Na mesma semana em que completou 84 anos, o artista plástico Roberto Burle Marx esteve em Niterói participando, na última sexta-feira, 07 de agosto de 1993, da abertura da exposição "Estudos Para o Pano de Boca do Theatro Municipal João Caetano (TMJC)", que leva sua assinatura. São nove trabalhos em acrílico sobre cartão (além de algumas serigrafias e litografias criadas com a mesma finalidade) inspirados no cromatismo do próprio teatro, que privilegia o ocre, o verde e o vermelho-veneza. A mostra, que marca a inauguração da Sala Carlos Couto, no anexo administrativo do Theatro, poderá ser vista até 12 de setembro.
A solenidade teve início descerramento de duas placas de bronze - uma na parte externa da Sala Carlos Couto, em homenagem ao poeta, escritor, ator e ex-diretor do TMJC, e a outra na parte interna, que marca a gestão do prefeito João Sampaio. Em seguida, Burle Marx recebeu o título de Cidadão Benemérito do Estado do Rio de Janeiro, das mãos do deputado estadual Palmir Silva, uma iniciativa deste e do também deputado Leôncio Vasconcellos.
O pano de boca do Teatro Municipal de Niterói será a maior obra (até o momento) já pintada por Burle Marx, em termos de proporção. Serão 99 metros quadrados de tela, na verdade, um tecido especial que integra a cortina corta-fogo. "O meu desejo foi ligar, através da pintura, elementos arquitetônicos já existentes de forma equilibrada e que ao mesmo tempo representasse a nossa época.
"Espero que a atmosfera do teatro ligue os detalhes decorativos que já existem com a pintura do pano de boca", declarou o artista, numa das muitas visitas que fez ao teatro, após o convite para pintar o pano de boca, peça que isola o palco da plateia no início e término de cada apresentação. Burle Marx será o terceiro artista de fama internacional a emprestar seu talento à pintura do pano de boca do Theatro Municipal.
Os outros dois foram de autoria de Antônio Parreiras e Thomaz Driendl, artistas de grande importância na história da arte niteroiense e nacional. Essas obras se perderam à falta de conservação e ao descuido administrativo, não havendo hoje qualquer registro iconográfico.
Atualmente, a pintura do pano de boca é realizada sobre tecidos especial que integra a cortina corta fogo, elemento obrigatório por lei em todos os teatros do mundo. A cortina do TMJC está sendo executada de acordo com a norma BS-5588, da British Standarts Institutions. Terá um total de 7,5 toneladas de aço, revestida com fibra de sílica de três milímetros de espessura, com resistência global de até 900°C, e localizada de até 1600°C. A porta, composta de dois painéis, será movida por um sistema elétrico unidirecional.
Carlos Couto: "Homem da Rua" louco por Teatro
Um autêntico papa-goiaba, daqueles que não se conformava com a fusão dos Estados do Rio e da Guanabara, e a consequente perda do título de Capital fluminense, de Niterói para o Rio de Janeiro. Assim era Carlos Couto, um homem que deu parte de sua vida para que o Theatro Municipal de Niterói sobrevivesse a tantas crises e ameaças de fechamento permanente. Tanto foi assim que é seu nome que batiza a sala que será inaugurada sexta-feira no anexo do Theatro que homenageia João Caetano.
Português de nascimento, viveu em Niterói desde os quatro anos. Formou-se advogado e chegou a ser juiz substituto da Comarca de Maricá. Mas ainda aos 21 anos ingressou na carreira artística. Mais do que isso, entregou-se com paixão às atividades de ator, diretor de teatro, cronista, poeta e escritor, jogando o diploma e o anel de grau para o alto.
Lançou nove livros, entre eles "Contribuições Portuguesas ao Teatro Brasileiro", "Rosas e Porradas", "Zagorá", "Uma Ode ao Desciúme" e "Crônica Bem Ritmada Para Ensinar Marciano a Ser Niteroiense". Nas rádios Mayrink Veiga e Difusora Fluminense ficou conhecido com o quadro "Carlos Couto: o Homem da Rua", nas décadas de 1950 e 60.
Carlos Couto não se acomodava nem se conformava ante situações que o contrariavam. E uma dessas foi o longo período em que o Theatro Municipal esteve fechado. Em 1982 fundou o Aten-Amigos do Teatro, em Niterói, num auxílio à reabertura do Theatro, que ele dirigiu no ano seguinte, vendo-se às voltas com mais uma das intermináveis obras. Ele dizia que o Municipal vivia sob o permanente espírito de uma obra de Santa Engrácia (expressão lisboeta que significa não ter mais fim).
Na varanda de seu sítio na Vila Progresso, Pendotiba, ainda está de pé o Teatro Céu Aberto que ele criou com o objetivo de aproximar o público de sua maior paixão.
Um espaço Multimídia
A abertura da exposição "Estudos Para o Pano de Boca do Theatro Municipal de Niterói" marca a inauguração da Sala Carlos Couto, um espaço no térreo do prédio anexo do teatro, que, sob a coordenação de Helô Assad, será destinado a atividades multimídia complementares à programação do Municipal. Já estão agendados para o local workshops com o tecladista Luciano Alves e o violonista Jersy Milewski.
Ensaios, exibição de vídeos sobre ópera e dança, cursos, palestras e concertos de música de câmara também ocuparão o local. Como frisou o prefeito João Sampaio, a sala vai se integrar à vida cultural da cidade. "Minha missão é levar adiante o projeto de dar uma nova feição a Niterói", concluiu.
A Sala Carlos Couto, que mede 60 metros quadrados e tem capacidade para 90 pessoas sentadas, será entregue inteiramente pronta no dia do vernissage, sexta-feira. A equipe responsável pela restauração de todo o Theatro Municipal preservou o volume arquitetônico original do antigo anexo, concebendo espaços internos condizentes com as novas funções (no segundo andar funcionará a área administrativa, até então inexistente).
Os elementos decorativos da fachada foram minuciosamente reconstruídos com base em documentação iconográfica, e o cromatismo adotado é propositalmente diferente do prédio principal, deixando aparente suas peculiaridades. Helô, garante que a programação será pautada de acordo com o espetáculo em cartaz no Theatro Municipal.
Com informações de O Fluminense e Tribuna da Imprensa
Pesquisa e Edição: Alexandre Porto
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