Com a curadoria e pesquisa de Rafael Frederico Teixeira, que realizou o trabalho como forma de doação à Secretaria Municipal de Cultura, a mostra Partituras Autógrafas Brasileiras acontece na Sala Carlos Couto, anexo ao Teatro Municipal de Niterói, a partir de 06 de setembro de 2011, às 19h com apoio do Ministério da Cultura e Fundação Biblioteca Nacional, Ministério da Cultura – IPHAN, Museu Villa – Lobos e Biblioteca Alberto Nepomuceno – Escola de Música da UFRJ.

As partituras focalizam compositores naturais do Rio de Janeiro e adjacências ou aqueles que desenvolveram considerável parte de sua obra neste estado. O público verá reproduções de documentos musicais escritos pelas mãos dos próprios autores, entre eles, Padre José Maurício Nunes Garcia, César Guerra-Peixe e Radamés Gnatalli.

“Como músico profissional, acho curioso pensar que dedico meu tempo e energia criativa a algo que só existe no campo mental, que só se concretiza na duração de tempo em que é executado e ouvido através de um instrumento, uma voz, ou mesmo intimamente, como quando um maestro estuda um movimento de uma sinfonia, um pianista dedilha na imaginação uma partitura difícil à primeira vista, ou um apreciador relembra uma passagem ouvida em um concerto. Pois assim é a Música, a arte que, por inclinação, escolhi para destinar minha perseverança.” Disse Rafael Teixeira, curador da mostra.

A música é dita a mais abstrata das artes, já que é indispensável o ouvido que a ouça e a memória que registre suas relações. De outra forma, a música não passaria de meras ondas sonoras - movimento que, no ar, ainda que organizado, pousaria impassível ao interesse humano. É, portanto, através da partitura a música alcança a materialidade perene, como um projeto que aguarda, em aberto, a próxima chance de existir.

A partitura é a representação simbólica de uma estrutura detalhada que não só admite como necessita de uma fração de imaginação e criatividade do intérprete para transformá-la em música. É notória a grande variedade de resultados musicais obtidos quando comparamos as performances dos maiores intérpretes, maestros e orquestras. Ainda que sempre fiéis ao texto musical, diferem no resultado sonoro exatamente naquilo que não pode ser escrito.

Segundo Rafael, “esta exposição traz ao público reproduções de algumas páginas de importantes obras de compositores brasileiros que venceram o tempo através da qualidade e do pleno domínio de seu trabalho, considerando-se as diferentes épocas e estilos da notação musical. Do que se encontrava disponível nos acervos consultados - Biblioteca Nacional, Museu Villa-Lobos e Biblioteca de Música Alberto Nepomuceno da Escola de Música da UFRJ -, selecionei um conjunto que pode dar uma noção do amplo universo de diferenças na maneira de expressar idéias musicais na pauta, em um espaço temporal de mais de dois séculos. Aproveito para agradecer a generosa cooperação e atenção por parte do corpo de funcionários das instituições acima citadas.“

Os visitantes já iniciados no campo em que esta pesquisa se insere, ou especialistas, perceberão claramente a falta de proeminentes figuras de nossa música; por isso, vale salientar que esta mostra não tem a pretensão de fazer um apanhado completo da notação na Literatura Musical Brasileira. O que aqui se exibe é uma seleção que abrange um largo período de tempo, porém com limites claros no que diz respeito, sobretudo, às novidades que as formas de expressão musical contemporânea trouxeram para a notação e para a partitura. Dar conta da contemporaneidade é sempre uma tarefa complexa.

Assim, deixamos para uma oportunidade futura o exame do que foi uma grande ruptura ocorrida na década de 1960. Os padrões de apresentação da notação musical nascidos na Europa, decorrentes dos métodos criados pelos monges para o registro e o ensino do canto gregoriano e consagrados nos últimos quase vinte séculos, já não eram mais suficientes para abranger a grande variedade de expressões musicais, que surgiram como experimentações e inovações no cenário internacional da Música de Concerto.

Da mesma forma, o curador não mirou o passado além de meados do século XVIII, pois seria um terreno demasiadamente plural para o presente apanhado. Um tempo em que a autoria desempenhava um valor menor em relação à artesania e em que grande parte das obras conhecidas é anônima. Sendo assim, a ausência da figura do compositor como personalidade consagrada individualmente - que, posteriormente, o Romantismo eleva e afirma - complica a possibilidade de uma eleição tão restrita.

