Em 1994, quando eu trabalhava no Museu Antonio Parreiras com Dora Silveira, Ítalo Campofiorito comentou que a Coleção João Sattamini estava vindo para Niterói. Logo depois, fui uma das museólogas indicadas para receber a coleção no Museu do Ingá.
Um dos fatos que vale a pena lembrar, após dez anos, foi o impacto que nos causou receber a coleção. Cada obra que desembalávamos para catalogação era uma surpresa. Comentávamos que era como se estivéssemos recebendo presentes. A maior parte das obras veio do Parque Lage e do Paço Imperial. Mais tarde, um outro conjunto veio de um apartamento de Sattamini em Copacabana.
Quando visitei as exposições A Caminho de Niterói I e II, em 1992 e 1993, no Paço, não poderia imaginar que um dia viria a trabalhar com essa coleção. Sabia de sua importância, mas não tinha idéia da dimensão. Foi então que reconheci a diferença entre apreciar a coleção como uma grande exposição de valor histórico e ter experiência direta com essas obras, que reúnem alguns dos principais ícones da arte contemporânea brasileira.
Algumas obras eu já conhecia por causa das duas exposições no Paço, mas agora era diferente, pois eu as tinha em minhas mãos. Até então eu vinha trabalhando apenas com coleções do século XIX. De repente me vi diante da produção artística contemporânea: “Repressão outra vez: Eis o saldo”, de Antonio Manuel; as flores de borracha, obra sem título de Hilton Berredo; a Cornucópia, de Aluísio Carvão; o painel de azulejos brancos com a lâmpada, de Ivens Machado; o mármore branco de Sérgio Camargo.
Os números também fazem diferença: são 26 obras de Aluísio Carvão, 37 de Maria Pólo, 39 de Paulo Roberto Leal, 23 de Antonio Dias, catorze de Mira Schendel, 35 de Roberto Magalhães, dezessete de Lygia Clark, vinte de Rubens Gerchman, dez de Eduardo Sued, dez de Daniel Senise, entre outros tão importantes quanto.
Ao longo desses dez anos foram construídos vínculos profissionais com a guarda das obras, que passaram a ser laços afetivos com a vida da coleção. O que inclui a luta constante para conquistar melhores formas de acondicionamento e preservação. Ao mesmo tempo, se reconhece que uma coleção, principalmente de arte contemporânea brasileira, está sempre crescendo e precisa realmente crescer para acompanhar as inquestionáveis mudanças da produção artística atual.
Precisamos aproveitar também este livro para celebrar um passo importante na trajetória da Coleção João Sattamini em Niterói. Inauguramos, em setembro de 2005, com o apoio inestimável da Fundação Vitae, as novas instalações da reserva técnica no subsolo do MAC. Além disso, reconhecemos a importância dos novos espaços de acomodação da Coleção em processo de ampliação pela Prefeitura.
A melhor maneira de concluir este depoimento é agradecer a oportunidade de trabalhar com a Coleção João Sattamini e, ainda, de estar envolvida na formação da Coleção MAC Niterói.
Marcia Muller (2006)
Diretora de Acervo
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