"Ele que não esmoreça; quando lhe disserem que Niterói tem necessidades mais urgentes que a de um teatro, faça de conta que não ouviu e vá por diante com a consciência tranquila de quem trabalha pelo engrandecimento da sua terra. O teatro é tão necessário como a escola, o quartel, o hospital, o calçamento e limpeza das ruas, etc. É preciso impô-lo à população." Arthur Azevedo
La Journée de la Liberté, 14 de Julho, foi comemorado nesta capital com um evento altamente relevante, que representa também uma homenagem a
João Caetano dos Santos, o artista cuja memória é imperecível. Transcorreu com o maior brilhantismo o belo festival organizado por
Paulo Alves, digno prefeito de Niterói, para solenizar a reabertura oficial do
Theatro João Caetano.
A inauguração do teatro fez-se o assunto do dia. Demais era geral a curiosidade de conhecer ao certo em seus detalhes o programa da festa, que não fora publicado oficialmente por um generoso intuito que poucos souberam respeitar. Há muitos dias já haviam-se esgotado os convites para o festival e ainda inúmeras eram as pessoas que os procuravam obter sem consegui-lo.
Pode-se dizer que foi agitada toda a população porque os que não tiveram a aventura de obter o almejado convite foram em romaria até o teatro a fim de apreciar o belíssimo efeito de iluminação e contemplar o majestoso edifício que a Prefeitura entregava ao povo e aos artistas.
Desde cedo grande movimentação desusada se manifestou pelas ruas da antiga Praia Grande. Embora a hora marcada para a sessão solene fosse às 20h, uma hora antes compacta massa de curiosos já lotava o trecho da rua XV de Novembro, em frente ao teatro, aguardando ali a chegada dos ilustres convidados.
Piquetes da polícia mantinham a ordem e vigiavam para que se conservasse livre a entrada do edifício. Duas poderosas lâmpadas à álcool projetavam luz até grande distância, e faziam sobressair em toda a sua imponência, a reerguida fachada do teatro.
O niteroiense pôde enfim admirar o bom gosto que presidira aos reparos, e que tornaram-no de aparência elegante e
chic, perfeitamente digno da capital fluminense e capaz de concorrer com vantagem com os estabelecimentos da mesma natureza existentes na vizinha capital.
Com razoável antecedência, o vasto recinto da magnífica casa de espetáculos estava repleto. Era belo de ver-se a escolhida sociedade que ali se achava. Nos camarotes, na plateia e nas varandas, viam-se muitas famílias, das mais distintas desta cidade.
O elemento feminino numa abundante profusão de elegantes
toiletes dava o tom animado à festiva reunião; as sedas, as rendas delicadas, os tecidos finos de lã, confundiam-se numa encantadora tonalidade de cores; havia ali de tudo: o rosa, o azul, o branco, o verde, o lilás, o roxo, o encarnado... enfim, todas as cores, em suas diferentes nuances.
Fulgurantes e custosas jóias ostentavam-se em colos alvíssimos, de contornos suaves. Aquelas que menos afortunadas não adornavam de rubis e brilhantes, tinham o brilho adamantino dos dentes alvos, a destacarem-se da púrpura dos lábios.
O sexo forte ali estava também perfeitamente representado. Desde as altas autoridades do Estado e do município, civis e militares, até o mais simples operário. Luziam os peitilhos das camisas e algumas casacas se salientavam dentre os trajes mais modestos.
Era de efeito deslumbrante o aspecto do vasto recinto onde por grande número luminárias a gás, com incandescentes bicos Auer, a luz se espargia fartamente por todos os recantos. Foi gratíssima a impressão de quantos ali estiveram desde o exterior, desde a fachada, ao penetrar no vestíbulo artisticamente decorado; era notável o prazer, a admiração que todos experimentavam.
Vinha dos camarotes, das frisas, das cadeiras, de toda parte, em suma, o olhar atento e pesquisador dos assistentes, uns em pé, ou nos intervalos entre as cadeiras e nos camarotes, pousando aqui, ali, acolá, notando o bom gosto e a ordem que em tudo se evidenciava.
Logo na entrada podia-se ver que estavam, na louvável missão de que foram incumbidas, as crianças aliadas à causa nobre e justa da restauração, pelo povo, do prédio que Niterói ofertou ao venerando dr. March. Os programas passavam das mãozinhas inocentes e puras para as dos generosos cooperadores da obra, aconselhada pela gratidão de todos os niteroienses.
