Com muita concorrência realizou-se anteontem, 08 de maio de 1900, o espetáculo anunciado pela empresa artística do Theatro Recreio Dramático, sob a direção da primeira atriz Pepa Ruiz, com a representação da comédia-revista "A Inana", original do distinto comediógrafo baiano Francisco Moreira Sampaio, ornada de música pelo modesto e talentoso maestro Costa Júnior.
A exibição desta peça agradou extraordinariamente ao público, foram aplaudidos muitas vezes os distintos atores que fizeram parte do elenco notável da companhia. Não sendo o primeiro acontecimento teatral do século XX, como rezam os programas, contudo a peça tem grande merecimento artístico e foi interpretada com galhardia por muitos dos artistas.
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A atriz e cantora Medina de Souza |
A atenção dos espectadores esteve voltada para o Brandão (João Augusto) que teve em Dr. Brazílio Fluminense um papel moldado aos seus gestos e espírito cômico. Antônio Peixoto, que se incumbiu de algumas pontas, fê-las irrepreensivelmente, provando sempre a sua competência artística, ainda não desvirtuada. Antônio Serra, foi admirável no papel que lhe foi confiado; Julieta Pinto, Edmundo Leite, França, Miranda e os demais, muito contribuíram para o agrado desta revista.
A companhia não poupou esforços para a montagem desta revista no Theatro João Caetano. A atriz Pepa Ruiz, a Inana, fê-la com maestria, bem como a distinta atriz Medina de Souza, que graciosamente conduziu o papel de ingênua; também colaborou para o agrado a artista Balbina Maia, que no papel de dama central, esteve irrepreensível. Maria Mazza se encarregou de algumas pontas tendo-as feito com agrado, o mesmo se dando com Estephânia Louro e outras do elenco.
Os cenários são deslumbrantes onde se denota o mérito dos cenógrafos Orestes Coliva e Carracini, assim também as 4 apoteoses que primam pelo luxo, merecendo particular menção a do 2º ato - O buquê vivo, que sendo singularíssimo é de um efeito extraordinário.
Os coros estiveram mais que regulares e a orquestra foi regida por um provecto profissional. O publico que afluiu ao teatro chamou à cena os artistas nos finais dos atos e os saudou com palmas prolongadas. Continue o empresário Silva Pinto a proporcionarmos espetáculos como o de anteontem, e com certeza, o nosso publico afluirá ao teatro para aplaudir a companhia do Theatro Recreio Dramático.
Pedido do público
Pedem-nos para chamarmos a atenção do dr. delegado de polícia, o que achamos de inteira justiça, para que não seja permitido que as praças de polícia fiquem ao redor do camarote, ao lado do proscênio, assim é, que, em número de 6 a 8, assistem as representações de forma que as pessoas que estiverem ao lado das cadeiras não poderão gozar do espetáculo. Sanado este contratempo, haverá uma vantagem para o policiamento do teatro, em casos anormais e terá em diversos pontos praças que, mais ligeiramente, podem acudir a atenção da ordem pública sem prejudicar a representação. É simples o pedido que levamos a S.S. e estamos certos será atendido.
O sucesso foi tanto que a Companhia voltou à cena com A Inana no João Caetano, no dia 4 de junho.
Com informações da coluna "Da Platea" de Pyrilampo, em O Fluminense (10/05/1901)
Pepa Ruiz
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Pepa Ruiz |
Espanhola de nascimento e radicada no Brasil, Pepa Ruiz (1859-1923) foi a primeira grande vedete do teatro de revista à portuguesa, onde estreou em 1875. Sua carreira esteve ligada desde cedo ao grande empresário, ator e dramaturgo português Sousa Bastos, com quem viveu e trabalhou ininterruptamente durante aproximadamente vinte anos. Para além de encabeçar, entre 1902 e 1923, os elencos de algumas das maiores produções musicais do movimento de independência do teatro brasileiro - face ao domínio europeu do século dezenove -, a atriz protagonizou a obra-prima "A Capital Federal" do jornalista e dramaturgo maranhense Artur Azevedo. Pepa Ruiz foi diversas vezes homenageada no Brasil antes de sua morte, em 1923, com 63 anos."
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