Ontem, 17 do corrente mês de fevereiro de 1842, a Companhia Dramática dirigida pelo insigne artista o Sr. João Caetano dos Santos, representou o novo Drama em cinco atos, "Heloisa e Abelardo" ("Heloise e Abeilard"), de Étienne Gilson.
Este exímio ator havia, como era de esperar, atraído grande concurso de espectadores, pois que o público desta Capital queria mostrar-se agradecido pelo muito que ele se tem esmerado em comprazer-lhe.
O cenário foi novo, e apropriado à época; o vestuário igualmente foi todo novo e à caráter. Pena é, porém, que o edifício não tenha a capacidade necessária para essas cenas: sua pequenez é tal, que não permite representar-se nele grandes espetáculos.
Contudo, como o Sr. João Caetano, outra coisa não deseja senão agradar um público, que o estima, não poupou despesas, e desvelos, para levar à cena um Drama novo. Nós sabemos que, a empresa tem sido pouco ou nada lucrativa para ele, e toda a Companhia; mas, estamos intimamente persuadidos, que a Assembleia Provincial proximamente a reunir-se, não deixará de atender às justas súplicas que lhe fizer este insigne artista, nosso compatriota, para a manutenção do Theatro, único divertimento público, de que gozam os habitantes da Capital desta Província.
Em outra ocasião seremos mais extensos. Aproveitamos o ensejo, para darmos aos nossos leitores, um extrato rápido dos infortúnios de Heloisa e Abelardo. Deste especialmente, a quem a vingança mais esquisita, e bárbara fez sofrer a amputação cruel, e desumana, que lhe não deixou de homem mais do que o nome.
Coluna Folhetim do Correio Oficial da Província do Rio de Janeiro de 18 de fevereiro de 1842
Heloísa e Abelardo, de Étienne Gilson é uma análise da correspondência de dois célebres amantes do século XII. Abelardo foi teólogo e o maior filósofo da Europa de seu tempo. Foi professor, monge, abade e voltou a ser professor. É provável que seja o único dos teólogos medievais a ter sido casado. Heloísa, sua mulher e discípula, foi abadessa do convento fundado por eles, o Paracleto. A correspondência que trocaram é suficientemente importante para que Gilson possa dizer que dela depende toda nossa compreensão do século XII.
Pesquisa e edição: Alexandre Porto
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