Realizou-se na última quinta-feira, 7 de outubro de 1898, no Theatro Municipal desta Capital, a segunda récita do simpático Club Dramático Assis Pacheco, sendo levada à cena a opereta em 3 atos intitulada Mister Fórceps, original do Maestro Francisco Assis Pacheco. A peça tem 25 números musicais.
Eis distribuição da peça: Francisco Bastos (Mister Forceps), Irênio Coelho (Vieirinha), Antônio Bentes (Paulo D'Àvila), Júlio Picote (Comendador Formiga), senhorita Izabel Pereira da Costa (Marieta), Thereza Pereira da Costa (Lúcia), Annibal Furtado (Quincas), Mário Continentino (Brácio), Leopoldo Fróes (Brécio), Sylvio Moreira (Brício), J. Teixeira (John), Martins Teixeira Júnior (Jaca Mole) e Victor de Castro (sargento Matheus).
Esse espetáculo marca a estreia do jovem amador Leopoldo Fróes, com apenas 16 anos recém completados, no Theatro Municipal de Niterói, palco no qual brilhou intensamente durante toda sua carreira.
Sobre o espetáculo, escreveu o colunista Caetano Kean em "O Fluminense".
"Esta coluna, iniciada quando o Eden Club deu a sua primeira e única récita, na ocasião em que a plateia niteroiense, essa plateia inteligente e justiceira, que tanto receio causa aos atiradores da vizinha capital, teve a ventura de ver o e ouvir Castro Vianna e sua irmã, na 'Aimée ou o Assassino por Amor', aplaudindo-os delirantemente, só hoje reaparece, porque de novo possui Niterói amada, um, digno desse título, Clube, que, trabalhando em larga escala, já conta dois sucessos em duas únicas récitas.
Dizer o que fica dito é dar notícia completa de que foi o desempenho da 'Mister Fórceps', opereta cuja música e libreto foram pelo aplaudido Assis Pacheco, escritas com o fim único de agradar, e cujo desempenho, com pouco estudo de papeis, embora, mas com muita verve e aplicação, fez jus também aos fins a que se propunha o autor.
Descrever situações? Para quem? Para os que tiveram a ventura de lá ir, é demasiado, porquanto ainda hoje estala súbita uma gargalhada na face do burguês que foi cumprir apenas o dever de comparecer e nos lábios das senhoritas e excelentíssimas senhoras, que perfumavam, por si, e pelos seus atavios à festa, casquina a risadinha mal contida, despertadas, gargalhada e risadinha, pela recordação das impagáveis cenas de dueto no escuro e de tantas outras...
Narrar episódio e o entrecho a quem lá não foi? Isso nunca! Seria poupar-lhes o castigo que mereceram pela sua ausência. E depois, é de crer, que 'Mister Fórceps' seja, em tempo, repetida, e então a enchente será, não à cunha, mas à calafeto...
Falar da música? Mas a música foi para 'Mister Fórceps', a Canelinha do Ceilão polvilhada por cima de uma compoteira de cocada com ovos. Leve, perfumada, acariciadora. Entrou-nos pelas aurículas em cócegas e parafusou-se lá dentro, tanto que já à saída do teatro, num bonde, eu ouvi uma vozinha cor de baba de moça, cantarolar baixinho...
"Gosto de si, confesso... Menina! De quem é que você gosta?"
E já, no banco da frente uma velhota resmungava em si bemol: "O amor é pássaro voando..."
E depois, composta, instrumentada e regida pelo Assis, com a execução de um bando de excelentes professores, de que era o Paganinial violino de ataque...
Enfim, por mim, pela plateia.
D. Música... desculpe, mas:
Gosto de si... confesso!
Resta falar de desempenho. Santo Deus! Nem eu sei de cor o nome d'aquela gente toda... E com medo de deixar no tinteiro algum nome com direito à menção em letra de forma, eu não cito nomes.
Desde Mister Forceps, até Mister John, com escala pelas Marietas e Lúcias, Vieirinhas, Paulos, Formigas, Jucas Moles, Quincas, Brácios, Brécios, Brícios, jongos, soldados e metralhadores, eu desbarreto-me e digo:
Maestro Assis et troupe, j'en ai ri tout mon saôul, por isso e mais vi ringrazio di tutto il cuore e desejo a todos muitas benturas e aplausios.
Pretende o Club Assis Pacheco dar outra récita neste mês. Faça-o. Mas ouçam-me. Decorem papeis, segurem a marcação e avante, rapaziada!"
