Conforme fora previamente anunciado, realizou-se anteontem, 19 de outubro de 1899, no Theatro Municipal o espetáculo que, em benefício de uma senhora necessitada, organizou um grupo de amadores.
Representou-se, além de um grande número de cançonetas, poesias e cenas cômicas pelos amadores Castro Vianna, Paiva Junior, Irênio Coelho e Ismael Maia, a engraçada comédia de Eduardo Pedro Baptista Machado - O Tio Padre - cujo êxito era mais do que garantido. Nela tomam parte Francisco Bastos, Antônio Bentes, Osório Silveira e a sempre aplaudida e distinta amadora Esther Figner.
Sobre o desempenho cumpre-nos unicamente fazer elogios, porquanto temos assistido tal peça uma infinidade de vezes. É uma das mais prediletas dos clubes dramáticos que se organizam e dos apertos de ocasião, devido ao pouco número de personagens que encerra e ainda mais pela facilidade de possuir uma única dama, o grande espantalho dos clubes - as damas! ...
O desempenho do Tio Padre foi correto, todos os personagens estavam perfeitamente nos seus papéis; não houve a menor hesitação e as cenas de mais calor foram interpretadas como deviam ser, o que demonstra que os papéis estavam sabidos, o que é principal fator para o bom desempenho de uma peça.
Mme.
Esther Figner, que pela primeira vez representa comedia, veio provar o seu gosto e talento artístico pela cena; tem bastante naturalidade no dizer sobretudo muita expressão no olhar. Vimo-la muitas vezes em várias operetas, para as quais possui uma voz adorável. Como amadora, há muito, está colocada em lugar de honra e enviamos à distintíssima senhora nossas mais sinceras felicitações pelo modo brilhante porque se houve no difícil papel de Luiza.
Antônio Bentes foi um magnífico André, galã cômico de primeira ordem, marido ciumento, adorador
enragé da mulher.
Francisco Bastos, estava no seu papel e ainda mais no seu gênero, que é de um galã endiabrado, trêfego, falante e espirituoso. Deu sorte a valer, foi um Eugênio às direitas.
Osório Silveira, desempenhando o difícil Tio Padre, agradou em extremo arrancando francas gargalhadas. Notamos, porém, que o característico apresentado não estava de pleno acordo com o papel, aliás de um velho de sessenta anos. Isso entretanto nada prejudicou ao bom desempenho que foi um dos melhores.
Terminou o espetáculo com um ato variado magnificamente disposto e organizado.
Deusa da guerra, poesia dramática pelo corretíssimo Castro Vianna. Escusado é dizer que foi um sucesso; já esperávamos tal.
Vôte ferramenta!... monólogo pelo amador Irênio Coelho, agradou imensamente e foi muito aplaudido.
Os Camarões, monólogo, admiravelmente recitado pelo provecto amador Paiva Junior.
Apuros da comadre, cena cômica de Osório Silveira e por ele recitada. Quase o teatro veio abaixo, pois entrou pela cena a dentro um matuto na
siposição de que Chica estivesse ali...
Das 8 às 10, cançoneta pelo Costa Velho, que foi a chave de ouro do ato variado.
A orquestra, magnífica, foi dirigida pelo maestro
Brito Fernandes. Infelizmente o mau tempo impediu que o teatro ficasse repleto, o que foi deveras uma pena pois o espetáculo esteve digno de uma boa plateia.
Tags: