O recém criado Casino Dramatico realizou, na última terça-feira, 13 de novembro de 1906, sua primeira récita no majestoso Theatro Municipal João Caetano, com Joanico, opereta cômica em 3 atos, do maestro Francisco Assis Pacheco.

Sobre o trabalho de Assis Pacheco e principalmente sobre o espetáculo, diremos que é magnífico, quanto ao poema, mais ou menos igual aos poemas escritos para serem levantados por meio da mágica; não tem a importância de uma peça de fino enredo, mas é leve, engraçado e de bom efeito.

Quanto à interpretação dada ao trabalho do ilustre maestro Assis Pacheco, pelos distintos amadores do Casino Dramatico, foi a melhor possível, mormente tratando-se de amadores que ainda não podem, com justeza, dar muitas vezes, o valor necessário aos seus papeis por faltar-lhes a prática que só podem adquirir depois de longos estudos do tablado.

O regente da orquestra, Agostinho de Gouvêa, que habilmente se encarregou dos ensaios desses amadores, por motivos de força maior, não compareceu, sendo substituído pelo maestro Antônio José dos Santos, que, sem conhecer a partitura da opereta cômica de Assis Pacheco, em parte, concorreu para a desafinação notada no coro do primeiro ato, e nos senões observados em todo o correr da peça, que embora esses pequeninos defeitos, foi com habilidade interpretada pelos estudiosos amadores do Casino.

A senhorita Maria Eugênia de Freitas Reys foi de uma felicidade sem limites, no papel de 'Clara', dando exuberantes provas do seu talento para o palco, nos deliciando mais de uma vez com a sua aprimorada e doce voz pura e argentina.

A senhorita Virginia Pinto, também possuidora de uma voz agradável, portou-se com corretismo no seu papel de 'Rosita'.

A senhorita Honorina Leite Ribeiro no papel de 'Brígida', esteve acima de nossa expectativa; portou-se com uma habilidade rara, e no gênero, não conhecemos amadora que a suplante.

A senhorita Idalina Netto fez bem o seu papel e é digna de ser aproveitada em outro gênero onde possa com mais vantagem mostrar as suas aptidões, por ser muito estudiosa e mostrar vocação para o palco.

Sobressaíram nos coros, do 2º ato, as senhoritas: Anésia Bustamante, Astolphina Barboza, Maria Calvet, Virginia Carvalho, Olga Prata, Eurydice Mello, Desdemona Gonçalves, Maria Pinto, Celina Santos, Iracema Netto e Ormesinda Netto.

As honras da festa, sem receio de contestação, couberam ao talentoso amador Irênio Coelho, que além de ensaiador do grupo, movimentou e deu graças a toda a peça, no papel de 'Pantaleão'.

João Pinto e Francisco Bastos, nos papeis de tenente 'Álvaro' e 'Joanico', cantaram obedecendo ao compasso do regente da orquestra, que felizmente os auxiliou e desempenharam a contento os seus papeis, pois são dois distintos amadores.

O distinto amador Ismael Maia portou se com corretismo, mas estava completamente deslocado de seu gênero e por isso não pode dar melhor interpretação ao seu papel de 'Jerônimo'.

O simpático Azevedo Gomes fez um bom 'Sacristão Cazuza', arrancando da plateia boas gargalhadas, porém, estava fora de seu elemento; outro fosse o seu papel, teríamos ocasião de efusivamente felicitá-lo.

O jovem Jorge Figueiredo, o 'Augusto José', não foi mal, mas, como é muito natural, atrapalhou-se por diversas vezes, porém, é um amador muito aproveitável.

O Luiz Leitão, 'Cabo Clemente' foi um noivo às direitas, tendo tido com espírito, uma bela saída no final do 3º ato.

O 'Padre Ignacio', papel que foi confiado ao amador J. Jacutinga, foi tão bem interpretado que deu vida ao 3º ato da peça. Os demais amadores são dignos de aplausos.

A mise-en-scène, foi irrepreensível obedecendo sempre aos cuidados do talentoso ensaiador Irênio Coelho.

Assim o colunista Ary Nobre se manifestou sobre a récita inaugural do Casino Dramático

O teatro tem por fim moralizar a sociedade enriquecendo a literatura, nos proporcionando momentos de satisfação: é um perfeito apóstolo do belo.

Apreciamos o teatro clássico, e as peças, que por sua natureza e escola, servem para instruir a nossa sociedade deixando de parte os trabalhos escritos apenas para armar efeito; e onde se aprecia somente a música quando ela é boa e bem executada.

Abandonamos, por completo, as peças teatrais mal escritas, sem arte, sem o fundo necessário para a boa compreensão da nossa plateia, para tratarmos dos trabalhos confeccionados com habilidade por mestres da literatura teatral, quando nos é dado o momento de apreciá-las; daqueles que divinizam os sonhos do poeta deixando impressões no nosso coração, agitando em nossa alma os sentimentos de homem!

Para a realização de uma festa artística, é preciso muito gosto na escolha do espetáculo, na escolha dos amadores, nos ensaios, nas decorações. É desse conjunto agradável e harmônico, desse todo de figuras grupadas com capricho e arte, do efeito das cenas, que depende todo o brilho cênico, que nos interessa, nos faz passar horas de verdadeira alegria na justa contemplação do belo.

Temos notado que esse gosto artístico preside quase sempre aos espetáculos organizados pelo grupo de amadores que compõem agora o Casino Dramatico.

Esta nova associação, organizada pelos antigos amadores dos Clubes Alberto Victor e Eden Club, dispõe de elementos muito bons, notando-se mesmo amadores de rara habilidade e incontestável vocação para a arte que imortalizou João Caetano.

Aos srs, Otávio Kelly e Raul de Sá Pinto, diretores do Clube e ao Alcebíades Villar, as nossos felicitações e agradecimentos pela maneira fidalga com que nos distinguiram.

Essa foi a distribuição do Joanico: Clara, senhorita Maria E. Freitas Reys; Rosita, senhorita Virginia Pinto; Brígita, senhorita Honorina Leite Ribeiro; Gertrudes, senhorita Idalina Netto: Joanico, Francisco Ferreira Bastos; Álvaro, João Pinto; Pantaleão, Irênio Coelho; Jerônimo, Ismael Maia; Padre Ignacio, J. Jacutinga; sacristão Cazuza, Azevedo Gomes; Clemente, Jorge Figueiredo; 1º, 2º e 3º aldeões, J. Nunes, Sebastião Calvet e Cícero Costa.


Pesquisa e Edição: Alexandre Porto


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Publicado em 29/11/2024

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