Pesquisa e edição: Alexandre Porto
Imagem de capa, Leopoldo Fróes, estudante de direito e ator dramático aos 17 anos.
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Publicado em 10/11/2024
Eis distribuição da peça: Francisco Bastos (Mister Forceps), Irênio Coelho (Vieirinha), Antônio Bentes (Paulo D'Àvila), Júlio Picote (Comendador Formiga), senhorita Izabel Pereira da Costa (Marieta), Thereza Pereira da Costa (Lúcia), Annibal Furtado (Quincas), Mário Continentino (Brácio), Leopoldo Fróes (Brécio), Sylvio Moreira (Brício), J. Teixeira (John), Martins Teixeira Júnior (Jaca Mole) e Victor de Castro (sargento Matheus).
Esse espetáculo marca a estreia do jovem amador Leopoldo Fróes, com apenas 16 anos recém completados, no Theatro Municipal de Niterói, palco no qual brilhou intensamente durante toda sua carreira.
Sobre o espetáculo, escreveu o colunista Caetano Kean em "O Fluminense".
"Esta coluna, iniciada quando o Eden Club deu a sua primeira e única récita, na ocasião em que a plateia niteroiense, essa plateia inteligente e justiceira, que tanto receio causa aos atiradores da vizinha capital, teve a ventura de ver o e ouvir Castro Vianna e sua irmã, na 'Aimée ou o Assassino por Amor', aplaudindo-os delirantemente, só hoje reaparece, porque de novo possui Niterói amada, um, digno desse título, Clube, que, trabalhando em larga escala, já conta dois sucessos em duas únicas récitas.
Dizer o que fica dito é dar notícia completa de que foi o desempenho da 'Mister Fórceps', opereta cuja música e libreto foram pelo aplaudido Assis Pacheco, escritas com o fim único de agradar, e cujo desempenho, com pouco estudo de papeis, embora, mas com muita verve e aplicação, fez jus também aos fins a que se propunha o autor.
Descrever situações? Para quem? Para os que tiveram a ventura de lá ir, é demasiado, porquanto ainda hoje estala súbita uma gargalhada na face do burguês que foi cumprir apenas o dever de comparecer e nos lábios das senhoritas e excelentíssimas senhoras, que perfumavam, por si, e pelos seus atavios à festa, casquina a risadinha mal contida, despertadas, gargalhada e risadinha, pela recordação das impagáveis cenas de dueto no escuro e de tantas outras...
Narrar episódio e o entrecho a quem lá não foi? Isso nunca! Seria poupar-lhes o castigo que mereceram pela sua ausência. E depois, é de crer, que 'Mister Fórceps' seja, em tempo, repetida, e então a enchente será, não à cunha, mas à calafeto...
Falar da música? Mas a música foi para 'Mister Fórceps', a Canelinha do Ceilão polvilhada por cima de uma compoteira de cocada com ovos. Leve, perfumada, acariciadora. Entrou-nos pelas aurículas em cócegas e parafusou-se lá dentro, tanto que já à saída do teatro, num bonde, eu ouvi uma vozinha cor de baba de moça, cantarolar baixinho...
"Gosto de si, confesso... Menina! De quem é que você gosta?"
E já, no banco da frente uma velhota resmungava em si bemol: "O amor é pássaro voando..."
E depois, composta, instrumentada e regida pelo Assis, com a execução de um bando de excelentes professores, de que era o Paganinial violino de ataque...
Enfim, por mim, pela plateia.
D. Música... desculpe, mas:
Gosto de si... confesso!
Resta falar de desempenho. Santo Deus! Nem eu sei de cor o nome d'aquela gente toda... E com medo de deixar no tinteiro algum nome com direito à menção em letra de forma, eu não cito nomes.
Desde Mister Forceps, até Mister John, com escala pelas Marietas e Lúcias, Vieirinhas, Paulos, Formigas, Jucas Moles, Quincas, Brácios, Brécios, Brícios, jongos, soldados e metralhadores, eu desbarreto-me e digo:
Maestro Assis et troupe, j'en ai ri tout mon saôul, por isso e mais vi ringrazio di tutto il cuore e desejo a todos muitas benturas e aplausios.
Pretende o Club Assis Pacheco dar outra récita neste mês. Faça-o. Mas ouçam-me. Decorem papeis, segurem a marcação e avante, rapaziada!"
Pesquisa e edição: Alexandre Porto
Imagem de capa, Leopoldo Fróes, estudante de direito e ator dramático aos 17 anos.
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Publicado em 10/11/2024