Memória, 1896

Antecedentes

Por ordem do presidente da Câmara, o engenheiro da mesma dr. Pedro Fontes, começa hoje, 30 de julho de 1896, a fazer os reparos e concertos de que carecem este edifício. Sabemos que não só o senhor presidente quer o mais breve possível o teatro pronto, como por informação do dr. engenheiro, mandou melhorar o que diz respeito ao lugar onde se acha colocado o pano de boca. (30/07/1896)



Inaugura-se no dia de Ano Bom de 1897 o Theatro Municipal, com a representação, pela companhia dramática do ator Dias Braga, de duas peças de autores nacionais, Portugueses de direitas, de França Junior, e Capricho feminino, de Julia Lopes.

Batemos palmas de antemão pela escolha das peças, que afora maiores e conhecidos méritos que as abonam, têm o de serem produções de literatos brasileiros. Seria deveras digno de nota que se inaugurasse o teatro depois das reformas grandiosas porque passou, com uma peça estrangeira.

Dissemos reformas grandiosas porque, de fato, amplos e vastos foram os melhoramentos introduzidos no teatro, quer no que diz respeito à solidez do edifício, quer quanto à majestade do conjunto na harmonia da pintura, quer ainda quanto ao alargamento do palco e plateia.

Para melhor descrevermos os benefícios artísticos recebidos pelo teatro Municipal, dividiremos em partes destacadas, os pontos em que foram introduzidos os melhoramentos, a principiar pelo ...

Frontispício

As cores adotadas pelo engenheiro da Câmara, dr. Pedro Fontes, para a pintura de frente do teatro oferecem um aspecto suave e harmonioso que delicia o olhar dos apreciadores, tendo ainda a vantagem da de ser de difícil maculação. Todo o fundo é cor de terra cota e dele destaca-se com um efeito surpreendente a cor rosa pálida das cimalhas, pilastras, platibandas, relevos e ornatos.

Ainda deste harmonioso dueto de cores, sobressai o branco prateado da sacada no centro do frontispício.

As janelas receberam as mesmas cores do fundo do frontão, cujas portas de entrada semelham chapas de bronze trabalhado em relevo abertas para o ...

Saguão

cor de palha amarelecida. Do lado direito deste fica a bilheteria e do esquerdo um gabinete. Subindo os degraus das duas portas que dão para o ...

Interior do Theatro

Cujas paredes imitam a cor de pedra, assim como o tapa vento divisório da plateia e saguão, o espectador, olhando o teto admirará a decoração suave que do centro vai esmorecendo à guisa de dourado de crepúsculo esbatido, em nuvens para os lados, e lhe tocará a vista também a pintura quente do arco da boca do ...

Palco

... de dez metros de largura no meio do qual destaca-se uma alegoria às belas artes.

Apoia-se este arco em duas colunas de mármore de meio metro de largura e oito de altura, tantos quantos o da altura das varandas unidas na parede do fundo do palco por um passadiço. A altura do urdimento é 13,5 metros o que quer dizer que há largura e altura para receber o maior pano de cenário da Capital sem mister de dobrá-lo.

Junto à parede da divisão da plateia e palco pelo lado de dentro está colocado o barrilete do gás com torneiras independentes e isoladas para todas as comunicações, de sorte a poder-se apagar qualquer ponto sem mister de manejar-se com o tubo central. Ao todo funcionam, no palco, 150 bicos de gás, incluindo 5 gambiarras, uma ribalta e 10 tangões com grades de metal. Foi introduzido água nos camarins dos artistas e lavatórios em todos os andares dos ...

Camarotes

Estes foram doados de cadeiras austríacas novas em número de 190.

As cores escolhidas para a ornamentação interior dos camarotes são de um bom gosto artístico admirável, dando-se que os da primeira ordem sobressaem com surpreendente adaptação a todos os tons de toiletes femininos que descambem a cores claras. São estes forrados de roxo corado, de sorte a fazer destacar a alvura dos vestuários, e colorir não só estes como a pele branca morena dos decotes e braços nus que pousam sobre o parapeito ou peitoril estufado em marroquim vermelho.

Já em tom azul desmaiado é coberto a 2ª fila de camarotes, em que se acha (ao centro) colocado o da presidência municipal, forrado a ouro sobre escuro com o teto em miniatura ao teto da plateia.

Como os da 1ª fila, tem os recostos dianteiros estufados, e quer uma quer outra ordem é barreada por uma franja cor de sangue coalhado em todo derredor. Ao cimo das escadarias de cada andar, nos ângulos das paredes há lavatórios avulsos e neste sentido primam os dos toiletes de senhoras em gabinetes próprios, um de cada lado de cada ordem.

O salão frontal tem a elegância da simplicidade e o encanto absoluto das coisas modestas. Descendo-se a ...

Plateia

... ver-se-há que o número de cadeiras foi aumentado pela supressão razoável a justa das gerais laterais à mesma. A começar da entrada para os andares superiores dividido por um parapeito, começam as cadeiras que são divididas racional e economicamente em duas classes numeradas por turmas de algarismos iguais em cada fila, mas assinalados por letras designativas, a modo de ser fácil por estas, pintadas as costas das cadeiras em chapas de metal, saber-se qual a fila em que se deve procurar-se o número do cartão.

O assoalho da plateia como o do palco é novo, assim com a parede do fundo do teatro que ameaçava derruir. Todos estes melhoramentos foram feitos sob a inspeção do diretor de obras e o capitão Manoel Benício, ativíssimo vereador geral, membro da comissão de obras.

O botequim do teatro é hoje do lado direito de quem entra, em pleno jardim lateral, pontuado de mesas. Nesta parte faltam melhoramentos que serão mais tarde introduzidos como seja o alpendre e etc.

Como garantia à qualquer acidente, tão comum em teatros, onde centenares de luzes podem com facilidade promover incêndio, há neste lado, comunicando a um forte registro d'água, uma mangueira de 30 metros de comprimento e um palmo de largura de fácil manejo, do que se encarrega pessoa apta a este serviço.

Todas as portas do teatro são atualmente abertas por fora. Aqui fazemos, por hoje, ponto, certo, porém que teremos ocasião de descrever o pano de boca, obra magistral do pintor e cenófrafo italiano Oreste Coliva, antes do público poder admirá-lo de visu.

Este, como os demais vestuários do palco chegaram ontem, havendo por estes a experiência de luz e seus efeitos sobre os melhoramentos introduzidos no edifício.


Publicado originalmente em 'O Fluminense' em 24 de dezembro de 1896


Tags:






Publicado em 15/06/2023

Cia de Ballet de Niterói apresenta ARUC no Theatro Municipal 03 a 05 de maio de 2024
Paula Caldeira lança livro sobre a formação das famílias brasileiras Terça-feira, 07 de maio
O Jovem pianista Isaque Alves se apresenta no Theatro Municipal Quarta-feira, 08 de maio
Claudia Foureaux apresenta "Um Jeito a Mais" no Municipal Sexta-feira, 10 de maio
Moça Prosa homenageia Jovelina Pérola Negra no 'Clássicos do Samba' Quarta-feira, 22 de maio
Coletivo Plural apresenta mostra "Verso e Reverso" na Sala Carlos Couto De 02 de maio a 02 de julho
Com fotos de Magno Mesquita, Niterói é tema de mostra na Carlos Couto Leia mais ...
Lenda 'Itapuca' no palco do Teatro Municipal João Caetano Leia mais ...
Clube Dramático Assis Pacheco estreia no Theatro Municipal Leia mais ...