De Renato Lacerda
O nosso pequeno, mas elegante Teatro Municipal João Caetano, esteve ocupado do dia 8 a 16 de Novembro de 1952, com "Comédia", a excelente companhia que o idealismo sadio de Lyad de Almeida, secundado por um grupo de companheiros entusiastas das coisas do teatro, organizou, há pouco, nesta cidade, com o elevado objetivo de difundir a arte que imortalizou, em nossa terra, os nomes de João Caetano Leopoldo Froes.
Lá estivemos, assistindo ao belo espetáculo que "Comédia" realizou, no dia 11, sob o patrocínio da Associação Brasileira de Escritores - Secção do Estado do Rio de Janeiro. Foi representada a interessante peça, devida à pena privilegiada do imortal George Bernard Shaw - "Cândida".
A representação, que a todos agradou plenamente, esteve a cargo dos artistas: Lyad de Almeida e Myriam Moraes, que interpretaram as figuras principias personalizadas no reverendo James e Cândida. Wanda Machado, no papel de miss Proserpina; Waldir Nunes, incarnando o reverendo Alexandre; Conrado de Freitas, no Sr. John; e Joel Vidal, em Eugênio completara o elenco.
Do cenário e decorações se encarregou Francisco Pereira. Como "ponto" atuou Alfredo de Souza. A direção geral esteve entregue à competência de Lyad de Almeida, que teve Roberto Machado como assistente.
A nossa impressão, bem como a de todos que tiveram a feliz ideia de comparecer, nessa noite, ao nosso único teatro, foi a melhor possível. Lyad de Almeida e os seus delicados companheiros lavraram, realmente, um tento, estando de justificados parabéns pelo excelente espetáculo que proporcionaram ao gosto estético da, infelizmente, resumida, mas seleta assistência.
E a prova do agrado com que o trabalho artístico dos componentes de "Comédia" foi recebido pela culta plateia, está nos fartos e eloquentes aplausos que coroaram o término de cada ato dos três que se compõe a fina comédia do famoso escritor inglês, e nas felicitações veementes que, logo após da terminação do espetáculo, receberam das pessoas mais representativas da nossa sociedade e das nossas letras, então presentes.
Myriam Moraes, nova, ainda, na arte de Talma, foi uma verdadeira revelação que a todos empolgou, prometendo muito ascender na trajetória de sua carreira artística, tal a naturalidade, o jogo de cena, a perfeição, enfim, que demonstrou no papel de Cândida, ao seu criterioso desempenho confiado.
De fato, Myriam de Moraes possui, sem dúvida alguma, apreciáveis predicados artísticos que lhe garantem brilhante futuro.
Os demais figurantes desempenharam, também, com habilidade e a contento geral, os papéis que lhes foram destinados, formando, assim, todos, harmonioso conjunto. O que é de lamentar, é a falta de apoio de nosso povo, não comparecendo, como era de se esperar, às récitas efetuadas nesses dias, a fim de prestigiar com o seu concurso moral e material tão louvável iniciativa.
Não só lamentar, mas, ainda, estranhar se deve tal abstenção, visto ser o Teatro Municipal o único que possuímos à altura de oferecer essa modalidade de recreação à nossa sociedade, como, também, por ser "Cândida" uma peça digna, pela sua delicada, urdidura psicológica, da sensibilidade espiritual dos mais selecionados auditórios.
Pena é, também, que os nossos governantes não prestigiem "Comédia", a esplêndida iniciativa de Lyad de Almeida, auxiliando-a com certas facilidades, assim como: oferecendo o teatro graciosamente, ou subvencionando-a com certa importância que a possibilite concretizar as suas finalidades, que são dotar Niterói com um teatro que honre, realmente, as suas já conhecidas tradições de cultura.
Sem esse auxilio, certamente, periclitará o patriótico sonho de Lyad de Almeida, pois, sozinho, ou deficientemente acompanhado, jamais poderá levar avante a obra que cristaliza o seu sublimado ideal.
Programados para breve, temos os seguintes trabalhos da Companhia: "Tereza Raquem", de Zola; "Casa de boneca", de Ibsen; "O Avarento", de Moliére; “Além do horizonte", de O'Neill; "6 personagens em busca de um autor", de Pirandelo.
Veremos se tais peças serão melhor bafejadas pela sorte, conseguindo "casas" satisfatórias que animem e forneçam esperanças mais consoladoras aos nossos denodados mosqueteiros do palco.
Felicitando a Lyad de Almeida e a seus distintos colegas da Empresa pelo arrojo do cometimento que realizam, terminamos repetindo o apelo feito ao povo desta cidade por "Comédia":
"Niterói precisa ter o seu teatro! Ajude 'Comédia' a fazer teatro em Niterói."
"Venha trabalhar conosco! Envie-nos críticas e sugestões."
"Sua opinião será sempre bem recebida. E você, também, se tem inclinação para o teatro."
"Em suas mãos está o destino de 'Comédia'; está o destino do teatro de Niterói!"
"Não esmorecer para não desmerecer, é o nosso lema."
"Pra frente e por Niterói..."
Publicado originalmente em O Fluminense, em 25 de Novembro de 1952
Pesquisa e Edição de Alexandre Porto
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