Às 20h em ponto chegou ao teatro o sr. Nilo Peçanha, acompanhado de Álvares de Azevedo, diretor do Interior e Justiça e sua esposa, e o capitão Álvaro Fontenelle, ajudante de ordens do presidente do Estado.
Ao acomodar-se S.Ex. no camarote presidencial, a banda do 38° batalhão de infantaria executou a Marselhesa e, арós, о Hino Nacional. Logo em seguida subiu o pano a fim de ser executada a primeira parte do programa do festival. Bem ao centro da cena, achava-se sobre elegante pedestal o busto do imortal João Caetano, obra do artista Benevenuto Berna.
Em frente ao pedestal a uma mesa estava sentado o notável comediógrafo brasileiro
Arthur Azevedo, incumbido da organização do festival, tendo à esquerda, o exímio literato
Salvador de Mendonça, orador oficial, e à sua direita, o prefeito.
Rodeavam-nos os vereadores municipais Fróes da Cruz, presidente da Câmara; Tavares de Macedo, vice-presidente; Ferreira de Aguiar, secretário; Octavio Kelly; João Abbade; Teixeira Leomil; Leoni Ramos; Irênio Pinto e Matheus Ferreira.
Primeira parte do programa
Ao abrir a sessão, Arthur Azevedo declarou que para obedecer ao ilustre prefeito tivera necessidade de desobedecer ao seu médico, que lhe proibira sair de casa. Mas que só em caso de morte poderia deixar de ir ocupar aquele posto de honra. Não lhe era possível, entretanto, estender-se na sua oração, sentia dificuldade na emissão da voz, e além disso é conhecida a sua aversão à oratória. Limitou-se, pois, a ler o ato municipal nº 9 de 14 de julho de 1904, que criou o Conservatório Dramático Municipal, com sede no renovado teatro.
Depois de lido este ato, a palavra foi oferecida a Salvador de Mendonça, que, em sua prosa simples e sonora, discorreu sobre a história do teatro e a vida do genial artista João Caetano, encarando proficientemente a sua individualidade artística.
O literato trouxe para o palco do velho Santa Thereza o vulto majestoso do homenageado patrono, e falou dele com a certeza de quem outrora o viu com aqueles olhos que hoje infelizmente já não vêem. O insigne homem de letras fez o elogio, não desproporcionado, mas justo, do maior intérprete brasileiro de Shakespeare, e deu-lhe a palma, a ele, ao nosso patrício ignorado e obscuro, depois de compará-lo a outros grandes artistas que viu aqui e no estrangeiro. Mas a afirmação definitiva do gênio de João Caetano encontrou-a Salvador de Mendonça, principalmente na interpretação do papel de Augusto, da
tragédia de Corneille, a chave de ouro com que o imortal artista fechou uma carreira que foi, não há dúvida, um dos mais curiosos fenômenos que apresenta a história do teatro em todos os tempos e em todos os países.
Em seguida ergueu-se Paulo Alves, que leu algumas tiras de papel na qual traçou como maior esmero literário, com um desrespeito sublime das fórmulas oficiais, com uma fé ardente de convencido e um entusiasmo de moço, entusiasmo sagrado e comunicativo, que eletrizou a platéia, os camarotes as galerias, o seu modo de ver o teatro que considera uma necessidade pública tão urgente como outra qualquer. A memória de João Caetano, cujo nome fez figurar no frontão do teatro de Niterói, a tradição histórica daquela casa, o antigo esplendor da Praia Grande, tudo isso o preocupa e o fortalece.
No cargo para o qual foi nomeado pelo presidente da Província há pouco mais de 6 meses, S. Ex. referiu-se também aos melhoramentos que pretende empreender em Niterói e julga-se feliz por lhe ter o acaso colocado o Theatro João Caetano como o primeiro dos melhoramentos realizados. Esse discurso foi vivamente aplaudido, sendo o prefeito muito felicitado. O Dr. Paulo Alves ofereceu um lindo ramalhete de flores artificiais a cada uma das Exmas. esposas dos Drs. Nilo Peçanha, Arthur Azevedo e Salvador de Mendonça.
A sessão solene foi encerrada ao som do Hino Nacional e após um pequeno intervalo, às 21h pontualmente, teve então início à segunda parte do programa - a representação, por amadores da cidade, da comédia em três atos, original do saudoso comediógrafo
Augusto de Castro, "Os três chapéus". Trata-se de uma peça já bastante conhecida, que teve franco sucesso quando representada na antiga casa de espetáculos Phenix Nictheroyense.
