Na individual que leva seu nome, a artista carioca residente em Niterói desenvolve desenhos de pequeno a médio porte (90 x 110 cm). Empregando diversos materiais como caneta Bic, grafite, linha de costura e colagens, Ana Rutter constrói imagens de objetos do cotidiano cercados de misteriosa poética. A artista exibe também a instalação Aurinoir, feita de tecido negro com nós e fios dourados. Galeria Quirino Campofiorito Centro Cultural Paschoal Carlos Magno Rua Lopes Trovão, s/nº, Icaraí. 2610-5748.

Clique para ampliar
Ana Rutter, por Hélio Dias Ferreira

Desde o ínicio da modernidade, a relação arte – cotidiano, tornou-se cada vez mais contundente. Objetos do cotidiano perdem sua função primeira e são inseridos no território da arte.

Ana Rutter desenha objetos do dia a dia revestidos de material ou cores que não lhes pertence. Alguns sofreram algum tipo de acidente e também já não cumprem seu papel. São desenhos de pequeno a médio formato (90 x 110 cm), feitos com caneta Bic, grafite, lápis de cor, alguns com aplicação de linha de costura ou colagem.

Todos eles saíram do território familiar que habitavam e através do desenho a artista torna singulares, objetos antes banais.

"O desenho. Uma linha, um conjunto de linhas, um emaranhado de tramas, um urdir a alvura do papel, num incansável gesto do lápis e da pena. Ana Rutter traz vida novamente ao objeto julgado perdido, ou transformado pelo tempo. Revisitado e revitalizado ele se refaz em riscos ou se incorpora na terceira dimensão do fio, que não quer agulha e pano, mas tem sede de papel. Quer ser desenho e construir formas e não teme tesouras. Ana risca bules de bicos fálicos num universo onde predomina o silêncio de barulhos ocultos e ensurdecedores. No preto masculino, no vermelho feminino, no azul neutro, como no rosa que acalma, a artista reconstrói passados e observa um mundo que por vezes nos faz pensar na também tecelã Louise Bourgeois. Objetos acidentados, cabeludos em seus novelos, nos trabalhos de Ana destruição se remonta em modificação.

Mais uma vez silêncio: máximo no mínimo.

É preciso o fruidor se ater, mergulhar na obra e observar com cuidado o muito que cada gesto gráfico tem a nos oferecer. De uma colagem nasce a grafia, ora do lápis, ora da esferográfica. Mais uma vez, o objeto esquecido pelo tempo e pelo desuso se transmuta para o orgânico e diante de uma composição, que num primeiro momento parecia abstrata, é na verdade o olhar novo e sensual para aquilo que o mundo pedia fim.

Assim, Ana volta-se aos poucos para o mundo da indumentária, por onde tantas vezes tramitou em outras épocas, e nos brinda com uma instalação onde o desenho se torna objeto. A plasticidade criada por um nó de tie dye culmina com luxo a exposição em "Aurinoir", como um inseto que abandona sua crisálida. "Aurinoir" quer brilhar ouro sobre preto, como o casulo também vai revelar o dourado escondido no seu mundo uterino, já que o termo crisálida também significa ouro".


Hélio Dias Ferreira - Artista plástico, professor doutor da Escola de Teatro UNIRIO, autor de livros de História da Arte


SERVIÇO

Ana Rutter: desenhos
Data: 29 de março a 28 de abril
Abertura: 28 de março, às 19h
Gratuito
Local: Galeria Quirino Campofiorito
Endereço: Rua Lopes Trovão s/nº, Campo São Bento - Icaraí
2610 – 5748

Tags:






Publicado em 0000-00-00

Exposição Ponte Rio-Niterói: 50 Anos Conectando Histórias De 23 de junho a 30 de junho de 2024
Apresentação da Chamada Pública do CCPCM ENCERRADA
Mostra movimenta o Paschoal De 18 e 23 de agosto de 1998
Niterói de Ontem e de Hoje em mostra fotográfica no CCPCM Leia mais ...
Telas de Milton Eulálio, em exposição no CCPCM Leia mais ...
CCPCM abre exposição coletiva 'Gravadores e Escultores' Leia mais ...
Thereza Brunet expõe geometria e esoterismo no CCPCM Leia mais ...
No Paschoal, as flores que inspiram Tay Bunheirão Leia mais ...
Encontro com Tay no Paschoal desmistifica criação Leia mais ...