite, História da Companhia de Jesus no Brasil, Vol. VI. pág. 108 - Ed. do Instituto Nacional do Livro e Livraria Portugália.


Tombamento federal em 23/08/1938
Processo nº 163-T, inscrição nº 213, Livro das Belas Artes Vol.1, fl.37 e inscrição nº 247, Livro Histórico, fl. 41
Tombamento municipal em 28/02/1992
Lei nº 1.038/92
Praça General Rondon, s/nº - São Lourenço


Fotos recentes de Leo Zulluh









Publicado em 12/11/2013

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