Em março de 1884, o jornal carioca 'O Despertador' saudou desta forma a iniciativa do músico e empresário italiano, radicado em Niterói, Felício Tati, de reconstruir o Theatro Santa Thereza na então capital da província fluminense.
O teatro influi poderosamente no ânimo popular. É uma verdade incontestável. Foco de raios de luz; ele é o imã da verdadeira civilização e progresso.
Por isso mesmo, todo o governo sábio e de verdadeiro patriotismo guarda para com essa instituição o mesmo acatamento que distingue o crente fervoroso para com o templo de sua religião.
Quereis conhecer bem da sorte de um país, informai-vos do seu teatro. Se ele não o tiver, foge dele, porque, com certeza, não haverá crime que não o tenha por cenário. Só um governo bárbaro contestará esta verdade.
Entretanto, em nosso país, arrasta a mais triste e inglória vida! O governo o tem completamente abandonado!
A prova é a capital do Império, que representa a respeito o mais desgraçado papel.
Louva-se, no entanto, alguns salutares exemplos que vão dando algumas províncias, construindo magníficos teatros. Mesmo não sendo iniciativas de insensíveis governos.
Está neste caso o de Santa Thereza, na importante província do Rio de Janeiro, e cuja capital, ainda há bem pouco tempo nem sequer disso alimentava esperanças!
A arte dramática até então exibia-se em pardieiros cujos camarotes lembram os beliches de navios e dos quais fugiram os espectadores abrasados de calor, e horrorizados dos poleiros.
Julgará o leitor que o governo foi o autor do grande melhoramento? Pediu e obteve fundos para levar avante tão útil e grandiosa obra?
Jamais! Jamais!
Não fosse a iniciativa individual, não fosse o dedicado amor da arte e o emprego do mais improbo trabalho de um cidadão que soube querer e, estamos certos, a capital da província do Rio de Janeiro nunca teria o que tem hoje: um teatro na altura do de Santa Thereza.
Deve-se o aos esforços do incansável cidadão Felício Tati.
Não olvide a província do Rio de Janeiro deste nome, e saiba venerá-lo como ele merece.
Não é pela beleza do edifício que orna a sua capital, mas pelos seus fins, como entre outros o que ilumina um povo pelos archotes da virtude, espancando-lhe as trevas da ignorância e do crime!
Custou ao seu autor muito sacrifício, é verdade, mas resta-lhe a maior das glórias, fundou a melhor das escolas!
O Despertador da Corte o saúda no seu nome, no da arte e da pátria, e assim também a todos que se interessam deveras pela vida, honra e glória do Teatro Nacional.
Em O Fluminense, escreveu o jornalista Luiz Fernandez:
Falar porém neste teatro e esquecer o nome de Felício Tati, o seu empresário, seria uma falta imperdoável, seria uma ingratidão inqualificável.
Entre os poucos que se consagraram a esta obra grandiosa merece ele menção honrosa. Foi ele quem teve a ideia de reedificar a antiga testemunha das glórias de João Caetano e desde este dia não teve outra preocupação, não teve outro divertimento; semelhante tarefa constituiu-se para ele uma monomania.
Tati tem trinta e seis anos e está com os cabelos brancos! Embranqueceu-os em quatro anos de lutas contra a indiferença do nosso público e contra os ataques da inveja. Tudo ele sacrificou à sua ideia querida, ao seu sonho dourado.
Ainda ultimamente, havendo dificuldade em se pagar a um administrador para as obras, ele substituiu-o, roubando horas ao seu meio de vida; e para melhor poder cumprir os deveres que se tinha imposto, deixou uma casa própria, que se conserva vazia, para ir alugar outra nas imediações do teatro!
Segundo a opinião dos espíritos práticos e positivos, Felício Tati é um daqueles homens que merecem o epíteto de loucos. Eu o felicito por isso: os loucos da sua natureza deixam sempre um nome lembrado com saudade, e, o que é mais, conquistam as bênçãos da posteridade legando-lhes alguma coisa de útil.
Pesquisa e Edição: Alexandre Porto
Tags: