Muito bem ensaiada por Adolpho de Faria, tivemos anteontem, 04 de janeiro de 1901, no Theatro João Caetano, a representação, pela Companhia do Recreio Dramático, da peça em 3 atos, de Georges Feydeau - autor já vantajosamente conhecido da plateia fluminense -, "Les fiancés de Loches", traduzida por Francisco Moreira Sampaio com o titulo "Agência de Casamentos".

A magnifica peça em 3 atos conquistou os mais estrepitosos aplausos por parte do pequeno número de espectadores que compareceu ao Theatro.

Trata-se, francamente, de uma farsa, mas uma farsa bem feita, servida por um diálogo espirituoso, que o tradutor transplantou com a habilidade de costume. Como todos os trabalhos de Feydeau, a peça é um acúmulo de quiproquós engraçadíssimos, que prendem o público do primeiro ao último ato, fazendo-o rir sempre pelo inesperado das situações.

No enredo, três irmãos provincianos - dois homens e uma senhora - querem se casar, e para isso saem do lugarejo em que vivem, e vão a Paris, atraídos pelo anúncio de uma agência de casamentos, procurar noivas e noivo.

Chegados a Paris, dirigem se à agencia, no segundo andar de um prédio, encontrando-a fechada, e na porta um cartaz com a informação de que passara a funcionar no primeiro andar. Mas ali, na verdade, está estabelecida uma agência de alugar criados, dirigida por Seraphim, a quem os provincianos se apresentam.

Seraphim, tomando os por criados, envia-os para a casa do Dr. Saint-Galmier, diretor de um estabelecimento de alienados, irmão de Rachel, noivo de Leonia e amante de Michelle - vivida pela estrela da companhia Pepa Ruiz - que a todo o custo deseja impedir o casamento tratado. Do engano dos três provincianos, que julgam ir para a casa do Dr. Saint Galmier para se casar, e da presença de Michelle em todas as ocasiões, nascem os quiproquós que enchem os três atos.

A aplaudida Pepa Ruiz mostrou que seria uma ótima atriz de comédia, se quisesse se entregar seriamente a esse gênero. Brandão foi a alegria da noite no papel de um dos noivos. Os dois outros pretendentes, Antonio Serra e Olympia Amoedo, deram boa conta do recado. Elisa de Castro, Julieta, Rocha, Pinto, Veiga, etc., contribuíram para que os espectadores passassem uma noite divertidíssima.

A "Agência de Casamentos" tem, pois, elementos para conservar-se em cena por muito tempo. Conquanto seja trabalho do autor da "Lagartixa" e do "Arara", pode ser apreciada por senhoras.

Com informações de O Fluminense e O Paiz. Pesquisa e Edição de Alexandre Porto


Pepa Ruiz

Pepa Ruiz
Espanhola de nascimento e radicada no Brasil, Pepa Ruiz (1859-1923) foi a primeira grande vedete do teatro de revista à portuguesa, onde estreou em 1875. Sua carreira esteve ligada desde cedo ao grande empresário, ator e dramaturgo português Sousa Bastos, com quem viveu e trabalhou ininterruptamente durante aproximadamente vinte anos. Para além de encabeçar, entre 1902 e 1923, os elencos de algumas das maiores produções musicais do movimento de independência do teatro brasileiro - face ao domínio europeu do século dezenove -, a atriz protagonizou a obra-prima "A Capital Federal" do jornalista e dramaturgo maranhense Artur Azevedo. Pepa Ruiz foi diversas vezes homenageada no Brasil antes de sua morte, em 1923, com 63 anos."


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Publicado em 19/11/2021

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