Por Divaldo de Aguiar Lopes

Niterói possui o maior monumento de caráter religioso do Estado do Rio de Janeiro, ereto no Morro de Santa Rosa, no bairro homônimo, que em 1950 comemorou meio século de existência. A ideia da majestosa obra surgiu entre os Salesianos, como marco necessário da sua participação e integração nos festejos das comemorações do quarto centenário do descobrimento do Brasil e vigésimo quinto ano das Missões Salesianas na América.

O vulto da obra não intimidou aqueles religiosos, e a campanha financeira teve início logo após a aprovação do plano que, na época, constituiu audacioso empreendimento, por muitos, tido como irrealizável.

No país inteiro, os Salesianos pediram aos católicos, aos homens de boa vontade, um óbolo em prol da construção do monumento à N. S. Auxiliadora. Imprimiram pequenos blocos, dos quais se destacavam folhinhas, com dizeres expressivos ao contribuinte que, com "mil réis", ofertava um tijolo para as obras de construção. Qualquer quantia, aliás, era aceita, e até, digamos na moeda de hoje, 10 centavos foram recebidos dos menos afortunados. O autor da imponente realização foi o engenheiro salesiano Domingos Delpiano, que soube desincumbir-se da empresa, de maneira honrosa e digna dos mais justos encômios.

O monumento mede trinta e três metros de altura, e está assentado sobre uma laje natural, que lhe serve de sólido alicerce. A torre majestosa é de esmerado acabamento. Possui, no seu interior uma escada de ferro, em hélice, com 120 degraus, mais uma outra pequena, externa, com 21 de graus, que permite ao visitante chegar até o platô onde se fixa a magnífica imagem representando N. S. Auxiliadora, e que mede seis metros.

Guanabara Fluminense, junho de 1955
A estátua, de cobre batido, foi confeccionada em 1899, na Itália, por Luige Del Po, fabricante de aprestos religiosos, na cidade de Milão.

Do alto do monumento descortina-se esplêndida vista panorâmica da cidade e da baía de Guanabara. Não foi sem motivo que, na gigantesca penha, inscreveu-se a expressiva legenda "Ave Maris Stela" (Salve, Estrela do Mar). Com efeito, com quem entra na baía à noite, vê brilhante, em sua iluminação, como uma estrela pousada no promontório, a imagem de N. S. Auxiliadora.

Na base, do monumento há, à guisa de capela, um pequeno altar de mármore, encerrado por duas amplas portas, com vidros coloridos; veem-se várias placas em latim, do mesmo material, com significativos dizeres. Na placa que encima o altar, há esta, bem escolhido: "Super Speculam Domini Ego Sum, Stam" - Isaias, 21-8 (Estou vigilante na atalaia do Senhor).

Nas placas que ladeiam o pequeno altar exara-se, respectivamente, nos lados direito e esquerdo, o seguinte: "Jesu Christo deo Restitutae per ipsum salutis - ano MCM - Leo P. P. XIII" e "Quasi cedrus exaltata sum in Libano, cypressus in Monte Sion; Quasi palma exaltata sum in Cades e Quasi plantation Rosae in Jericho" Eccli., 24-17-18 (Como cedro eu fui exaltada no Monte Libano, e como cipreste no Monte Sion; como a palmeira eu fui exaltada em Cades e como a plantação de Rosas em Jericó).

Numa outra placa, lê-se ainda "Ano 1900 - Jesus Chrsitus Deus Homo Vivit Regnat Imperat" (Jesus Cristo, Deus e homem, vive, reina e impera).

Na laje granítica onde se eleva o monumento, esculpiram na rocha viva, respectivamente, nos lados direito e esquerdo: "In petra exaltasti me" Ps 60-2 (sobre a pedra me exaltaste), e mais as datas da comemoração do grande monumento religioso: 3/5/1500 e 8/12/1900.

Dada a elevação do mesmo, e para tornar menos exaustiva a subida e a descida dos visitantes, construiu-se um engenhoso plano inclinado, com dois bondinhos, que subiam, alternadamente, por meio de caixas com água localizadas na parte inferior dos referidos veículos, só se movimentavam lotados, para a compensação do peso, pois quando se enchia a caixa d'água do que estava em cima tornando mais pesado, o outro subia e vice-versa. Hoje só restam as ruinas dessa curiosa condução que bem podia se restaurada, usando-se, agora, eletricidade.

A inauguração da bela realização religiosa deu-se aos 8 de dezembro de 1900. O programa foi o seguinte: 1 - Inauguração do monumento; II - Benção do mesmo pelo Bispo Diocesano; III - Leitura das adesões oficiais pelo Deputado Federal, monsenhor João Aureliano Corrêa dos Santos; IV - Missa Campal, rezada pelo Primeiro Diretor do Colégio Salesiano Santa Rosa, padre Miguel Borghino; V - Discurso pelo missionário Apostólico padre Dr. Júlio Maria.

A parte musical esteve a cargo dos alunos do referido educandário, coadjuvados por professores deste, e de outros colégios Salesianos. O dia foi chuvoso, mas, nem assim, diminuiu o brilho da solenidade; milhares de pessoas de todas as classes sociais, vindas de toda a parte, se comprimiam nas subidas que davam acesso ao monumento.

Niterói viveu um dos seus grandes dias. No alto do outeiro, armaram um grande pavilhão, em forma octogonal, destinado aos convidados oficiais e imprensa, todo decorado e enfeitado com flores naturais. Um pouco além, grande arquibancada artisticamente construída e que acomodou quase todo o corpo do Colégio Salesiano. Na face posterior do monumento, levantaram um grande altar, sobre uma escadaria de 32 degraus, onde foi celebrada a missa pelo padre Miguel Borghino.

Também, na capela do monumento, rezou-se outra missa. Findo o ato religioso, o padre Carlos Paretto, então diretor superior da ordem salesiana no Brasil, leu o telegrama do Papa, do teor seguinte:

"Superior Colégio Santa Rosa - Niterói - Santo Padre aplaude ereção monumento Maria Auxiliadora abençoando cooperadores sua obra e presente solene inauguração - M. C. Ramppola".

Finda a cerimônia, houve no refeitório um "lunch", onde o engenheiro Delpiano, construtor do monumento recebeu efusivos cumprimentos. Durante o "lunch" vários brindes foram trocados entre os convivas: o padre Paretto brindando o bispo, ao representante do Chefe da Nação e ao General Costallat; o dr. Geraldo Martins, em nome do povo de Niterói, ao Colégio Salesiano; o bispo de Petrópolis, Dom Francisco do Rego Maia, agradecendo aos brindes levantados à sua pessoa e à ordem salesiana; o dr. Joaquim Lacerda saudando os Salesianos; e, por fim o Capitão de Mar e Guerra, Alves de Barros, representante do Presidente da República, dr. Campos Sales.

O Presidente do Estado, Dr. Alberto Torres, não pode comparecer, fazendo-se representar. E, assim, transcorreu a solenidade da inauguração desse majestoso monumento religioso do Estado do Rio de Janeiro.

Publicado na revista Guanabara Fluminense, em junho de 1955
Pesquisa e Edição de Alexandre Porto


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Publicado em 19/12/2021

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