Memória - Com agenda lotada, teatro reinaugurado em dezembro de 1995, é procurado por astros como Gil, Xuxa e Cláudia Raia
Pouco mais de seis meses depois de reaberto, o Theatro Municipal de Niterói já está colhendo os louros do sucesso. De dezembro a maio, foram realizadas 76 apresentações com uma média de público de 250 pessoas - ou seja, 50% da capacidade da casa. A agenda está lotada até o fim do ano, mesmo assim muita gente boa anda batendo à porta da Duerê Produções, responsável pela programação do teatro. É o caso de Gilberto Gil, que pensa em se apresentar lá.
"A produção do Gil nos procurou há 15 dias, para estudar a possibilidade de show no segundo semestre. Se ele realmente confirmar o desejo de tocar aqui, arranjamos um dia de qualquer jeito", garante a dona da Duerê, Marilda Ormy, que recebe, mensalmente, 25 solicitações e 60 telefonemas de pessoas interessadas em montar um espetáculo na casa. A produtora, porém, gosta de lembrar que seu trabalho serve apenas como ponte entre o artista e o Municipal.
"Quem decide o que vai ser apresentado não sou eu, mas o conselho curador do teatro", ressalta. Se Gil tem lugar garantido na agenda, o mesmo não se pode dizer de Xuxa, Cláudia Raia e Maurício Mattar, que procuraram a produtora na tentativa de usar o teatro para gravar clipes. Em vão. Zelosa, Marilda dispensou a constelação, delicadamente, com o indiscutível argumento de preservação do teatro.
Clipes - "A proposta era gravar os clipes com presença de público. Infelizmente, esta ideia poderia danificar o interior do Municipal, que é um monumento histórico e tombado", explica. Já com Dercy Gonçalves, o argumento não funcionou. A comediante não passou pelo crivo do conselho curador, porque seu espetáculo não se encaixou no perfil da programação para este ano. Estamos estudando a possibilidade de abrir espaço para shows de humor em 1997", afirma.
Apesar da restrição, a temporada de 1996 está bem eclética, mas nem por isto peca pela qualidade. Basta ver o que já passou por lá: 'Velox', com a trupe de Deborah Colker, 'O Mistério de Irma Vap', com Marco Nanini e Ney Latorrraca e a premiada Companhia Flash Marionnettes, da França, só para citar alguns nomes.
O otimista diretor-executivo do teatro, Sohail Saud, faz questão de dizer que o Municipal tornou-se o "novo e verdadeiro point cultura! de Niterói". Sohail confirma a preocupação com a qualidade, apesar de 1996 ser um ano experimental e de formação de público. A linha escolhida para esta fase abrange peças, dança, música clássica e jazz contemporâneo.
Erudita - "O que percebemos foi que o público da cidade está mais ligado em peças de teatro, mas há um nicho a ser explorado na área de música erudita", aponta Marilda. A produtora adianta que a ideia é estabelecer temporadas mais rígidas para o ano que vem, como acontece nos teatros tradicionais. "Seriam quatro meses para o teatro, quatro meses para a dança e assim por diante", exemplifica.
Mas, nem tudo são flores na programação do Municipal, que sem patrocínio, tem deixado passar algumas atrações internacionais. Como boa empresária, no entanto, Marilda não revela nomes. Ela diz apenas que produtoras brasileiras de eventos internacionais como a Dell'Art, Antaris e Saudades do Brasil volta e meia a procuram oferecendo shows de artistas estrangeiros.
Falta dinheiro para bancar os custos, mas a esperança é a última que morre. Tanto que a Duerê vem mantendo negociações com o Banco Real para patrocinar somente espetáculos deste tipo.
Quanto a produções da terrinha, Sohail garante que o teatro continuará abrindo seu palco, com uma condição: boa qualidade. "Nós não queremos ser apenas uma vitrine do que rola no Rio, mas também estimular os niteroienses talentosos", afirma o diretor.
Só nestes seis meses de atividades, foram mais de 10 apresentações de artistas daqui, como Maude Salazar, Bia Bedran e cantores do catálogo da Niterói Discos - isto, sem falar da elogiada Companhia de Ballet da Cidade de Niterói, comandada pela bailarina Aurea Hammerli, cuja temporada termina no domingo, 30 de junho de 1996.
O Fluminense, 30 de junho de 1996