Novo museu - Pela primeira vez na vida, apesar de já ter no Rio três projetos seus executados há anos (os Cieps, o sambódromo e o Hospital da Lagoa) o arquiteto Oscar Niemeyer assinará o projeto de uma obra monumental em Niterói. Trata-se do Museu de Arte Contemporânea que o prefeito da cidade, Jorge Roberto Silveira, ali erguerá. O prédio terá a forma de um cálice e servirá para abrigar a coleção de arte a segunda maior particular do país do empresário João Sattamini. O protocolo de intenções de cessão da coleção e da construção do museu será assinado na próxima terça-feira (28/05/1991) por Silveira, Sattamini e Niemeyer.
Niemeyer conclui planos do prédio em um dia e meio
Concebido em um dia e meio, o projeto do Museu de Arte Contemporânea de Niterói foi apresentado ontem pelo seu autor, o arquiteto Oscar Niemeyer, e pelo prefeito da cidade, Jorge Roberto Silveira. Em forma de cálice, o museu, no Mirante da Boa Viagem, abrigará o segundo acervo particular do país, composto por 600 quadros de pintores brasileiros, pertencente ao empresário João Sattamini, de 55 anos. "O lugar é belíssimo. Quando cheguei ao local, percebi que o prefeito estava me dando um presente. Logo imaginei algo circular e solto em cima da paisagem", disse Oscar Niemeyer.
Primeira obra do arquiteto em Niterói, o museu, na opinião de Jorge Roberto Silveira, vai se transformar num marco e incluir a cidade no circuito cultural brasileiro. "Quem descer no Galeão terá que vir a Niterói conhecer o prédio de Niemeyer e o acervo do museu", afirmou o prefeito. Os custos da obra ainda não foram calculados, mas Jorge Roberto já definiu onde vai conseguir recursos. "Uma parte virá da iniciativa privada, através de licitação para postos de gasolina a serem construídos em terrenos da prefeitura, e a outra parte será complementada pela prefeitura", explicou.
Na Taça, ficará o Salão de Exposições, com as paredes retas.
Com 3.400 metros quadrados de área construída, o museu terá forma circular. No centro da taça do cálice ficará o salão de exposições, com paredes retas e saídas para uma galeria circular. Essa galeria, que envolve o salão, será toda envidraçada, permitindo que se admire a bela paisagem da Baía de Guanabara, vista do alto da Boa Viagem. Em concreto armado, pintado de branco, o prédio, de acordo com Oscar Niemeyer, foi projetado para "ser simples e funcional".
Um escada interna, pela haste do cálice, levará a um foyer, no sub solo, que contará com um auditório, restaurante, bar, salas de trabalho, bibliotecas, sala de reserva técnica - para guardar quadros - e sanitários. A ligação externa entre as duas partes do museu será feira através de uma rampa, que vai do foyer ao salão de exposição. Para Oscar Niemeyer, esse projeto tem um significado especial: "É uma volta ao passado. Minha família era de Niterói. Meu avô, Antônio Augusto Ribeiro de Almeida", lembrou Oscar Niemeyer.
Composto por quadros de Volpi, Ligia Clark e Hélio Oiticica, entre outros artistas brasileiros, o acervo de João Sattamini começou a ser formado há 20 anos, quando ele morava em Milão, na Itália, com obras realizadas a partir dos anos 40. "Eu era amigo do pintor Antônio Dias e comprei alguns quadros dele", contou o empresário, que atua na área de comércio exterior. O acervo reúne obras de todos os artistas mais importantes do movimento neoconcretista brasileiro - cerca de 100 quadros e uma vasta coleção da Geração 80. Entre as coleções particulares, apenas a de Gilberto Chateaubriand é maior. "O importante é que essas duas maiores coleções estão no Rio de Janeiro", ressaltou João Sattamini.
Os 600 quadros da coleção do empresário não serão doados ao Museu de Arte Contemporânea de Niterói, mas cedidos à prefeitura em sistema de comodato. O prazo desse empréstimo ainda está sendo definido. "Pode ser por 10 anos, 20 anos, vai depender do acerto do prefeito com a Câmara de Vereadores e o prazo ainda poderá ser prorrogado", contou o empresário, que prefere chamar o acordo de "aluguel grátis".
A ideia de construir um museu foi transformada em projeto em apenas 45 dias. João Sattamini contou que estava procurando um local para sua coleção e encontrou em Niterói vários prédios antigos e abandonados. Mas o prefeito, com quem, segundo ele, tem relações familiares, decidiu construir um novo prédio.
Publicado originalmente no Jornal do Brasil, em 05 de junho de 1991
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