A companhia paraense Usina Contemporânea de Teatro apresentará o espetáculo "Solo de Marajó", no Solar do Jambeiro, na quarta-feira, 06 de maio de 2015, às 20h. A montagem é inspirada na obra do romancista paraense Dalcídio Jurandir, considerado o expoente do romance regionalista na Amazônia, mas que viveu parte da vida e morreu na capital fluminense.
Em "Solo de Marajó", o ator paraense Claudio Barros narra, sozinho sobre um palco vazio, oito pequenas histórias extraídas do romance Marajó, o segundo de uma saga em dez volumes do escritor paraense intitulada "Ciclo Extremo Norte", cuja densidade e fôlego o ombreia com a produção romanesca de grandes nomes da literatura moderna brasileira.
A encenação é ousada ao assumir o palco nu para valorizar o papel do ator como contador de histórias. Mas é justamente esta escolha que potencializa a força da prosa dalcidiana. Em cena, a palavra é colocada sobre uma detalhada partitura corporal, fruto de pesquisa sobre as histórias de vida do ator e a partir da observação do corpo de pessoas que habitam o ambiente da vida rústica na Amazônia, o mesmo sobre o qual a obra se funda.
Os temas das narrativas vão desde questões de cunho social, como racismo, exploração do trabalho, tráfico de crianças e prostituição, até o universo íntimo das relações amorosas, recheadas de paixão, dor, solidão, ciúme e vingança. Esta visão multifacetada do autor levou os criadores a uma dramaturgia que não se preocupa em dar conta da fábula romanesca, mas acaba por construir um mosaico capaz de representar as relações humanas na Amazônia.
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Criado em 2009, o espetáculo marca a primeira incursão do encenador Alberto Silva Neto no universo da literatura dalcidiana pensada para a cena. Mas já no ano seguinte, premiada pela Funarte, a Usina realizaria, também sob sua direção, a montagem Eutanázio e o princípio do mundo, desta vez inspirada em "Chove nos campos de Cachoeira" – primeiro romance de Dalcídio, publicado em 1941, depois de conquistar o primeiro lugar no concurso literário nacional promovido no RJ pelo Jornal Dom Casmurro e pela Editora Vecchi.
O autor
Nascido na vila de Ponta de Pedras, na Ilha de Marajó, em 10 de janeiro de 1909, Dalcídio Jurandir Ramos Pereira foi jornalista e escritor. Passou a infância no município vizinho de Cachoeira do Arari e logo depois mudou-se para Belém. Foi para o Rio de Janeiro pela primeira vez em 1928, com apenas 19 anos, onde até lavou pratos para sobreviver. Ainda voltou ao Pará algumas vezes mas viveu no Rio até morrer, no dia 16 de junho de 1979.
A maior saga da literatura amazônica foi publicada por Dalcídio entre 1941 e 1978, apenas um ano antes de sua morte. Segundo o crítico Benedito Nunes, para quem a obra do marajoara funda a paisagem urbana na literatura amazônica, os dez romances (além destes, ele ainda escreveu Linha do Parque, de temática proletária e publicado no RS) integram um único ciclo romanesco, quer pelos personagens e as relações que os entrelaçam, quer pela linguagem que os constitui, num percurso que vai desde Cachoeira até Belém, criando uma radiografia tanto do ambiente rural na Amazônia quanto da periferia da capital paraense.
Apesar de ser frenquentemente enquadrada na segunda fase do modernismo brasileiro, caracterizada sobretudo pelo regionalismo e pela denúncia social, a obra de Dalcídio ultrapassa toda forma de enquadramento. Do ponto de vista formal e estilístico, a prosa dalcidiana explora elementos da narrativa moderna, como as quebras com a linearidade espaço-temporais, uso da técnica do fluxo de consciência para realçar a densidade psicológica dos personagens ou a projeção de sentimento na descrição da paisagem.
Os criadores da cena
Claudio Barros, 51 anos, começou no teatro em 1976 e tornou-se um dos mais notáveis atores paraenses de sua geração, com passagem por grupos importantes na cena contemporânea local como Experiência (onde integrou o elenco original de Ver de Ver-o-Peso, famosa ópera cabocla há mais de 30 anos em cartaz), além de Cena Aberta e Cuíra do Pará, do qual é um dos fundadores. Desde 2009, integra o núcleo de criação da Usina Contemporânea de Teatro, atuando em Solo de Marajó.
Alberto Silva Neto, 45 anos, começou no teatro em 1987. É ator, encenador e professor da Escola de Teatro e Dança da Universidade Federal do Pará (UFPA). Nos últimos dez anos, dirige as criações da Usina Contemporânea de Teatro, com ênfase numa cena que constrói uma poética amazônica inspirada nos modos de vida do povo caboclo (fruto da miscigenação entre índios e brancos) a partir da figura do ator como contador de histórias.
Serviço
Espetáculo "Solo de Marajó"
Datas: Quarta, 06 de maio de 2015
Horário: 20h
Entrada gratuita
Classificação etária: livre
Local: Solar do Jambeiro
Endereço: Rua Presidente Domiciano, 195 – Boa Viagem
Telefone: (21) 2109-2222 | (21) 2109-2223