A teatralização dos versos de Castro Alves tenta repetir o clima denso dos porões de um navio negreiro

O teatro ainda é uma atividade de amadores em Niterói, sujeito por isso às improvisações e às surpresas ditadas pelo bom gosto e intuição. Castro Alves, um poeta de sempre, com sua mensagem, pode contribuir para o início de um novo período para o teatro da Capital fluminense. O Navio Negreiro virou peça teatral e, a partir de amanhã, 03 de junho de 1974, inicia uma temporada no Teatro Municipal de Niterói.

Um Navio Negreiro - adaptação teatral de poesias de Castro Alves em torno do tema Liberdade - começará manha uma temporada de sete dias no Teatro Municipal de Niterói, sob a direção de Antônio Carlos de Caz e com a participação de 19 atores universitários.

Num cenário forte e contrastante, de andaimes de ferro e madeira adornados com acessórios náuticos, os 19 atores dos grupos teatrais Gruta, de São Gonçalo, e Grite, de Niterói, alternam a récita das poesias do Poeta dos Escravos, com cantos murmurados e dolentes, em seus trajes maltrapilhos de escravizados ou agressivos de prepotentes senhores.

Grito de Liberdade

A peça tem um ato com duração de uma hora e meia. Sua estrutura é a pоеsia de Castro Alves. O Navio Negreiro, que é intercalada a espaços por trechos de Vozes d'África, Adeus, Vidente e outros, cujo tema principal é a liberdade. "Não nos preocupamos em abordar o tema da liberdade em Castro Alves somente no caso particular da poesia que da título a peça - a escravatura - mas sob um prisma histórico, da luta de emancipação de todos os dominados contra os dominadores que é, por sinal, a interpretação que se da modernamente à temática do poeta", declarou Carlos de Caz.

Ele foi quem adaptou as poesias à peça, juntamente com Ademar Nunes e Mauro Dias. Na direção foi ajudado por Amaro Fabiano, aluno de Expressão Corporal da Universidade do Estado da Guanabara. A música é de José Alberto de Castro e Mauro Dias. Ora trechos dos poemas são musicados, ora o coro dos escravizados faz solos vocais em entoações de oração e lamentação. Os escravizados vestem-se com farrapos e estão descalços, enquanto os escravizadores e seus asseclas revestem-se de lata, à maneira de armadura, em figurino de Geraldo Marcos. Os únicos atores a se apresentarem com figurinos diferentes são Ademar Nunes, que personifica o próprio poeta, e Margareth Abi-Ramia, a musa.

Temporada curta

Carlos de Caz, que pertence à escola do Teatro Duse de Pascoal Carlos Magno, disse que a apresentação no Theatro Municipal de Niterói é "um ato de muita vontade de colocar no palco um trabalho de adaptação feito com carinho. "Ele trabalha de dia como professor de História das Artes, Educação Artística e Folclore em diversas escolas da Capital, enquanto todos os atores no mínimo estudam. O Teatro está sendo alugado a Cr$ 150 por noite e os ingressos já estão sendo vendidos antecipadamente para cobrir as primeiras despesas. Ao público será cobrado o preço único de Cr$ 5 e o espetáculo começará sempre às 21 horas.

A direção da peça e os atores, durante toda a semana passada, distribuíram cartazes de promoção, e em alguns colégios e faculdades foi feita venda antecipada de ingressos. "Nós realmente precisamos do aplauso e do dinheiro do público, para que possamos apresentar-lhes nossa resposta em outra ocasião e assim criar um público com o qual possamos dialogar", declarou o diretor. Os andaimes do cenário foram emprestados pela Prefeitura Municipal e os apetrechos náuticos pelo Centro de Armamento da Marinha. Os participantes e direção da peça baterão um papo, conforme fizeram questão de frisar, com o público após cada apresentação, "como coroamento dessa comunhão cultural."


Serviço

Um Navio Negreiro
Datas: De 03 a 09 de junho de 1974
Horário: 21h
Classificação indicativa: 10 anos
Ingressos: CR$ 5,00

Local: Theatro Municipal de Niterói
Endereço: Rua XV de Novembro, 35 - Centro, Niterói


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Publicado em 08/04/2024

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