Produtora cultural, Marilda Ormy há 30 anos se dedica a história da cidade. Trabalhou em alguns cargos do município e hoje está na direção do Teatro Municipal
Com absoluta fé no ser humano e nas suas relações, Marilda Ormy, natural de Niterói, se dedica há quase 30 anos à cultura da cidade. Graduada em Produção Cultural na Universidade Candido Mendes, ela já ocupou importantes cargos no município: subsecretária e secretária de Cultura, presidente da Fundação de Arte, diretora do Teatro Popular. Atualmente, encara novo desafio como diretora do Teatro Municipal de Niterói. Marilda está por dentro de tudo que diz respeito à administração pública: conhece as leis de incentivo e os trâmites necessários para licitações. Currículo e vocação estão à disposição dessa niteroiense para arrancar do público aplausos dentro e fora do palco.
O Fluminense: Como começou o seu envolvimento com a área da Cultura?
Marilda Ormy: Começou em 1978. Eu estava montando uma escola aqui em Niterói, no bairro de Pendotiba, e recebi um convite de um amigo para cantar em Portugal. Viajei eu, meu marido e mais três amigos músicos, durante cinco anos. Nesse período de viagem, percorremos a Europa e Ásia, e eu fui mãe. Tudo acontecia de modo muito intuitivo: nós conhecíamos lugares novos somente com o dinheiro que passávamos o chapéu e assim seguíamos viagem.
Então esse foi um projeto independente de música e para conhecer, também, lugares diferentes...
Era um grupo que cantava bossa nova, samba... Nesse tempo, alguns foram desistindo, outros foram entrando, mas sempre músicos de Niterói. Foi uma experiência maravilhosa! Cinco anos de vida na estrada, viajando com amigos e fazendo música.
Como aconteceu o regresso a Niterói?
Quando o meu filho completou 3 anos, voltamos para Niterói e foi aí que surgiu o projeto de abrir o Duerê, uma casa de shows e restaurante que abrigou a cultura em Niterói, trazendo artistas do Rio de Janeiro e trabalhando os próprios artistas da cidade. O espaço, que foi um dos primeiros na cidade com este foco, funcionou durante 10 anos, de 1984 a 1994.
Fale um pouco mais sobre essa experiência com o Duerê?
Além dos shows, o espaço abrigou eventos como festivais de esquetes, teatro infantil e tudo que pudesse respirar cultura. Não era só um restaurante, nem uma casa de shows, era um espaço de espetáculos pronto para receber qualquer movimento artístico.
O que pode se traçar de diferente, no que diz respeito ao cenário, nos artistas dessa época para hoje em dia?
O Duerê é até hoje lembrado pelo público porque foi um lugar muito peculiar na cidade: um lugar “diferentíssimo”, com cobertura de sapê, algumas bananeiras e quatro jovens recebendo as pessoas que iam em busca de música de qualidade. Mas de lá pra cá, o espaço para se fazer música em Niterói só foi aumentando, a partir da década de 1980. Foram surgindo novos lugares para poder consumir música, como o Nó na Madeira, Cadongueiro e depois também o próprio espaço do Teatro Municipal esteve aberto para isso.
E depois do fechamento do Duerê, como ficou o seu envolvimento com a cultura?
Eu fui convidada a participar mais diretamente da cultura de Niterói. Em 1995, eu vim para o Teatro Municipal, que estava terminando a sua fase de restauração, como produtora da programação da casa. Depois de oito anos nessa função, fui novamente convidada a ser subsecretária de Cultura da cidade, depois presidente da Fundação de Arte, até que, em 2008, me dediquei à minha produtora (Mosaico Cultural). Agora, com a nova administração municipal, estou como diretora-geral do Teatro Municipal.
E como é para você retornar ao Teatro Municipal agora no cargo de Diretora-Geral?
É uma honra! A minha preocupação no momento é ouvir o que a cidade precisa do teatro. Eu tenho ainda que analisar cerca de 300 propostas que chegaram como projetos. Mas o meu maior objetivo é conseguir espaço para colocar cinema, literatura, circo, ópera, dança, teatro adulto e infantil, podendo contemplar todas essas diferentes artes para os niteroienses.
Qual será a principal característica da sua gestão à frente do teatro?
Quero que sejam criados projetos e não eventos para o teatro. Fazer evento é muito fácil e passa muito rápido. Eu quero é tatuar a cidade com o bom, com o belo, com o que todo mundo quer. E, acima de tudo, eu busco uma gestão humanitária. Quero sempre ouvir o que todos têm a dizer, tanto a nossa equipe como a sociedade. É importante saber o que os outros pensam.
Uma gestora mulher pode ser o diferencial...
A mulher tem uma característica interessante. Primeiro que ela por si só já é um ser "interessantíssimo". A mulher consegue ter um olhar mais cauteloso, mais cuidadoso e conseguindo ter vários olhares ao mesmo tempo. Sem contar na competência de força e determinação que só o espírito feminino consegue exercer.
Na sua trajetória, o que mudou da época do Duerê até agora?
Meu destaque maior é o crescimento das oportunidades de espaço para os artistas.
E em você, na sua particularidade, o que mudou?
Que boa pergunta, hein? (risos). Eu me vejo muito mais madura e consciente dos meus atos e, principalmente, da minha responsabilidade perante o cargo que estou assumindo. O Duerê era um desafio que nós fazíamos intuitivamente. Uma intuição positiva e que deu certo. Hoje, busco trabalhar com essa intuição, para não perder a espontaneidade nem o juvenil, mas com muito mais certeza do que estou fazendo.
Por Mateus Almeida para O Fluminense (17/03/2013)
|
Produtora cultural Marilda Ormy agora é diretora do Teatro Municipal de Niterói |
Tags: