Pela primeira vez, o Teatro Municipal de Niterói recebe uma programação dedicada exclusivamente à ópera

Saída do conto de Prosper Merimée e da composição musical de Georges Bizet, a cigana Carmen chega ao Teatro Municipal neste fim de semana, 6 e 7 de julho. Levada pelos pés e pela voz da mezzo-soprano Clarice Prietto, "Carmen" é a primeira das três óperas que serão encenadas no tradicional palco este mês. As outras duas serão "Caso no Júri", dias 11 e 12, às 19h, e "Domitila", dia 20, às 20h, e dia 21, às 19h.

A história da cigana Carmen se passa na cidade espanhola de Sevilha e é baseada no conto homônimo do francês Prosper Merimèe, contada nos palcos em forma de ópera desde 1875, quando teve sua primeira versão em Paris, por Bizet. A sensualidade da cigana, protagonista da peça, é acentuada pela mistura contagiante de estilos musicais e de danças nesta versão brasileira.

O clássico é revivido na temporada "Óperas de Inverno" na concepção de Clarice Prietto, a mezzo soprano que interpreta a cigana sedutora cobiçada por dois homens que é assassinada devido aos ciúmes do amante, um oficial espanhol. Feminista avant la lettre, a heróina emancipada de Bizet faz sua própria lei; é dona do seu destino, e não se preocupar com os julgamentos alheios e as limitações de um mundo feito pelos homens. A ideia se escancara no segundo ato, quando Carmen canta os prazeres da vida errante e livre.

A versão interpretada por Clarice Prietto, procura fundir os dotes emotivos do conto de Merimèe com o ritmo envolvente da música e dança flamencas. Ela será acompanhada no palco por mais três solistas, um coro de 14 pessoas e cerca de 60 dançarinos de flamenco.

"O flamenco é uma paixão minha. Comecei a fazer aulas de dança e surgiu a ideia", explica Prietto, que estuda o personagem há cinco anos e busca inspiração nas próprias raízes espanholas para encarnar a célebre boêmia cigana. "Sempre tive uma afinidade com a Espanha. Toda a minha família por parte de pai é espanhola, estudei a língua e morei no país" explica a cantora e atriz, que faz parte do coro do Teatro Municipal do Rio de Janeiro.

A partir de conversas com a coreógrafa Eliane Carvalho veio a possibilidade da inserção do flamenco na montagem. "Não há fronteiras entre o erudito e o popular, e conseguimos combinar o flamenco com a composição clássica de Bizet. Criei essa ideia das cenas e a Eliane escolheu o ritmo e a dança para encaixar e fazer as ligações", conta.

A concepção de Prietto sobre Carmen ainda inclui uma homenagem ao coreógrafo espanhol Antonio Gades, que montou uma das cenas mais célebres desta ópera com sapateado, chamada "Tabacalera", em referência a uma fábrica de cigarros. A ópera, cantada quase toda em francês, terá esta parte em espanhol, mostrando uma briga entre Carmen e outra personagem, Micaela, noiva do oficial que se apaixona pela cigana.

"É uma coreografia muito interessante, só com sapateado. Gades viu uma importância nessa briga. É muito forte, e a dança flamenca é bem representativa", explica Prietto, que contou também com a direção cênica de Neti Spzilman. Cenário da ópera

Desejando preparar a plateia para esta temporada de inverno, a diretora do Teatro, Marilda Ormy, realizou uma pré-temporada em junho, com a ópera monólogo Alabê de Jerusalém, de Altay Veloso, que arrancou lágrimas da plateia; e com o espetáculo didático que já comemora 10 anos de existência Que ópera é essa, do professor de História da Ópera Robson Leitão.

Estes eventos voltados para a ópera no Teatro Municipal de Niterói resgatam um tipo de arte que já foi exclusivo em tempos distantes, como afirma a publisher do VivaMúsica!, projeto voltado para música clássica, Heloisa Fisher: "Num passado muito distante, a ópera era muito presente, em um tempo em que não havia distinção entre música clássica e música popular. Hoje, essas adaptações são muito vivas, têm muito a dizer. A ópera lida com emoção, sempre - a Carmen, por exemplo, tem mais de 100 anos -, e esse gênero continua a falar de sentimentos com música, tratando de temas da contemporaneidade ou do país, como é o caso da Domitila".

Sobre as adaptações, o professor Robson Leitão concorda que hoje têm outro significado para a atual realidade, mas a mesma importância.

"Quando Carmen estreou nos teatros, o público saiu calado, não aplaudiu nem vaiou. Hoje, isso é impensável. Na época, não era comum a figura da mulher libertária, que escolhia homens na hora que queria", conta.

SERVIÇO

Carmen
Sábado, 06, às 20h, e domingo, 07, às 19h.
Ingressos: R$ 50, com meia-entrada.
O Teatro Municipal de Niterói fica na Rua XV de Novembro, 35, no Centro.
Mais informações pelo telefone 2620-1624.


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Publicado em 02/07/2013

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