Construída em meados do século XVII e demolida no início dos anos 1950, a antiga igreja de Nossa Senhora das Necessidades, depois de Nossa Senhora do Rosário e São Benedicto, era localizada no outeiro que hoje, parcialmente arrasado para o prolongamento das ruas Álvares de Azevedo e Roberto Silveira, abriga o Santuário das Almas, em Icaraí. O acesso à igrejinha se dava por uma ladeira que começava na Travessa do Rosário, hoje rua Castilhos França, e subia suavemente entre capinzais.

História

Ao deixar Lisboa em meados do século XVII, o Brigadeiro Coronel Balthazar J. de Abreu Cardoso fez um voto de que, "se chegasse com felicidade ao Brasil", edificaria um templo em devoção à Nossa Senhora dos Necessitados, cuja imagem trazia consigo.

Sendo feliz na travessia do Atlântico, em 1656 comprou no hoje bairro niteroiense de Icaraí um outeiro localizado na faixa sudeste do areal, e ali cumpriu a promessa, construindo a ermida de Nossa Senhora das Necessidades. O brigadeiro desejava construir também no bairro de Portugal Pequeno, um Palácio igual ao das Necessidades, que é o Palácio do Governo de Portugal, mas a morte o surpreendeu antes de poder realizar ainda esse desejo.

Arruinada a pioneira ermida de São João de Carahy (popularmente conhecida por ermida da Pedra), no morro da Pedra ou Cruzeiro, sua pia batismal foi transferida para a ermida de Nossa Senhora das Necessidades, e por alvará de 18 de janeiro de 1696, a dita ermida passou a servir de paróquia (de São João de Icarahy), sendo seu primeiro pároco o Padre Miguel Luiz Freire, que tomou posse em 18 de março de 1697.

"Mas sendo essa mesma casa de extensão acanhada para uso da paróquia, foi pelo povo (a Irmandade de Pretos, nova mantenedora do templo) acrescentada com a nova capela mor, cujas paredes laterais principiaram a construir-se antes do mês de novembro de 1726. E lançada solenemente a 1ª pedra chamada fundamental no dia 10 de novembro de 1743, se concluiu a obra no ano seguinte, em que, mudada com a imagem do Santo Padroeiro e a pia batismal, principiou a igreja a ter uso das funções sagradas pela celebração do Santo Sacrifício no dia 28 de dezembro. Compreendendo de então o novo templo paroquial 73 palmos (cerca de 16m) de comprimento desde a porta principal até o arco cruzeiro, 24 de largura (5,3m), e dali, ao fundo da capela mor, 35 palmos (7,7m) de comprido, e 24 de largo, acomodou nesse espaço cinco altares, contando com o maior" (Pizarro e Araújo, via ‘Niterói Cidade Sorriso’, de Carlos Wehrs)."

No ano de 1819, com a criação da Vila Real da Praia Grande, ocorreu a mudança da paróquia de São João de Icarahy para a de São João Baptista da Praia Grande, na Igreja de N. S. da Conceição. A partir daí, a Irmandade de Pretos se reorganizou sob a invocação de Nossa Senhora do Rosário e São Benedicto. A igreja de Nossa Senhora das Necessidade, que ficou pertencendo à província, foi, em virtude de uma lei provincial de 1849, entregue à essa nova instituição.

Em 1856, a imagem de Nossa Senhora dos Necessitados foi transferida para a nova paroquia de São João Baptista, no largo São João, onde permaneceu por 76 anos. A transferência acarretou na decadência da antiga capelinha, mas com o auxílio do governo provincial e esforços de particulares, em 1885, foram iniciadas as obras de recuperação.

Retorno da Imagem de N. S. dos Necessitados

Por iniciativa do padre Horácio Raymundo de Moraes, capelão da Igreja do Rosário e São Benedicto, em 1932, a Irmandade, em súplica dirigida ao sr. bispo diocesano, D. José Pereira Alves, pediu e obteve o retorno da imagem de Nossa Senhora dos Necessitados para sua antiga morada em Icaraí, sendo a trasladação feita solenemente em 11 de Setembro do citado ano. A cerimônia foi presidida pelo então núncio apostólico D. Aloisi Masella.

A imagem seguiu em procissão percorrendo o seguinte itinerário: ruas São Pedro, Barão do Amazonas, Conceição, Dr. Celestino, Marques do Paraná, Paulo César e Travessa do Rosário. Do cortejo participaram todas as associações religiosas da cidade e as bandas de música Lusitana e do Colégio Salesianos, exibindo-se também o conjunto de guitarristas uruguaio do professor Rodolpho Prando. A imagem de N. S. dos Necessitados foi depositada no recém erguido Altar Votivo da Colônia Portuguesa, em das laterais da igreja.

No dia 26 de junho de 1949, pelo Decreto Episcopal de Dom João da Matha Andrade e Amaral, a Capela de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito de Icaraí, tornou-se Paróquia e a primeira Missa Solene foi celebrada por Dom João da Matha Andrade e Amaral, Monsenhor João de Barros Uchoa, e pelo Pe. Sylvio de Azevedo Marinho, Provedor da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito.

Em 17 de agosto de 1952, foi lançada a pedra fundamental do novo templo Santuário das Almas, e durante 14 anos fiéis trabalharam intensamente para a sua construção.





Transladação da imagem de N.S. dos Necessitados, Diário da Noite, 12/09/32

Ontem, Niterói assistiu a um espetáculo de grande imponência: a trasladação da sagrada imagem de N. S. dos Necessitados da Catedral para igreja de Nossa Senhora do Rosário e São Benedicto, onde grandes festejos foram preparados.

Deveu-se essa iniciativa, primeiramente, ao Revmo. Padre Horácio Raymundo de Moraes, então capelão dessa igreja e à laboriosa colônia portuguesa da cidade que jamais deixou de amparar essa ideia.

A comissão central de festas, cuja presidência foi entregue a Roberto Nogueira da Silva, presidente da Beneficência Portuguesa, constituiu-se, além dos dois nomes já citados, ainda dos senhores João de Freitas Lomelino, Manoel de Azevedo Falcão, José Ricardo da Silva e Manoel Moreira de Carvalho.

Na época de sua demolição, as únicas relíquias existentes da velha ermida que passou por várias transformações, eram a Venerável Imagem de N. S. dos Necessitados e dois espelhos que, segundo se diz, foram trazidos por uma dama da corte como presente pela proclamação da Lei Áurea, dando liberdade aos escravos, em nome da Rainha Isabel.



Fonte: Jornais e revistas da época; "Niterói: A História de um lugar" (1984), de Carlos Wehrs; "O Município de Niterói" (1941), de José Mattoso Maia Forte.








Publicado em 21/12/2022

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