Conforme noticiamos, estreou na última sexta-feira, 3 de junho de 1897, no Theatro Municipal de Niterói, em curta temporada, a trupe infantil Chateau Desireux dirigida pelo maestro Guilherme Ribeiro de Brito Fernandes. Em cartaz a já bem conhecida opereta "Conquista de um Trono", em 3 atos e com 36 números de música, compostas e instrumentadas pelo mesmo Brito Fernandes, representadas por 36 lindas crianças de ambos os sexos, que fazem atualmente parte do conjunto infantil.

O espetáculo que vimos representado por um bando de crianças alegres e adoráveis, veio nos revelar que o sr. Brito Fernandes, afora pianista de primeira água, é comediógrafo e de uma paciência e tenacidade capazes de meter despeito ao mais sério pedagogo.

De um bando de crianças de dez anos, ele formou cantores com vozes harmoniosas e sonoras subdivididas em coros magistrais, trios e duetos que necessariamente lhe haviam de custar alguns bons quilogramas de paciência despendida para alcançar o brilhante resultado que vimos.

Enredo

O rei Benjamin que anda de namoro com sua futura esposa, Anita, tem a proteção de Purpurina e contra si a má vontade do vassalo Esperidião, namorado de Rosita, levado pelas tentações de Satanás, que lhe promete o reino de Benjamin. De fato, este é destronado e Esperidião por efeito de um talismã que Satanás lhe dá possa-se do trono.

Benjamin, protegido pela fada, de novo tomou o trono; Esperidião manda Satanás plantar batatas, arrepende-se e casa-se com Rosita. O rei casa-se com Anita e os dois perfeitos cortesãos, o duque da Trindade e conde Jeremias, casam-se com as suas interessantes amadas Carmelita e Jovita. O marquês Chico Terceiro é o único que não se casa, porque não encontra mulher.

Eis o enredo simples da mágica que representada tem muita graça e mostra-se de uma magnificência real devido aos vestuários ricos e fantasiosos dos pequeninos atores.

Toda a peça compõe-se de 40 trechos de música original de Brito Fernandes, entre os quais sobressai um 'Choro' (leia-se Xôro) que deixa a gente com o coração palpitando. Esta música foi bisada e aplaudida freneticamente. Aí Xôro!

A orquestra é composta de 11 professores, sob a regência de Brito Fernandes. Os cenários de que compõe-se esta peça são devidos ao pincel do distintíssimo cenógrafo Orestes Coliva, sendo o da apoteose final brilhantemente pintado pelo talentoso amador Damásio, muito conhecido nesta cidade. Os maquinismos, inclusive a lindíssima apoteose, foram executados pelo hábil e inteligente maquinista do Municipal, Manoel Arruda.

É inacreditável a afinação de todas aquelas vozes de crianças encantadoras e vivas. Os diabos das crianças parecem verdadeiramente gente adulta.

Há dois papéis secundários na peça, os dois anjos, salvadores de Esperidião e sua noiva. No entanto, quando os dois pequeninos querubins entraram em cena e pousaram as mãos nos ombros dos dois arrependidos, houve um momento de comoção na plateia. Estavam tão bonitinhos e tão celestemente vestidos que ouvimos interrogar: "Serão os anjos do céu mais formosos e gentis do que os dois do Brito Fernandes"?

O teatro estava repleto de espectadores que repetidas vezes aplaudiram a meninada do Chateau Desireux. A não ser uma ou outra falta insignificante notada ao correr da apresentação, o espetáculo esteve bom pois que todos os jovens atores que nele tomaram parte muito se esforçaram no desempenho de seus papéis.

Muitas flores, palmas e pedidos de repetição de alguns trechos musicais foi a prova mais exuberante de que as pessoas que assistiram à "Conquista", muito contente, se retiraram do teatro. As vestimentas e demais decorações muito agradaram. O espetáculo encerrou-se com a mimosa e deslumbrante apoteose intitulada "O Reino das Fadas".

Sendo a peça vestida a caráter, seus diretores não pouparam esforços e sacrifícios a fim de que o público desta cidade possa passar algumas horas bem agradáveis. Os bilhetes acham-se à disposição do respeitável público no Salão de Barbeiro do sr. Bastos à rua do Marechal Deodoro por especial obséquio do tesoureiro e nos dias do espetáculo, 3, 4 e 5 de junho, das 10h em diante, na bilheteria do Theatro Municipal. Mise-en-scène de Brito Fernandes.

Chateau Desireux

O Chateau Desireux, que durante muito tempo fez as delícias do público niteroiense num teatrinho próprio da rua do Visconde de Itaboraí 60A, acaba de ser reorganizado pelo seu antigo diretor, o simpático maestro Brito Fernandes, que o transformou em clube.

Com o produto dos três espetáculos dados no Theatro Municipal pretende o maestro construir um teatro, em melhores condições que o primitivo e que ofereça a elegância necessária e a comodidade indispensável de que são muito justamente merecedores os frequentadores do Chateau, para o que já obteve o terreno necessário. Os aplausos recebidos pela trupe infantil do público da Capital Federal quando trabalhou no Éden Lavradio, dispensa-nos de mais elogios.

A seguir reproduzimos o texto do convite publicado nos jornais de Niterói e Rio de Janeiro.

Sendo este clube bastante conhecido nesta cidade, onde, teve a honra de receber sempre do distinto público que o frequentava as maiores provas de simpatia e acolhimento que se podem dispensar a uma pequena sociedade recreativa, julga-se por isso bastante fortalecido e cheio das maiores esperanças para, com a devida consideração e respeito, solicitar deste mesmo público a sua valiosa e nunca desmentida proteção e benefício da ideia e do fim a que é destinado, para o que fará representar, no Theatro Municipal, a sempre desejada e aplaudida opereta fantástica, que tanto sucesso fez em Niterói, no Chateau; em São Domingos, no Clube 27 de Julho; e finalmente na Capital Federal, a 14 março do ano próximo passado.


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Publicado em 30/12/2024

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