Praia Grande, hoje Niterói, foi uma das localidades mais apreciadas pela Família Real no Brasil

Niterói hoje é conhecida pela beleza natural e por monumentos arquitetônicos únicos, que encantam os mais variados gostos. Mas a paixão pelas vistas paradisíacas e pelo povo acolhedor não são atributos contemporâneos da cidade. A pouco menos de um ano do início das comemorações do bicentenário da chegada da Família Real portuguesa ao Brasil, 'O Fluminense' conta um pouco da passagem da nobreza pela Praia Grande, ou como chamamos nos dias atuais, Niterói. O munícipio - conhecido por sua alta qualidade de vida - foi o único em todo território brasileiro, até poucas décadas, a ter os títulos históricos de Vila Real e Cidade Imperial. E São Domingos, que sediou as visitas do Príncipe Regente, hoje tem destaque na cultura e no mercado imobiliário.

Após três meses de uma viagem conturbada vindo de Portugal, a nobreza portuguesa aportou no Rio de Janeiro, em 7 de março de 1808. Foram 16 naus com aproximadamente 15 mil pessoas, entre membros da Corte, tripulação e parte da burocracia europeia. A mudança para o Brasil se deu após a recusa da monarquia de Portugal de participar do bloqueio continental à Inglaterra, o que resultou na invasão das terras lusitanas por Napoleão Bonaparte, explicou o presidente do Ciclo Monárquico Dom Pedro Il de Niterói e ex-presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Niterói, Francisco Tomasco de Albuquerque.

Oito anos após a chegada ao Brasil, D. João VI - então Príncipe Regente - perdeu sua mãe, Dona Maria I - também conhecida como Maria, a louca. Para amenizar a tristeza, o representante máximo da realeza no País decidiu comemorar seu aniversário de 49 anos na Praia Grande, atualmente Niterói. Segundo Tomasco de Albuquerque, ao contrário de muitos europeus, D. João apreciava tomar banho e gostava de se banhar nas praias fluminenses, o que fez D. João se apaixonar pelo vilarejo Praia Grande, que se estendia da Ponta da Areia até a Boa Viagem, era uma pequena vila com poucos habitantes e construções, apesar de ser uma terra de grandes extensões. A área com maior movimentação era São Domingos, que hoje continua com o mesmo nome. Algumas fazendas e sítios se espalhavam por todo o território, sendo uma das principais a de Dona Helena Casemiro, onde era plantada mandioca. A propriedade se localizava nas imediações da (atual) Praça do Rink até a Rua da Conceição. Apenas cinco igrejas - ou freguesias como eram chamadas - se espalhavam pela região.




Chegada - Sabedor do desejo de D. João VI de visitar a Praia Grande, o capitão das Ordenanças do Distrito de São João de Icaraí, João Homem do Amaral - rico traficante de escravos - decidiu oferecer ao Príncipe Regente um dos prédios de sua propriedade, localizado no Largo de São Domingo, esquina com Rua do Ingá (hoje Rua José Bonifácio). O prédio era amplo e, aceito pela realeza, ficou conhecido pelo nome de "Palacete de D. João".

E as comemorações nas terras da Praia Grande não terminaram por aí. O marechal inglês William Carr Beresford resolveu realizar uma parada militar com as tropas vindas de Lisboa, destinadas ao bloqueio de Montevidéu, no Uruguai.

Tomasco de Albuquerque conta que os habitantes da Praia Grande tinham que ir ao Rio de Janeiro para resolver pendências burocráticas. O transporte para a cidade sede da realeza brasileira era feito em pequenos barcos à vela e a fragilidade das embarcações causou muitos acidentes e até mortes. Logo, a população local decidiu fazer um abaixo-assinado para montar uma vila na Praia Grande, onde todos os problemas pudessem ser resolvidos sem houvesse necessidade de travessia.

"As estadas da nobreza portuguesa em terras da Praia Grande renderam à cidade o titulo de Vila Real da Praia Grande, em 10 de maio de 1819. Mas só em 11 de agosto do mesmo ano, o ouvidor geral e corregedor da Comarca, Joaquim José de Queiroz, oficializou a denominação. A cerimônia contou com a presença do Clero, de pessoas e moradores de freguesias de São João de Carahy, São Sebastião de Itaipu, São Lourenço dos Índios e de São Gonçalo", contou o presidente do Ciclo Monárquico Dom Pedro II de Niterói.

Nobreza - Após 13 anos de estada no Brasil, D. João VI regressou a Portugal com sua família para assumir o trono no país europeu. E deixou seu filho D. Pedro I, à frente da administração brasileira. Como seu pai, o novo Príncipe Regente demonstrou seu afeto por Niterói com a intitulação de Cidade Imperial, fato que nenhuma outra ganhou no Brasil até o inicio da década de 1880.

Arquitetura

A presença da Família Real na atualmente denominada cidade de Niterói foi um marco importante para o desenvolvimento urbano na Praia Grande. E um erro pode ser reparado através do estudo da história nacional: Brasília não foi a primeira cidade projetada em uma prancheta, ou seja, por um especialista, e sim Niterói.

O comerciante inglês John Luccock assim descrevia o outro lado do Rio de Janeiro: "São Domingos e Praia Grande, no lado oposto, eram lindas aldeias pequeninas, constituídas de um punhado de casitas dispersas e mergulhadas no seio da floresta". A aldeia indígena, no morro de São Lourenço, origem da cidade, nem era mencionada.

Em 1820, o "Plano de Edificação da Vila Real da Praia Grande", criado por Pallière, foi avaliado e aprovado por D. João VI. Sendo assim, ao contrário do que muitos imaginam, a cidade de Niterói, na época com outra denominação, foi a primeira a ser projetada por um especialista, e não Brasília.

Por Thaís Dias em O Fluminense, 26 de março de 2007








Publicado em 17/05/2023

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