A apresentação agradou enormemente e o desempenho foi corretíssimo por parte dos hábeis atores:
Eponina Paiva (Isabel),
Argentina Fontes (Lucia),
Paiva Junior (Eduardo Ferreira),
Costa Velho (Silvino Sylvestre),
Peres Machado (Adolfo Guedes),
Delphim Rangel (Paulo de Assis),
Horacio Thiberge (Bento) e
Carlos Wonmeyl (Francisco). Essas moças e rapazes foram alvo dos mais animadores aplausos a que fizeram juz pelo desembaraço e garbo com que desempenharam a sua missão.
A família do pranteado comediógrafo Augusto de Castro, composta de filhos, nora, genro e netos, assistiu ao espetáculo de um camarote gentilmente oferecido pelo prefeito municipal.
Estavam também presentes: Alfredo Backer, secretário geral do Estado; Azevedo Cruz, chefe de polícia; coronel Pinheiro, comandante do Corpo Militar; deputados federais Fidelis Alves e João Baptista; deputados estaduais Araújo Pinheiro e Nestor Ascoli; desembargador Medeiros Cortés e família; Bernardino de Almeida e Albuquerque, juiz municipal; Antônio Zeferino Cândido; Santos Abreu; Levy Carneiro; Pereira Faustino; Lossio Leibtz; Fortunato de Menezes; Rodolpho Coimbra; Paulino Camarinha; Ferreira de Figueiredo; Jorge Pinto, diretor da Higiene Municipal; Everardo Backheuser e família; Joaquim Sardinha e família; capitão J. J. Franco de Sá, visconde de Moraes; capitão de fragata Adelino Martins; Cícero Costa e família; dr. Justino de Menezes; dr. Miranda Freitas, agente geral da Prefeitura; dr. Carvalho Leite e família; coronel Samuel Rocha e família; tenente Sotero Itajahy, ajudante de ordens do prefeito; Alfredo Azamor; Carlos Marinho; Guilherme de Albuquerque; tenente Argêo Quaresma; dr. Souza Dias, advogado da Prefeitura; capitão Cantidiano Rosa; José Brasil; viúva Quaresma; Theophilo de Carvalho; Alberto Bahiense; Agenor Quaresma; Sylvio Fróes; Luciano Gualberto; Cleomenes Filho; Sá Pinto; Luiz Froes Filho; Alfredo Duncan; Eurico de Oliveira; Sebastião Calvet; José de Cliveira, major; Costa Luna; alferes Rosas; major Américo Rodrigues; desembargador Palma e família; dr. Borman Borges e família; coronel Quirino dos Santos e família; e os jornalistas Francisco Souto, do Correio da Manhã; Aristides Chaves; d'A Tribuna; Oscar Guanabarino, d' O Paiz; Joaquim Lacerda, do Jornal do Commercio; Arthur Carvalho, da Gazeta de Notícias; João Freire, do Commercio do Brasil; coronel Almeida, do Jornal do Brasil; Ricardo Barbosa, de O Fluminense; e Jorge Monteiro, de A Capital.
Achavam se ainda os representantes de diversas associações e fábricas, e muitas distintas famílias e cavalheiros de cujos nomes não podemos tomar nota.
Caridade
Como dito acima, os programas da festa, impressos com muito gosto, foram vendidos, sem preço estabelecido, pelos meninos Luciano Azevedo, Waldemar Kastrup e Joaquim Azevedo, que comunicavam aos espectadores, qual o destino que ia ter o produto obtido - a restauração do prédio do
Dr. March. A venda produziu a importância de 177$500, que, verificada por
Alfredo Azamor e
Everardo Backheuser, membros da comissão angariadora de donativos, foi entregue imediatamente ao primeiro, tesoureiro da mesma comissão. Os programas impressos a ouro e cores tinham duas
fotogravuras de João Caetano, uma do artista em um dos principais papéis que o celebrizaram e outra da estátua que lhe foi erigida.
