Tem sido sem dúvida alguma sentida a ausência do insigne trágico Brasileiro na cena Nictheroyense, porém, se por um lado, nós temos sentido essa ausência, por outro devemos admirar os esforços que ele tem empregado para o progresso das obras do Theatro, que se chamará 'de Santa Thereza'.
E com efeito grande tem sido nossa admiração em vermos os trabalhos rápidos que ali tem havido: o que tudo nos faz crer que ainda este ano teremos de ver no palco cênico do Theatro Nictheroyense o discípulo de Talma.
"Interpretando os movimentos d'alma,
Exprimindo as paixões de humana espécie.
Dando vida as ficções da poesia!"
O Sr. João Caetano dos Santos não se tem poupado a fadigas, nem trabalhos, contanto que as obras do Theatro progridam, contanto que ele ainda este ano possa entrar de novo na cena.
Nós, com prazer, vemos aproximar-se esse tempo em que de certo o Sr. João Caetano tem de principiar a sua carreira dramática em Nictheroy, pois que em um Theatro, qual o que havia, impossível lhe era dirigir trabalhos para o aperfeiçoamento da arte dramática, pôr em cena peças aparatosas, etc.
Se nós nos regozijamos de ver o Artista Brasileiro no Theatro de Nictheroy, nosso coração se oprime quando lançando nossas vistas para o grande Theatro de S. Pedro, ali vemos o estrangeiro tirando o direito que compete ao Brasileiro!
Porém a isto alguém dirá - e o gênio do Sr. João Caetano? - e nós perguntaremos - quereis por ventura que o filho da terra, o gênio da pátria, o rei da cena, humilhe-se ao estrangeiro para mendigar pão?!
Não! O Sr. João Caetano nunca chegará a esse ponto, para lá chegar a estrada é árdua e espinhosa; e em cada Brasileiro encontra ele firme coluna para o sustentar.
Editorial, Correio Oficial da Província do Rio de Janeiro, 17 de outubro de 1842
Pesquisa e edição: Alexandre Porto
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