E mesmo no âmbito do período escolhido, foram deixados de lado nesta mostra vários compositores de extrema importância para o desenvolvimento da identidade musical brasileira, que persistiram com suas obras sempre vivas sendo executadas em teatros, salas de concerto, universidades e escolas de música, em razão de se privilegiar mais de uma página para cada obra e mais de um exemplo para cada compositor. Em outros casos, porque simplesmente não havia material suficiente disponível ao meu alcance.

“Optei, então, por focalizar compositores naturais do Rio de Janeiro e adjacências, ou aqueles que desenvolveram considerável parte de sua obra neste estado. Delineadas as motivações, estabeleci limites que se iniciam com o Padre José Maurício Nunes Garcia, herdeiro do Estilo Mineiro e compositor mais importante da colônia na época em que a Família Real Portuguesa mudou-se para o Brasil. Criou-se, assim, uma efervescência cultural no Rio de Janeiro, cidade onde José Maurício era o principal compositor e Mestre de Capela, e foi apoiado e incentivado pela corte na realização de seu trabalho. E encerro com César Guerra-Peixe e Radamés Gnatalli, compositores que tiveram uma ligação muito forte com a música popular e as orquestras de televisão e rádio.“ Revelou o músico Rafael Teixeira.

Ele acredita que, ”através do conhecimento e apreciação dessas cópias de manuscritos autógrafos, profissionais e estudantes de música podem alcançar uma visão ampliada sobre as peças e os compositores em questão. Este tipo de material constitui-se num adendum que vem adicionar peças ao tão complexo quebra-cabeças que é o estudo da obra de um compositor. A partitura autógrafa traz consigo arrependimentos, certezas, capricho, rasuras, além de indicações ou mesmo trechos inteiros que muitas vezes diferem da versão definitiva.

Quando a obra é editada com o compositor vivo, geralmente a edição passa pelo crivo do autor antes de ser impressa e distribuída. Muitas obras, porém, foram e são editadas após a morte do criador, o que permite que, ocasionalmente, os editores e revisores tomem liberdades excessivas tais como a adição ou supressão de ligaduras, acentos, indicações de dinâmica e até notas e ornamentos que não correspondem aos originais do autor. “

Esta exposição, portanto, exibe reproduções de documentos musicais escritos pelas mãos dos próprios autores e desperta um incentivo à investigação mais minuciosa dos originais. Existem ali certas reminiscências do método de desenvolvimento e da organização das idéias para a concepção das obras, sobretudo onde há grande incidência de arrependimentos, rasuras; assim como indicações extra-musicais como setas, quadros, formas e textos.

Pode-se confirmar, também, através dos cadernos de esboços, como se originou uma passagem melódica em sua forma bruta, sem harmonia, contraponto ou linha de baixo, texturas de acompanhamentos ou distribuição instrumental. De maneira inversa, pode-se descobrir, com surpresa, que uma seção de lirismo melódico pungente surgiu, na verdade, de uma linha de baixo, uma textura de acompanhamento ou uma progressão de acordes.

“Sendo filho e neto de artistas plásticos, não posso, igualmente, deixar de registrar o encanto pela feição estética da escrita musical. Pode-se imaginar que ela reflita aspectos da personalidade de cada autor, do estado de espírito em que estavam envolvidos no momento que escreviam as peças. Por fim, desejo assinalar que o contato com os originais aqui reproduzidos foi uma experiência de emoção e admiração pela imensa força de trabalho desses grandes mestres da música brasileira, especialmente diante de obras orquestrais e operísticas de grande envergadura, que nos aproximam da dimensão da idéia musical como potência compulsória à realização do trabalho.” Finalizou Rafael Teixeira.


SERVIÇO

Exposição Partituras Autófrafas Brasileiras
Abertura: 06 de setembro de 2011, às 19h
Visitação: 06 de setembro a 30 de outubro de 2011
Entrada Franca

Local: Sala Carlos Couto
Endereço: Rua XV de Novembro, 35, Centro (anexo ao Teatro Municipal).
2620-1624


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Publicado em 05/07/2021

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