O Theatro Renovado
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Fachada do Theatro João Caetano em 1904 |
O antigo Theatro Santa Thereza, embora de construção moderna, ameaçava ruína em consequência da desamarração de suas paredes desaprumadas e dos madeiramentos carcomidos pelo cupim, quando, em janeiro de 1903, a Câmara Municipal, sob a orientação do engenheiro municipal
Godofredo de Freitas Travassos, resolveu repará-lo em condições de segurança, confiando a execução das obras ao provecto arquiteto e empreiteiro
Felício Antônio Miralhe, aprovando seu projeto com várias modificações indispensáveis à comodidade pública e ao serviço do palco.
A formosa casa de espetáculos, que foi reinaugurada pela prefeitura municipal com as galas de uma festa digna dos foros desta capital, foi arquitetada ainda no século passado pelo provecto engenheiro de Obras Públicas da Província do Rio de Janeiro, bacharel
Ernesto Fernandes Barrandon, de saudosa memória na classe e na sociedade.
Os consertos, há mais de um ano encomendados haviam consumido já uma quantia enorme, a ponto de se poder julgar que aquilo era um sorvedouro do erário público: mais de uma centena de contos de réis tinha sido tragada pelas obras que ameaçava ter a duração das da Santa Engracia.
Em vista disso, o sr. prefeito logo que assumiu a direção dos negócios municipais, tratou como lhe era dever, de estancar as grandes fontes de despesas. De certo, porém, não deixaria o teatro com os trabalhos em meio, pois, apesar da fortuna ali consumida, ainda havia muito por fazer.
Mandou, portanto, orçar os serviços que faltavam e com o dispêndio de menos de vinte contos de réis, segundo nos consta, fê-los completar, com grandes melhoramentos, dotando assim o município com uma casa de espetáculos de primeira ordem. O ilustre funcionário teve em vista ainda preparar o teatro de modo a fazer dele uma fonte de renda para quanto antes recuperar parte dos capitais despendidos.
Renovado o edifício e acrescidas as obras com as ordenadas, apresenta-se ao público de Niterói e aos visitantes com aspecto de uma casa teatral elegante, sólida e confortável, por nada ter escapado à previsão de Felício Miralhe.
A frontaria do edifício, adaptada ao estilo do renascimento, foi rasgada no pavimento térreo em duas portas largas e duas espaçosas janelas, guarnecidas aquelas de artística cantaria; tendo sido substituídas as quatro estreitas janelas do superior por outras de largura correspondente às aberturas embaixo, todas elas com caixilhos, enquadrando vidros ornados de florões circundando as armas do município. O acrotério da fachada encima garbosamente a bela fachada do nosso teatro, que em nada deve às melhores do Rio de Janeiro.
Os pátios laterais, revestidos de calçada cimentada, são ornados de canteiros ajardinados, dando fácil escoamento à onda de espectadores, mesmo nas ocasiões de pânico.
O vestíbulo, artisticamente decorado, tem as necessárias proporções para o público e seus movimentos nos intervalos dos atos e na entrada e saída, tendo ao lado esquerdo a bilheteria e à direita um 'botequim', com disposição especial para servir a freguesia que não deseje sair da sala dos espetáculos.
Esta se acha preparada com elegância rara entre nós, tornando-se notável o teto arquitetado no estilo do renascimento e semelhantemente pintado, no qual notam-se de um lado o emblema do Estado e do outro da municipalidade, terminando na série de ornatos que orlam as cornijas dos camarotes, desde a entrada até o proscênio.
Os camarotes em número de 38, distribuídos em duas ordens sobrepostas, estão galantemente preparados: 314 cadeiras de primeira classe, 48 frisas e 24 poltronas de galeria nobre, além de 500 lugares de gerais e quase outro tanto de galerias comuns completam a lotação da sala de espetáculos; podendo todos os espectadores, segundo as respectivas classes, circular cômoda e destacadamente e dispondo das dependências especiais necessárias durante as festas prolongadas para
toilete e outros fins.
O camarote do Presidente do Estado, Prefeito e Presidente da Câmera, em frente ao palco, está preparado com tapetes, cortinas e outros ornatos especiais. Dois camarotes junto à bancada da orquestra, a um lado e outro, são destinados à fiscalização dos espetáculos.
O palco e suas dependências estão preparados a capricho, com os maquinismos dos bastidores bem dispostos e um serviço de campainhas elétricas e tubos acústicos para a regularidade do serviço de cena.
Os camarins destinados aos artistas são em número de doze, sendo 8 do lado do palco e 4, sob o palco, ao lado da sala de contrarregra e outra para os artistas; além de depósitos, mictórios e outros compartimentos que asseguram a boa execução das representações teatrais.
