O benefício do Ator Claudio Antonio Cordeiro, anunciado para o dia 5 de Maio de 1842, terá lugar Domingo, 29 do corrente mês de maio, com a Comédia em 5 atos "Kean" - e a Farsa "A Vila Fidalga". A longa moléstia do 1º Ator, o sr. João Caetano dos Santos, não deixou lugar a prontificar-se o espetáculo anunciado; por isso o beneficiado pede desculpa ao respeitável público. (COPRJ - 27 de maio de 1842)

Finalmente a trégua de sua enfermidade permitiu ao Sr. João Caetano auxiliar ao Sr. Claudio Antonio Cordeiro no benefício, que fez a 29 do mês passado. Em lugar da "Morte de Camões", em princípio anunciada, tivemos mais uma representação de Kean.

Não é nosso proposito censurar o beneficiado por essa troca de espetáculo, troca a que nos tem acostumado o Theatro Nictheroyense, queremos somente desculpar-nos para com as pessoas, que por causa nossa sofreram a maçada de Domingo à noite.

Apaixonado dessa produção de Dumas, uma só vez ainda não foi ela à cena nesta Cidade, que a não aplaudíssemos de nossa cadeira; e muitas vezes temos arrastado conosco pessoas, que fogem do martírio, que preparam aos espectadores da plateia seus voluptuosos bancos. Para o beneficio do Sr. Cordeiro convidamos ainda novos espectadores a admirarem o talento do ator para quem parece que Dumas escrevera seu Kean: tivemos, porém, de arrependermos; e para logo pedimos desculpa de nossa imprudência.

Temos notado que as noites de benefício são as mais despicientes de nosso Theatro: Libiez, suma indiferença, ignorância dos papeis que representam, tudo aparece d'envolta nessas noites.

Não frequentamos as salas dos Diplomatas, cremos porém que elas são alguma coisa mais iluminadas do que a do Ministro da Dinamarca no Theatro Nictheroyense, o que fez pensar às pessoas, que pela primeira vez assistiram a representação de Kean, que num dos salões da Inquisição começava o enredo da peça.

A exceção dos Srs. João Caetano, Florindo, e da Sra. Estella, em alguns trechos de seus papeis, todos os mais estiveram muito aquém do caractere que representavam.

O Sr. Areas, que por algum tempo angariou as simpatias dos espectadores afez-se de tal modo a voz e acionados dos trasmontanos, que é impossível sair-se dessas grosseiras fanfarronadas.

A Sra. Izabel Cândida ainda está persuadida de que a uma senhora não está bem falar alto, e por isto só a ouvem os que estão em graça. Nunca passará de beata fingida, enquanto tudo esperar de si.

Da Sra. Eufemia nada diremos: faz o que pode. No caractere de Aldeã Fidalga primou ela: estava no seu elemento.

A taverna do buraco do carvão, ficou no buraco. Certo o Sr. Augusto não dará matéria a Dumas para algum outro drama: tem uns dedos tão longos, as mãos sempre tão espalmadas; um sério tão sério, que é encantar!

Aguardamos a representação da "Torre de Nesle", anunciada para Domingo, afim de assentarmos se devemos fugir para sempre dos benefícios no Theatro Nictheroyense.

Coluna 'Folhetim' do Correio Oficial da Província do Rio de Janeiro, de 6 de junho de 1842

"Kean ou Desordem e Gênio", é uma peça de 1836 do escritor francês Alexandre Dumas (1802-1870). A comédia em cinco atos é baseada na vida de um ator shakesperiano do século XVIII, o britânico Edmund Kean. Ela estreou no Théâtre des Variétés com Frédérick Lemaître no papel-título.

A imagem de Capa é uma ilustração de Camille Rogier (1836).

Pesquisa e edição: Alexandre Porto


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Publicado em 25/08/2021

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