Área: 0,71 km2
População: 16592 habitantes (IBGE 2000)
O bairro do Ingá tem como limites o Centro, Icaraí, Boa Viagem, Morro do Estado e São Domingos, além das águas da Baía de Guanabara.
A área pertencia à Sesmaria dos Índios, mas os portugueses e seus descendentes nela se estabeleceram. Este processo, apesar das semelhanças, distingue-se do restante do município por algumas questões que lhe são próprias.
O Ingá é cercado de morros, formando um vale que se abre em direção ao mar, onde está a praia das Flechas. Originariamente, os morros eram cobertos de vegetação, com nascentes e córregos. Perto do litoral existiam charcos. Esses morros isolavam o Ingá dos outros pontos de Niterói, à exceção de São Domingos.
A ocupação e a urbanização do Ingá se fez inicialmente como um prolongamento de São Domingos. A partir do largo, acompanhando o sopé dos morros, caminhos se fizeram, em direção às fontes*1, chegando até a praia. Eram dois os caminhos que originaram as principais ruas do bairro: o do Ingá (Tiradentes) e o da Fonte (Presidente Pedreira). Esses caminhos, que atravessavam o Ingá no sentido Oeste-Leste, continuavam, em até Icaraí — o do Ingá, que subia o morro que o separa de Icaraí, onde hoje está a rua Fagundes Varela; e o outro — o da Fonte — que dobrava na altura da atual rua Nilo Peçanha. Os dois caminhos se interligavam por uma passagem onde foi aberta a rua Lara Vilela.
Ao longo desses dois caminhos, reconhecidos como ruas inclusive com seus nomes iniciais no Plano de Urbanização do século XIX, de 1840, o fracionamento das propriedades (desmembramentos por herdeiros, loteamentos, etc.) vai se dando ao longo do tempo, inclusive com o aparecimento de novas ruas.
Com a escolha de Niterói como capital da Província do Rio de Janeiro, o Governo provincial foi estabelecido no largo de São Domingos, no Palacete*2 , e logo transferido para a rua da Fonte/Presidente Pedreira. Abrigar os presidentes, de Província e de Estado, e depois os governadores (de Estado), foi fato marcante não só para a intensificação da ocupação e urbanização do bairro*3, como também para o perfil de seus moradores.
A sede do governo foi chamada de Palácio do Ingá e funcionou, em tempos distintos, em dois locais no bairro. O primeiro numa propriedade do Barão de São Gonçalo, onde hoje funciona o Colégio Estadual Aurelino Leal e que foi sede do Governo até a transferência da capital para Petrópolis (1894). O segundo, quando a capital retornou a Niterói (início do século XX), numa propriedade que foi adquirida de um rico industrial português, permanecendo como sede do Governo estadual até a fusão dos Estados do Rio e Guanabara, quando Niterói deixou de ser capital.
No Ingá foram construídas belas e grandiosas residências desde o séc. XIX, residências que abrigavam figuras importantes*4 da cidade e da Província/Estado, atraídas pelas condições do local: tranqüilidade, fontes, praia e, principalmente, por sediar o governo provincial e estadual.
A medida que esta ocupação se intensifica, novas ruas são traçadas, a praça e a igreja são construídas e o bairro assume um perfil independente de São Domingos. Em contraposição, os morros são cortados, desmatados e desaparecem as fontes de água.
Mais ruas são abertas interligando o Ingá diretamente com outros bairros. Para a construção destas foi preciso realizar grandes obras em períodos diferenciados, todas representando cortes nos morros que circundam o bairro: são as ruas Visconde Morais, Fagundes Varela, São Sebastião e João Caetano.
A mais significativa dessas obras foi a ligação pelo litoral entre o Ingá e Icaraí, pelas modificações drásticas que acarretou na paisagem natural: "Entre o Ingá e Icaraí não havia passagem porque se interpunha o morro que descambava no mar e onde escavaram as águas uma gruta de rara beleza, dando comunicação por um túnel natural, sobre um chão de seixos, daí o nome Itapuca" (5) (Wers, p.184.1984). Tudo isso foi dinamitado em meados do século passado, restando hoje as pedras do Índio e de Itapuca — também muito bonitas, mas parte apenas do que lá já existiu. O material produzido pelo desmonte da Itapuca original foi utilizado para construção da muralha do cais e aterro respectivo, reduzindo sensivelmente a praia das Flechas.
A construção da praça e da igreja marcaram ainda mais a identidade do bairro. Em meados do séc. XIX, num terreno doado por um morador, foi demarcada a praça, que teve o seu ajardinamento concluído por volta de 1876, como testemunham suas centenárias árvores. A praça passou por várias reformas até os dias atuais. A Igreja de Nossa Senhora das Dores do Ingá foi inaugurada precariamente em 1885, passando posteriormente por obras e ampliações.
Em terreno próximo ao Palácio do Ingá, em 1912, foi criada a primeira Escola de Ensino Superior de Niterói, a Faculdade de Direito Teixeira de Freitas (hoje pertencente a UFF).
Outros estabelecimentos educacionais também se instalaram no bairro:
- A seção feminina do Colégio Bittencourt Silva. Mais tarde no seu prédio (com a construção de um anexo) foi instalada a Faculdade de Economia.
- A Escola Normal, depois Escola Profissional Fluminense Aurelino Leal, no prédio que abrigou o primeiro Palácio do Ingá. Neste prédio, à noite, funcionaram até 1966 diversos cursos da antiga Faculdade de Filosofia, inclusive os de História, de Geografia e de Ciências Sociais.
- O Colégio Batista e o Colégio Marília Matoso.
- A Escola de Serviço Social, que funcionou, por um tempo, em um prédio da esquina da rua Pereira Nunes.
A fusão dos Estados do Rio de Janeiro e da Guanabara, com a transferência da capital para o Rio de Janeiro, a construção da Ponte Rio-Niterói e o boom imobiliário da década de 70 — são os principais geradores da atual feição do Ingá.
*1 - A existência de fontes de água é um fato marcante no Ingá. A afluência de pessoas era tão grande, com seus vasilhames, barris e carroças, que chegavam a obstruir a passagem dos que iam em direção à praia.
*2 - A propriedade da família imperial.
*3 - Previa-se a abertura de novas ruas no bairro, como por exemplo a que uniria as ruas do Ingá e da Fonte, em direção ao mar.
*4 - São grandes comerciantes, industriais, fazendeiros, médicos, advogados (Juízes, desembargadores), políticos e "altos funcionários". Marcante também era a presença de filhos de famílias ilustres do interior do Estado que aqui vinham para aperfeiçoar seus estudos.
*5 - Termo de origem indígena, que significa pedra furada, solapada.
Fonte: Niterói-Bairros - Secretaria Municipal de Desenvolvimento, Ciência e Tecnologia de Niterói - 1991
ÍNDICE DOS BAIRROS DE NITERÓI
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