O pano de boca é o mesmo de outros tempos, porém, reformado. Há diversos registros d'água para casos de incêndio. Os corredores, galerias e escadas até o segundo pavimento estão revestidos de tapetes, havendo capachos em todas as entradas gerais.
O Salão Nobre mereceu também especiais elogios. Amplo e ornamentado segundo o estilo do renascimento, oferece o aspecto da maior elegância, com suas paredes ornadas pelo pincel de
Rolando Perino Giovanni à imitação perfeita de estofo achamalotado a ouro e cores, tapetes que orlam o assoalho encerado, jardineiras artísticas guarnecidas de grandes espelhos
biseautés, lustres e arandelas de gás de estilo moderno, reposteiros e sanefas das portas e janelas cuja vastidão permite a maior ventilação nos dias de calor, com todas as minúcias, enfim, que o bom gosto do arquiteto ali acumulou.
A iluminação a gás na sala dos espetáculos, nos corredores, galerias, vestíbulo, pátios e fachada é fornecida por inúmeras arandelas, lustres e lâmpadas de formato pouco comum entre nós, como já citado, com bicos Auer, sobressaindo as duas lâmpadas à álcool da fachada, cujo poder iluminativo assegura a facilidade da movimentação do povo em frente ao teatro.
Por todas as dependências do belo edifício circula água em abundância para os fins necessários, sendo notável a boa disposição dos gabinetes reservados e mictórios, distribuídos com profusão e critério.
Niterói pôde, enfim, inaugurar com orgulho seu teatro, sem rival na vizinha capital, graças às acertadas providências do prefeito e à boa execução das obras realizadas pelos responsáveis.
No recinto do nosso teatro, vasto e elegante, esteve por certo, na noite de sua reabertura, o espírito de
Ernesto Barrandon, apreciando os efeitos estéticos da realização de seu projeto e compartilhando dos aplausos da multidão convidada para a solenidade da apoteose ao gênio de João Caetano dos Santos.
Para o maranhense radicado no Rio,
Arthur Azevedo, o responsável pelo festival que encantou a todos os presentes, o teatro na época de João Caetano, quando ainda não havia as modernas barcas da Cantareira, era o elo que mais aproximava as duas capitais uma da outra.
"O salão do Santa Thereza era o ponto em que a sociedade carioca se encontrava com a sociedade fluminense. Por que não há de reviver essa época? Pois a travessia da maravilhosa Guanabara não é ainda um dos nossos mais belos passeios? Se em Niterói nos derem a boa comédia, tão difícil de plantar no Rio de Janeiro, por que não levaremos a Niterói o concurso da nossa animação, o estímulo dos nossos арlausos? Entretanto, o digno prefeito niteroiense não apela para os cariocas; está convencido que basta a população da outra banda para fazer com que vingue a sua generosa e patriótica ideia de levantar a arte dramática. Em todo o caso é uma lição, uma grande lição, que nos dá essa municipalidade pobre."
Nome na fachada
Na reconstrução do Theatro João Caetano, não sabemos por ordem de quem, foi mudado, na fachada, o nome do mesmo teatro para Municipal, quando por uma lei da Assembleia Municipal, cujo projeto foi apresentado pelo desembargador Luiz de Souza da Silveira e aprovado a 19 de julho de 1900, o teatro passou a denominar-se João Caetano, em homenagem ao primeiro ator brasileiro, glória de sua pátria, e que foi admirado no velho mundo. Ora, só uma outra lei pode revogar a que nos referimos, e por isso chamamos a atenção do ilustre Prefeito, e bem assim da Câmara Municipal.
Lenço perdido
Durante o espetáculo da inauguração do Theatro João Caetano, realizado em 14 do corrente, foi perdido um lenço de seda com as iniciais 'F.A.' bordada em um dos cantos. A pessoa que o tiver encontrado e fizer o obséquio de entregar ao dr. Anglada, à rua do Visconde do Rio Branco 107, escritório da Secção-Água, da Companhia Cantareira, será gratificada com a quantia de 90$000, que reverterá para a Charitas no caso de não ser recebida por gentileza de quem houver achado o referido lenço.
Por Alexandre Porto, em viagem no tempo, para julho de 1904
Com informações de 'A Capital', 'O Fluminense' e 'A Notícia' - Hemeroteca da Biblioteca Nacional
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