(Memória, 18 de agosto de 1997)
Considerado por especialistas em patrimônio como um dos imóveis mais bonitos e expressivos do estilo arquitetônico urbano usado no Brasil na segunda metade do século XIX, o Solar do Jambeiro, erguido em São Domingos, foi declarado, esta semana, bem de utilidade pública do município de Niterói.
O decreto número 7611/97, de desapropriação da casa, foi assinado pelo prefeito Jorge Roberto Silveira na terça-feira passada, 12 de agosto de 1997, e publicado no Diário Oficial no dia seguinte. Tombado em 1974 pela então Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Sphan), o Solar vinha se deteriorando, nos últimos anos, devido à ação sistemática do tempo e à falta de manutenção.
Construído em 1872 pelo português Bento Joaquim Alves Pereira, o Solar do Jambeiro deverá passar agora por uma completa obra de restauração. A data, porém, para o início do trabalho ainda não foi fixada. A reforma do imóvel obedecerá, segundo o secretário Municipal de Cultura, Marcos Gomes, "o mesmo rigor, critério e respeito aos estilos de época reservados à restauração do Teatro Municipal João Caetano".
A desapropriação da antiga construção da Rua Presidente Domiciano e sua recuperação fazem parte do projeto "Portugal-Brasil 500 anos", que pretende lembrar e perpetuar a contribuição histórica, arquitetônica e cultural dos lusitanos em Niterói nestes cinco séculos de coexistência.
Pintor morou no local
A Prefeitura de Niterói já delegou à Guarda Municipal a tarefa de tomar conta do Solar. Mas para poder entrar efetivamente na casa e determinar uma avaliação técnica das estruturas e cômodos, os técnicos selecionados pela administração municipal precisarão esperar ainda a conclusão do inventário dos pertences da família de Hugo Einar Georg Egon Falkenberg (o antigo proprietário, falecido em 1993) que ainda estão no local. Os sucessores de Egon, que moram atualmente em Santos, litoral paulista, deverão retirar seus objetos pessoais do imóvel na próxima segunda-feira. O Solar do Jambeiro não abriga mobiliário de época.
Conhecido também como Palacete Bartholdy, o Solar do Jambeiro nunca chegou a ser usado como morada pelo seu construtor, o português Bento Joaquim Alves Pereira. Nele, residiram, logo nos primeiros anos e cada um a seu tempo, o médico Júlio de Magalhães Calvet e o pintor Antonio Parreiras. Em 1892, o sobrado foi vendido ao diplomata dinamarquês Georg Christian Bartholdy, dono do sobrenome ao qual a casa seria associada mais tarde.
Os 20 cômodos do Solar do Jambeiro foram mobiliados pelos Bartholdy com valiosos quadros, relógios de parede, lustres, tapetes, candelabros, porta-retratos, oratórios, móveis e aparelhos de jantar. Esses objetos, que fizeram a fama do imóvel junto com sua decoração única de azulejos portugueses e portais de madeira trabalhada, foram leiloados em 1988. Hoje, resta apenas a arquitetura de época, que será recuperada.
No alvo
Negócio fechado. Declarado como bem de utilidade pública, o Solar do Jambeiro, maior espaço da Zona Sul da cidade, com cerca de 6 mil metros quadrados coroados de vegetação e beleza natural, foi desapropriado amigavelmente pelo preço de R$ 521.075.45.
Tombado pelo Sphan há cerca de 15 anos à pedido de Lúcia, esposa do proprietário, Egon Falkenberg, o nobre local amargou despesas altas e o declínio pela falta de verba de suas dependências, chegando mesmo a ter sua sala principal com o teto desabado.
Com o falecimento de seu proprietário e o da esposa, os herdeiros preferiram se livrar do elefante branco que, ainda com resquícios de imponência, se tornou dispendioso e decadente.
Segundo o decreto publicado, o espaço poderá ser utiliza do para serviços públicos, inclusive culturais. Acertou em cheio a Prefeitura.
Isabela Bastos e Estela Prestes para O Fluminense
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