Fala Salvador Campos de Morais sobre a tradicional casa de espetáculos - de João Caetano, Leopoldo Fróes, Marcilio Lima, Chaby Pinheiro, Eduardo Pereira, Renato Viana, Dulcina, Durães, Conchita, Atila de Morais, Itália Fausta, Procópio Ferreira, Jaime Costa, Ismênia dos Santos, Alda Garrido, alguns dos muitos nomes que estão gravados na história do maior Teatro do Estado do Rio. O Clube Dramático Fluminense e "Comédia" - As reformas beneficiadoras.

Reportagem de Lyad de Almeida para a Revista 'Guanabara Fluminense', março de 1954

Com sua pouco recomendável aparência externa, mas com uma "caixa" tida e havida como uma das melhores do Brasil e com uma sedutora beleza (à moda antiga) de seu revestimento interno, é o Teatro Municipal João Caetano a melhor casa de espetáculos declamados do Estado do Rio.

Fundado sob a denominação de "Teatro Santa Tereza", e depois remodelado pelo maior vulto da cena pátria, que lhe deu o nome atual: João Caetano, o imóvel da rua Quinze de Novembro tem abrigado os maiores cultores da sexta arte brasileira.

Aproveitando o ensejo que nos proporcionaram melhorias introduzidas no velho Municipal, pela Comissão que rege a sua autonomia, fomos entrevistar um seu dedicado funcionário, Salvador Campos Morais, homem que tem a função de zelar pelo referido imóvel.

Dezoito anos de trabalho como zelador do Teatro Municipal: eis, inicialmente, as credenciais de nosso entrevistado.

Logo às primeiras perguntas, sentimos em Salvador a presença do homem de teatro. E foi com emoção que ele nos disse:

"Felizmente o nosso Municipal está sendo, aos poucos, reformado. Como se vê - e Salvador tem um gesto largo, mostrando-nos o corpo central do teatro - o seu interior está em ótimas condições, pintado a capricho, com novas cortinas, com requintes de luxo. O "pano de boca", é de feição moderna. E de grande riqueza e perfeito acabamento.

Confeccionado e montado por Antônio A. Souza, com "bambolinas" e "cortinas de quadros", "rotunda" e "americana" feita em ferragem, toda em veludo grená, vale a pena ser visto. Um trabalho de arte. Um trabalha de arte extendido por oito metros de altura e vinte de largura (com dez de aproveitamento real".

- E esses ventiladores, Salvador?

"Esses dois ventiladores foram adquiridos, também, pela Comissão que norteia a autonomia do teatro. Têm sido muito úteis, agora, com esse verão senegalesco... Mas, vamos aos camarins, vamos ver o banheiro e suas novas instalações... "E Salvador nos empurrava, entusiasmado, para os fundos do Municipal...

O que posso dizer aos leitores é que os camarins e as instalações sanitárias do nosso Teatro Municipal são o que há de melhor, no gênero, em todo o Brasil. Não conhecemos teatro que ofereça maior conforto aos artistas, em seus camarins e instalações higiênicas. Grande iniciativa, essa da Comissão.

"Pena é que a capacidade, que a plateia do Teatro seja pequena", diz-nos Salvador. "Mas, futuramente, pode-se, com uma obra relativamente simples, aumentar, em muito, o número de poltronas", conclui o nosso declarante.

- E com relação à fachada do Teatro, há algum projeto no sentido de melhorá-la?

"Sim, é intuito da Comissão cuidar não só da fachada como de toda parte externa do Teatro. Isso ainda não foi feito por uma única razão: falta de dinheiro..."

"Realmente o Teatro Municipal merece ser melhorado, cuidado, requintado, para que possa estar à altura dos vultos que por aqui passaram", prossegue Salvador Campos de Morais.

E o nosso entrevistado ilumina-se ao falar dos artistas que honraram, com a sua presença, o Teatro da rua Quinze...

"Como o amigo sabe - adianta-nos Salvador - os dois maiores artistas brasileiros que por sinal são fluminenses - João Caetano e Leopoldo Fróes, exibiram-se por muito tempo, nesta casa... Marcilio Lima, Chaby Pinheiro, Eduardo Pereira, Renato Viana, Dulcina, Durães, Conchita e Atila de Morais, Itália Fausta, Procópio, Jaime Costa, Ismênia dos Santos, Alda Garrido e outros aqui estiveram iluminando com o brilho de suas vocações artísticas o nosso Municipal".

- Quais os artistas, ou melhor, os homens de teatro, que mais o impressionaram?

"Leopoldo Fróes e Renato Viana, creio, apesar de ser difícil, entre tantos artistas ilustres, apontar os maiores... Leopoldo Fróes, pela leveza de sua arte, e Renato Viana, pela profundidade de sua obra, entretanto, foram os que maiores impressões me deixaram... Quanto ao imortal João Caetano, nada posso dizer, pois não sou tão velho assim...

- E com relação aos grupos niteroienses, pode me dizer alguma coisa?

"O Clube Dramático Fluminense já nos deu belíssimos espetáculos, inclusive operetas. É uma tradição que honra a sexta arte fluminense. Atualmente, pelo seu programa, a "Cia Comédia" tem se destacado. Encenar "Cândida", de Bernard Shaw; "Tereza Raquin", de Emile Zola, "Esquina Perigosa", de Priestley, é algo de sério e de audacioso... Além de mais, ao que me consta, "Comédia" vai levar à cena "Casa de Boneca", de Ibsen, e isso é um atestado de vitalidade, sem dúvida".





Uma campainha tocou. O palco do Teatro Municipal João Caetano foi invadido por um grupo de artistas. la começar um ensaio de repasse. Henriette Morineau surgiu. Ali estava mais um valor, honrando o maior Teatro do Estado do Rio.


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Publicado em 13/05/2021

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