Com as obras concluídas, o Theatro Santa Thereza abriu suas portas ao público niteroiense, na sexta-feira, 08 de agosto de 1884. Niterói está enfim dotado de um teatro erguido conforme as regras aplicadas modernamente a esse gênero de construções. Um teatro grande, espaçoso, elegante, com salão de 'flirtagem' e corredores de refrigério, cercado de jardins. Um teatro enfim construído segundo as regras arquitetônicas as mais modernas e mais convenientes ao nosso clima.
Por iniciativa do maestro italiano, radicado em Niterói, Felício Fortunato Tati, foi ele reconstruído, mediante favores de cessão de terreno e materiais nele existentes, além de uma subvenção de 20 contos anuais pagos trimestralmente pela Província, e arrecadados por meio de loterias.
Não podendo por si levar avante o cometimento, organizou Felício Tati uma Companhia composta dos senhores Jesuíno Lamego da Costa, o Barão de Laguna; José Francisco de Sá Júnior; e Augusto de Souza Lobo; ficando Tati como gerente. Aberta a concorrência para a construção, foram preferidos os construtores Abilio e Carlos Amaud, que deviam obedecer a planta apresentada pelo engenheiro Ernesto Fernandes Barrandon.
Cerca de dez anos demoraram as obras do teatro que inicialmente seria rebatizado com o nome do glorioso artista João Caetano. O prédio foi construído no mesmo terreno de seu antecessor, criado por João Caetano nos anos 1840, na rua da Imperatriz.
Nas vésperas da inauguração do teatro novo, propalou-se pela cidade que uma das paredes fendera-se, trazendo à população o medo de um desastre. Para dissuadi-la do receio, distribuíram-se avulsos e cartazes pela cidade, provando a solidez da construção. De passagem se diga, porém, que duas vezes, depois disto, foi a dita parede derrubada e reconstruída por ser levantada em terreno sensível.
A peça escolhida para a inauguração foi "O Gran Galeoto" e a companhia estreante a de Dias Braga. A inauguração contou com a ilustre presença do Imperador D. Pedro II.
A respeito do edifício obtivemos as seguintes informações:
"O teatro Santa Thereza, tem 80 palmos de frente; a sua plateia poderá conter 600 espectadores; tem duas ordens de camarotes, espaçosos e dispostos a gozar-se sempre bem da representação. A galeria estabelecida em lugar também espaçoso, oferece acomodações para 800 pessoas. Há na primeira ordem uma galeria nobre, e no proscênio 3 camarotes de cada lado; na segunda, camarote para a presidência da província, e um grande salão.
Os camarins, em numero de 16, para os atores, estão perfeitamente colocados no lugar mais conveniente, tendo todos janelas, e sendo bastantes espaçosos. Há uma sala especial para uso dos artistas e de seus amigos.
À entrada do edifício haverá de um lado o botequim, e de outro uma sala da administração; em plano superior aparecem dois torreões dando magnífico aspecto à fachada. Jardins ao lado.
A galeria tem onze portas de saída. Para os jardins existem duas, no peristilo três, e em redor da plateia seis; o que muito facilita o trânsito, saída e entrada dos espectadores e realiza uma das regras exigidas na construção de edifícios destinados à concorrência pública: a saída do maior número possível de pessoas no mais breve tempo possível.
Desde a plateia até à galeria correrá livremente o ar exterior na sala pelo grande número de abertas que ali se encontram. O Panno de Boca é obra do jovem e promissor artista niteroiense Antonio Parreiras. Leia mais em
As imagens perdidas do "panno de bocca" do Theatro Santa Thereza.
Um carioca que assinou Junius, escreveu num periódico, essa singela mensagem ao povo niteroiense:
"A existência de um teatro na capital da província vem preencher uma lacuna sentidíssima. Porque também se vive deste lado da baía. Ao contrário do que se pensa, Niterói é uma bela cidade, com o seu céu limpidamente azul e as suas colinas docemente verdes; as tardes são esplêndidas.
Há 'rendez-vous' nos jardins onde brilham das quatro às seis horas, como num imenso bouquet, todas as flores da elegância niteroiense; as morenas de olhos negros, vivos, as pálidas de andar langoroso, e muitas corretamente belas que parecem cabeças de estudo arrancadas dos seus quadros.
Só as noites são tristemente longas; não há senão o terço ou a novena que são os espetáculos da moça pobre. E o mundo chique, as niteroienses elegantes, as curiosas do outro lado, essas sonham tristemente recostadas às suas janelas como estátuas da Melancolia. Das seis em diante é um túmulo, a tradução fiel do 'Mondeoù l'on s'ennuiel' (mundo entediado)."
Auto de inauguração do novo edificio do Theatro Santa Thereza:
"Aos 8 dias do mez de Agosto do anno do nascimento de N S Jesus Christo de 1884, na Imperial Cidade de Nictheroy, na Provincia do Rio de Janeiro, á rua da Imperatriz em o novo edificio construido pela Companhia Theatro Santa Thereza, ás 8 1/2 horas da noite, achando-se presente S M o Senhor d Pedro II, Imperador constitucional e defensor perpetuo do Brasil; s. ex. o sr dr. José Leandro de Godoy Vasconcellos, presidente da provincia; os exms. srs. drs. chefe de policia, deputados provinciaes, vereadores da Camara Municipal desta cidade, membros da representação publica nacional, diversos cidadãos e a administração desta companhia, todos reunidos no salão principal do edificio: Houve por bem s m. imperador declarar inaugurado o theatro Santa Theresa. - E para constar mandou o mesmo senhor lavrar o presente termo que eu Augusto de Souza Lobo, secretario da Companhia do Theatro Santa Thereza, o escrevi, a signando commigo as pessoas presentes. "
Com informações dos periódicos Gazeta da Tarde; O Espectador; e artigo de Manuel Benício, em O Fluminense.
Pesquisa e edição: Alexandre Porto
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