A cobertura do prédio principal é composta por telhas coloniais de barro (capa e canal), formando um telhado em quatro águas, estruturado por duas águas mestras e duas tacaniças, destacando-se a existência de uma água-furtada, localizada na região posterior. Mede 27 metros no sentido longitudinal e 13 metros de largura. O beiral é formado por telhões de louça portuguesa decorada. A estrutura da cobertura é constituída por seis tesouras de madeira, a maioria em pinho de riga. A água-furtada possuía alvenarias em estuque, estruturadas com tela déployée e janela composta por uma folha de abrir. O sistema de captação de águas pluviais caracterizava-se, originalmente, por calhas e condutores verticais de cobre embutidos. Em época indeterminada, as infiltrações decorrentes do mau funcionamento deste método conduziram à inserção de um sistema de calhas e condutores externos, na fachada posterior.
A cobertura apresentava-se em adiantado estado de degradação. A infestação de térmitas aliada à infiltração de águas pluviais foram responsáveis pelos danos causados às peças de madeira que estruturavam o telhado. O grande número de telhas coloniais quebradas e o alto grau de porosidade em que se encontravam não garantiam a estanqueidade do conjunto.
As coberturas das varandas de acesso encontravam-se descaracterizadas, com a introdução de telhas de fibro-cimento na da entrada principal e de telhas francesas na lateral. Originalmente eram compostas por chapas metálicas e estrutura de madeira, conforme documentação iconográfica. A madeira encontrava-se deteriorada pelo ataque de cupins e umidade, e as calhas apresentavam entupimentos e pontos de infiltração.
Intervenção:
Para a restauração da cobertura da casa principal, foi realizada, inicialmente, a retirada total das telhas e a seleção daquelas que encontravam-se em bom estado de conservação para reaproveitamento. À medida que se procedeu ao destelhamento, a estrutura do telhado recebeu proteção com lona anti-chama. A maioria das telhas estava quebrada, fragilizada e infestada de fungos, apresentando porosidade excessiva, o que determinou o número reduzido de reaproveitamento. Procedeu-se à substituição integral por novas telhas na edificação principal, destinando-se as antigas, em bom estado de conservação, à cobertura do anexo de serviço, que se encontrava descaracterizada pelo uso inadequado de telhas francesas. As novas telhas foram fabricadas por encomenda, artesanalmente, respeitando-se as dimensões, o desenho e a tipologia das originais, adicionando-se detalhes de encaixe e furação, para melhor amarração e consequente estabilidade. As telhas reaproveitadas foram higienizadas através de aplicação de água a baixa pressão e limpeza mecânica, recebendo produto fungicida na última lavagem e, finalmente, uma camada superficial de silicone aplicada por aspersão mecânica, de modo a formar uma camada protetora. Os beirais, constituídos por telhões de louça portuguesa, foram objeto de trabalho específico.
A intervenção no madeiramento da cobertura foi orientada por projeto de recuperação e reforço resultante de laudo de análise estrutural, realizado por profissional de engenharia especializado. A estrutura principal recebeu reforços metálicos e as demais peças, comprometidas pelo ataque de cupins e pela ação da umidade, foram quase integralmente substituídas por outras de mesma seção e tipologia. As que compunham os frechais, muito comprometidas, foram também substituídas e todas, novas e originais, foram tratadas com cupinicidas. Uma subcobertura foi introduzida, composta por lâmina aluminizada com características de isolamento térmico e impermeabilização, entre telhas e estrutura, para garantir a estanqueidade necessária e a adequação climática.
A água-furtada, cuja esquadria encontrava-se apodrecida, os vidros quebrados e as alvenarias em processo de desagregação, foi reconstruída: paredes refeitas com alvenaria e argamassa, e instalação de nova esquadria de madeira, obedecendo ao desenho da original, com a introdução de uma veneziana para a melhoria do sistema de aeração. Alvenarias desagregadas e trechos perdidos de cimalhas foram recompostos com solução a base de cal e areia, com adição de resina polivinílica. Nos topos das alvenarias, foram aplicadas mantas de impermeabilização ardosiadas, protegendo-as, assim, contra possíveis infiltrações. O sistema de captação de águas pluviais original, em cobre, foi inteiramente recuperado. As calhas de cobre encontradas em mau estado foram substituídas e suas dimensões ampliadas. Procedeu-se à inspeção dos tubos coletores em cobre, encontrados em mau estado, através de processo de microfilmagem, o que permitiu a identificação de rupturas, deformações e outros danos. Dois desses tubos sofreram processo de encamisamento, realizado por empresa especializada. A calha externa e os dutos externos da fachada posterior foram retirados, reconstituindo-se, assim, o sistema original de calhas embutidas.
Para a restauração das coberturas das varandas de acesso ao solar foram utilizadas chapas de cobre com acabamento patinado, técnica que simula a ação do tempo através de tratamento químico. A estrutura, em caibros de madeira e placas de compensado naval, foi introduzida com aplicação de uma manta impermeabilizante, composta de feltro asfáltico. As calhas de cobre foram substituídas por novas, de mesmas dimensões das originais.
Na consolidação do topo da cimalha, foi aplicada uma solução consolidante até atingir a saturação. As pedras removidas foram rejuntadas com argamassa de preenchimento, foi aplicada uma tela de PVC estrutural e, por fim, executado o nivelamento da superfície. Um berço para a nova calha interna foi construído, em chapa de cobre, e procedeu-se ao revestimento com manta impermeabilizante ardosiada.
Materiais utilizados
Consolidação da cimalha de topo
Primeira etapa
Solução, injetada no topo das cimalhas, composta de: água + álcool etílico (2 : 1) + água + Rhodopás 503D (5 : 1)
Segunda etapa
Argamassa de preenchimento: areia + cal + solução [água + Rhodopás 503D (8 : 1)] (2 : 1 : ½)